Gabriel Maia / PSAT
O Instituto Politécnico de Viseu, em Portugal, foi o palco do X Congresso Internacional de Agroecologia (XCIA), realizado entre os dias 4 e 6 de setembro de 2024. O evento, que atraiu cerca de 400 especialistas, focou na promoção de sistemas alimentares sustentáveis, abordando temas como práticas agroecológicas, políticas públicas e alterações climáticas. O congresso teve como compromisso a partilha de conhecimentos e experiências que possam impulsionar a transição para sistemas alimentares mais equitativos e resilientes.
Entre os expositores do XCIA, estiveram cincos pesquisadores do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT), vinculado à Fiocruz Brasília. Na ocasião, foram apresentados sete relatos de experiência que destacaram o papel da agroecologia na promoção da saúde e do fortalecimento de territórios saudáveis e sustentáveis no Brasil.
Relatos de experiência: fortalecendo a agroecologia na saúde
Os relatos apresentados pelos pesquisadores do PSAT no congresso sublinharam a intersecção entre saúde, ambiente e trabalho, abordando desafios globais como as crises ambientais e as sindemias – interação de duas ou mais doenças em um contexto social e econômico, nocivo à saúde pública. Um dos projetos destacados foi a parceria entre o PSAT e a Escola de Governo Fiocruz Brasília (EGF-Brasília) com o “Projeto Nacional Plantar Árvores”, promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e que visa o plantio de 100 milhões de árvores em dez anos.
Exposto por André Luiz Dutra Fenner, este projeto não só promove a agroecologia, mas também contribui significativamente para a sustentabilidade ambiental e social do Brasil, baseando-se na pedagogia de Paulo Freire e na educação popular com práticas agroecológicas para enfrentar as crises sanitárias e ambientais.
A pesquisadora Fátima Cristina Maia apresentou um relato de experiências do Projeto Promoção de Território Saudável e Sustentável (TSS), realizado, entre 2018 e 2022, com comunidades tradicionais de pesca artesanal, coordenado pelo PSAT/Fiocruz Brasília. O projeto, que utilizou métodos como pesquisa-ação, observação participante e cartografia social, destacou a importância da agroecologia para a promoção da saúde integral e soberania alimentar, além de ressaltar o papel das pescadoras artesanais e a necessidade de políticas públicas voltadas para essa população.
Já a pesquisadora Virginia da Silva Correa apresentou as experiências das mestrandas em Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho da Fiocruz Brasília e Pernambuco, que destacaram a importância da agroecologia e do resgate dos saberes ancestrais para a promoção da saúde e soberania alimentar.
Com início em 2020 e conclusão em 2023, o mestrado, baseado em metodologias como a pedagogia da alternância, resultou em projetos que evidenciaram a relevância da produção agroecológica e da educação popular para enfrentar desafios, como a fome, a degradação ambiental e a desigualdade social, especialmente durante a pandemia de covid-19.
Correa também apresentou o trabalho “Mulheres Criando e Recriando a Vida e Plantando Saúde”, uma formação-ação realizada entre 2021 e 2022 em seis estados brasileiros, que capacitou 300 mulheres, incluindo agricultoras familiares, indígenas, quilombolas e pescadoras artesanais. O curso abordou temas como saúde e direitos humanos, autogestão e geração de renda, com a agroecologia como elemento central para a promoção da saúde.
A iniciativa incluiu a Feira de Saberes e Sabores, na qual as participantes compartilharam produções artísticas, artesanais e alimentares, fortalecendo a autonomia, solidariedade e organização coletiva, destacando o empoderamento feminino na construção de comunidades mais resilientes e sustentáveis.
Dando continuidade às apresentações, Gislei Siqueira Knierim compartilhou o relato “Povo Cuidando do Povo: Agentes Populares de Saúde do Campo com ênfase em Agroecologia”, destacando uma iniciativa que capacitou comunidades rurais nos estados: Ceará, São Paulo, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, durante e após a pandemia de covid-19.
Desenvolvido pelo PSAT/Fiocruz Brasília em parceria com o MST, o projeto integra a agroecologia como uma estratégia essencial para a produção de alimentos saudáveis e o cuidado com o território, visando à construção de territórios saudáveis, sustentáveis e solidários. A formação dos Agentes Populares de Saúde do Campo, iniciada de forma híbrida no Ceará, expandiu-se para outros estados em 2024, promovendo a agroecologia como ferramenta de transformação social e política, baseada na autogestão e na organização coletiva, em resposta aos desequilíbrios provocados pelo desenvolvimento capitalista.
Dando continuidade às apresentações, Francilene Menezes dos Santos encerrou com o relato sobre o “Empoderamento de Mulheres Boleiras do Assentamento Normandia, Área de Reforma Agrária no Semiárido Nordestino Brasileiro”. Ela destacou como o assentamento de Normandia se tornou um símbolo de luta e resistência no estado de Pernambuco, onde mulheres, oriundas de trabalhos precários no setor têxtil, transformaram suas vidas por meio da produção agroecológica de alimentos, como pães e bolos. O projeto promoveu um diálogo significativo sobre gênero e saúde, reforçando a agroecologia como uma ferramenta de empoderamento feminino e segurança alimentar. A vida no assentamento garantiu a autonomia e soberania alimentar das famílias, culminando na produção de um guia para comercialização de produtos agroecológicos. Francilene agradeceu a todas as participantes e reforçou que sem feminismo não há agroecologia, destacando a importância da experiência na luta pela soberania alimentar e na transição agroecológica.
As experiências apresentadas, demonstram a agroecologia como uma importante ferramenta para enfrentar as crises globais, contribuindo para a construção de um futuro mais justo e sustentável e reafirma o compromisso da Fiocruz Brasília em promover práticas sustentáveis que integrem saúde, ambiente e trabalho.
Sobre o PSAT
O Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT) é uma iniciativa da Fiocruz Brasília que busca integrar saúde, ambiente e trabalho por meio de práticas transdisciplinares. O programa foca na promoção da qualidade de vida e na redução das desigualdades sociais, com uma forte ênfase em práticas agroecológicas. Desde sua criação, o PSAT tem sido um catalisador para projetos que envolvem as populações do campo, da floresta e das águas, sempre com uma abordagem que valoriza a educação popular e a sustentabilidade.
Conheça os pesquisadores
André Luiz Dutra Fenner é doutor em Desenvolvimento e Políticas Públicas pela Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador em Saúde Pública na Fiocruz Brasília. Fenner tem uma trajetória marcada por sua atuação em políticas públicas e desenvolvimento sustentável.
Fátima Cristina Cunha Maia Silva é doutora em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, é uma das principais pesquisadoras do PSAT, com foco em vigilância em saúde e movimentos sociais.
Francilene Menezes dos Santos é graduada pela Universidade de Pernambuco e coordena a Residência Multiprofissional em Saúde do Campo, com ênfase nas Populações do Campo, da Floresta e das Águas. Sua atuação é central na educação e saúde para comunidades rurais.
Gislei Siqueira Knierim é doutora em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial, desenvolve projetos de formação na área de saúde e vigilância popular, com uma atuação forte junto aos Movimentos Sociais do Campo, da Floresta e das Águas.
Virginia da Silva Correa é mestre em Políticas Públicas em Saúde e pesquisadora do PSAT, com foco em políticas públicas, saúde e sustentabilidade, especialmente em populações rurais e indígenas.
Veja, abaixo, a galeria de imagens do evento.