O que te provoca para mudar o mundo?

Fernando Pinto 23 de agosto de 2024


O que te provoca para mudar o mundo?

 

Essa pergunta foi direcionada a um grupo de 208 estudantes de ensino médio de diversos estados do Brasil, que se reuniram entre os dias 19 e 21 de agosto, no Rio de Janeiro, para a 1ª Jornada Nacional da Rede de Iniciação Científica do Programa de Vocação Científica (Provoc).

 

Da Fiocruz Brasília, participaram 13 estudantes de escolas públicas do Distrito Federal (DF). O encontro ocorreu na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) da Fiocruz e marcou um importante avanço no intercâmbio científico entre estudantes de toda a rede Provoc da Fundação. A jornada contou com a presença de especialistas que debateram o cenário atual das políticas públicas voltadas para a juventude. Na ocasião, também foi lançado o novo site do Observatório Juventude, Ciência & Tecnologia.

 

Na abertura do evento, estiveram presentes a coordenadora de Divulgação Científica da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz), Cristina Araripe; a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio; a diretora da EPSJV/Fiocruz, Anamaria Corbo; e a diretora de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica da Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Juana Nunes. Também participaram representantes do CNPq e especialistas em juventude, como a socióloga Helena Abramo e o pesquisador Adriano de Oliveira, da Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis/SC.

 

Para a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, a Jornada representa um marco tanto para a Fundação quanto para a vida dos jovens estudantes que participam do Provoc. O Programa transforma a trajetória de seus participantes e dos pesquisadores que atuam no projeto. “O Provoc é reconhecido por proporcionar aos jovens estudantes a experiência do dia a dia de trabalho em nossas unidades de pesquisa. Esses momentos são passos iniciais e significativos que criam condições e oportunidades justas para que os jovens possam trilhar a caminhada científica”, destacou Damásio, ao lembrar que muitos pesquisadores da Fundação iniciaram suas carreiras na ciência como bolsistas de iniciação científica.

 

Segundo a coordenadora regional do Provoc na Fiocruz Brasília, Tatiana Novais, a Jornada foi um encontro com o desconhecido, com o novo e, sobretudo, com a própria capacidade de criar e transformar o mundo. “Apresentar suas pesquisas e conhecer as inovações de outros jovens de diversas regiões do Brasil gera um forte sentimento de pertencimento e valorização”, enfatizou a professora, ressaltando que tudo isso foi possível graças aos programas e ações da Fiocruz voltados para as juventudes.

 

Tatiana também destacou que a experiência de iniciar na pesquisa científica antes mesmo de ingressar na universidade amplia os horizontes e comprova que o conhecimento é um agente transformador. “Desejamos que todos os jovens brasileiros tenham acesso a essa vivência por meio de políticas públicas amplas e inclusivas, que lhes permitam transformar suas realidades e melhorar a vida das pessoas”, completou.

 

Nesse sentido, o representante da assessoria pedagógica da Escola de Governo Fiocruz-Brasília, Douglas Fernandes, que acompanhou os jovens na viagem ao Rio, enfatizou que a Jornada não se restringiu ao âmbito estritamente científico, mas envolveu descobertas e crescimento pessoal. A partir de seu trabalho na Regional Centro-Oeste da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (Obsma), Douglas ressaltou que, quando os jovens têm espaço para explorar suas vocações, descobrem o poder de transformar o mundo coletivamente. “É essencial criar estratégias educacionais e políticas públicas que garantam a continuidade de iniciativas como o Provoc e a Obsma, que inspiram a juventude e abrem portas para um futuro repleto de possibilidades”, afirmou.

 

Protagonistas da própria história na iniciação científica

Na tarde de terça-feira (20/8), os jovens se concentraram nas Tendas da Escola Politécnica para apresentar seus trabalhos de pesquisa em formato de pôsteres, com os resultados dos estudos desenvolvidos no âmbito do Provoc. Diálogo, troca de ideias, novas perspectivas, aprendizado e experiências foram alguns dos sentimentos compartilhados pelos bolsistas durante as apresentações.

 

A estudante Isabelle Cesar exibia entusiasmo no pavilhão de exposição da rede Provoc. Autora do trabalho “Exploração da Interseção entre Ciência e Arte”, a jovem pesquisadora de 17 anos abordou em sua estudo a relação entre saúde e teatro, explorando como esses campos se interconectam para tornar a divulgação científica mais eficaz e acessível. “Obras que tratam a ciência de forma lúdica sempre me encantaram. Sempre gostei de artes, e poder alinhar essa paixão com meu trabalho no Provoc foi uma realização”, afirmou a estudante do 3º ano do ensino médio do CEAN (Centro de Ensino Médio da Asa Norte), que tem o desejo de cursar Letras para seguir sua trajetória na divulgação científica.

