2º encontro da Compaps alerta para as pessoas em situação de rua na pandemia de Covid-19

Mariella de Oliveira-Costa 11 de março de 2022


“O cuidado em saúde precisa colocar a pessoa no centro da história. Procedimentos e técnicas são importantes, mas o acolhimento, a escuta das pessoas e a desmistificação de preconceitos devem pautar quem atende a população em situação de rua. Cada pessoa tem seus interesses, desejos e vontades e isso deve ser respeitado.” Esta foi parte da fala do nutricionista Gustavo Machado Felinto, convidado do 2º Encontro Nacional da Comunidade de Práticas APS e População em Situação de Rua no Contexto da Covid- 19 (ComPAPS), nesta quinta-feira, 10 de março.

 

O especialista trabalha na coordenação de território do Programa Médico de Família da Fundação Estatal de Saúde de Niterói (RJ), e apresentou um panorama sobre a vigilância em saúde no contexto da pandemia. Apesar de estar muito associada à vigilância epidemiológica para gestão (números de casos e óbitos, por exemplo), a área é um campo amplo de conhecimentos e práticas que abrange também vigilância comunitária, vigilância ambiental e da saúde do trabalhador. Felinto enfatizou que é necessário melhorar a capacidade de se referenciar a população de rua para os serviços da rede de saúde, considerando a rede de vida que essas pessoas produzem, e sem manter a relação de um Estado que se apresenta a elas sempre como recusa e negação. “Ainda que a população de rua saiba seus direitos, tem medo do exercício desses direitos. O serviço de saúde deveria acolher essa população em vez de barrá-la”, alertou.

 

Em sua fala, ele também chamou a atenção para o subfinanciamento crônico da saúde, que torna impossível melhorar a qualificação da assistência. O pacto federativo é algo que dificulta a gestão em alguns casos, segundo ele, dada a quantidade de critérios específicos para se receber o financiamento federal, e nem sempre as ofertas atendem àquilo que o gestor municipal demanda e necessita implementar em seu município.

 

A atividade contou também com a participação da enfermeira Fabiana Baraldo Gomes Antunes, que trouxe experiências de acompanhamento da população de rua no contexto da Covid -19 no Rio de Janeiro. Ela descreveu como as equipes organizaram protocolos para manutenção do atendimento nos territórios, que incluíram paramentar profissionais de saúde com equipamento de proteção individual completo e treinar os motoristas para fazer a desinfecção dos carros entre um atendimento e outro, no caso da necessidade de levar às unidades de saúde os pacientes encontrados nas ruas com síndromes gripais mais graves, por exemplo.

 

Máscaras, sabonete, água, álcool em gel, cestas básicas e marmitas doadas pela sociedade civil organizada foram distribuídos nas praças e em locais abertos, onde os profissionais também orientaram as pessoas quanto aos cuidados para minimizar a possibilidade de transmissão em meio às rotinas da rua, com a organização dos colchões distanciados uns dos outros na hora de dormir e o não compartilhamento dos mesmos copos e materiais. “Com a vacinação, criamos planilhas contendo os nomes dos pacientes a cada dose recebida, para facilitar a busca ativa e o monitoramento. Criamos também grupos de WhatsApp e checávamos por meio de tablet conectado à internet onde as pessoas se vacinaram e com qual vacina. A campanha de vacinação tem sido muito difícil, pois para essa população as possíveis reações do organismo após as vacinas dificultaram a adesão a outras doses. As equipes foram instruídas a trabalhar com o convencimento da população e distribuição de medicação para dor e febre, reações previstas após a vacinação”, disse.

 

O 2º Encontro Nacional da ComPAPS foi realizado online e contou com a participação de profissionais de saúde de diferentes estados brasileiros, que puderam tirar dúvidas com os palestrantes.

 

Conheça a ComPAPS e outras Comunidades de Práticas no IdeiaSUS: www.ideiasus.fiocruz.br. Esta é uma iniciativa do Sistema Único de Saúde (SUS). 

 

Clique aqui para acessar a gravação da atividade.