 

Assim como Isabelle, o estudante Arthur Fortunato apresentava seu trabalho com muito entusiasmo. “O Provoc me deu voz”, assim ele começava cada uma de suas  apresentações. O bolsista desenvolveu uma pesquisa sobre a síndrome de Williams-Beuren, uma doença genética rara que causa alterações no cromossomo 7. A síndrome é uma doença caracterizada por nariz pequeno e empinado, cabelos encaracolados, lábios cheios, dentes pequenos e sorriso frequente. O resultado de seu estudo foi uma revista em quadrinhos intitulada “Arthur Simpatia e o Mundo Mágico da Síndrome de Williams”. Portador da síndrome, o estudante compartilhou sua vivência de forma encantadora, convidando todos a mergulharem em seu mundo mágico: “Imaginem um mundo onde cada pessoa é como uma estrela brilhante, única e especial. Neste universo encantado, existe uma condição mágica. Vamos explorar e conhecer juntos?”.

 

Helena Borges, estudante do 3º ano no Centro de Ensino Médio Paulo Freire (Asa Norte/DF), relatou seu primeiro contato com o Provoc. “Fiquei sabendo do Programa pela minha professora de biologia, após apresentar um trabalho sobre a relação entre olfato e paladar. Meu interesse pela pesquisa científica fez com que ela me falasse sobre o processo seletivo para o Provoc. O programa me impulsiona a querer me aprofundar cada vez mais no mundo da ciência, despertando minha curiosidade. O Provoc me motiva a correr atrás dos meus sonhos e me proporciona a oportunidade de aprofundar meus estudos junto a pesquisadores incríveis que me incentivam a querer ser uma médica cientista”, contou a estudante de 17 anos, que sonha em cursar Medicina.

 

O jovem Ismael Oliveira, de 17 anos, também compartilhou sua experiência no Provoc. “Foi algo inesperado, mas quando aconteceu, mudou toda a minha vida. Minha forma de pensar, meu psicológico e minha mentalidade sobre diversas áreas e sobre o universo da pesquisa científica mudaram muito após ingressar no Provoc”, enfatizou, lembrando que na Fiocruz Brasília aprendeu que saúde vai muito além do consultório médico. Saúde está presente em programas sociais e na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, além do campo da pesquisa. “O Provoc foi essencial para que eu pudesse conhecer o mundo da pesquisa e, após essa viagem ao Rio de Janeiro, minha visão e compreensão sobre fazer ciência se ampliaram ainda mais, com todas as conexões e trocas de experiências que fiz aqui”, relatou o estudante, que está no último ano do ensino médio no CEAN e sonha com uma carreira diplomática.

 

A estudante Joice Kelly Cordeiro considerou sua entrada no Provoc um divisor de águas. “Quando ingressei no Programa, tinha acabado de chegar a Brasília, apenas um mês após me mudar com meu pai. Saímos de Cururupu, no Maranhão, em busca de novas oportunidades”, compartilhou Joice. Segundo a jovem, foi no Provoc que começou a socializar com outras pessoas. “Antes, éramos apenas meu pai e eu na capital federal. O Provoc é um espaço que abre portas para o mundo. Na Fiocruz Brasília, tive a oportunidade de explorar áreas de pesquisa que nem sonhava existirem”, relatou a estudante, oriunda da Comunidade Quilombola Santa Maria dos Pinheiros no Maranhão.

 

Uma manhã no Castelo   

A programação da Jornada continuou na manhã de quarta-feira (21/8) com uma visita guiada pelo Setor Educativo do Museu da Vida Fiocruz ao Castelo Mourisco e às construções históricas ao redor da sede da instituição, no Rio de Janeiro. O brilho nos olhos curiosos dos jovens era evidente ao se aproximarem do Castelo. “Não consigo acreditar que estou pisando no Castelo da Ciência de Oswaldo Cruz”, comentou um estudante, encantado. “Não tenho nem espaço no celular para todas as fotos que vou tirar aqui nesse castelo”, disse – sorridente – outra estudante, que já subia as escadas em direção ao primeiro pavimento do edifício, um patrimônio da história da ciência reconhecido internacionalmente. Construído entre 1905 e 1918, o Castelo da Fiocruz é um símbolo da ciência e da saúde, idealizado por Oswaldo Cruz para ser a sede da Fundação que levaria seu nome. Uma instituição que reúne produção de vacinas, medicamentos, pesquisas científicas em diversas áreas do conhecimento, serviços de referência e uma variedade de outras atividades relacionadas à saúde pública.

 

Programa que transforma

Criado em 1986, o Programa de Vocação Científica (Provoc) é um projeto pioneiro da Fiocruz que tem como objetivo introduzir estudantes do ensino médio no universo da pesquisa científica. A iniciativa, que começou na EPSJV/Fiocruz, expandiu-se em 2022, formando a chamada Rede Provoc Luiz Fernando Ferreira, abrangendo agora nove unidades fora do Rio de Janeiro. O Programa é reconhecido por proporcionar aos jovens a experiência do cotidiano de trabalho de pesquisadores, especialmente nas áreas de saúde. A Rede Provoc é composta por estudantes do Amazonas, Bahia, Brasília, Ceará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí e Rondônia, além do Rio de Janeiro.

 

Confira aqui as fotos da atividade