Durante a 21ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), o grupo teatral Fábula realizou, de 14 a 18 de outubro, na Fiocruz Brasília, uma peça de nome “Chapeuzinho e o lobo Cerradinho”, releitura do clássico infantil sobre a importância de proteção à biodiversidade do bioma Cerrado. Com essa obra, o grupo trouxe à tona mais uma eficiente modalidade que pode ligar as crianças e os adolescente à ciência, desafiando a ideia de que apenas as estratégias digitais seriam eficientes para alcançar os atuais objetivos da educação em ciências. Diante disso, as impressões a respeito da peça não deixaram margens de dúvida quanto à capacidade de grupos e instituições produzirem divulgação científica de modo acessível e divertido, enquanto aproximam essa parcela da população dos saberes da ciência, instigando, conscientizando, educando e surpreendendo as presentes gerações a partir de elementos como tema bem trabalhado, personagens cativantes e músicas ‘chiclete’ – aquelas que o público logo se identifica e sai do teatro cantando (o título da resenha, inclusive, é um verso da trilha sonora do espetáculo!).
Embora a temática do meio ambiente esteja em alta em função das catástrofes ambientais que assolam o país e o mundo, a forma como ela tem sido abordada na mídia costuma ser desinteressante e não chamar a atenção de crianças e adolescentes. Nesse sentido, a peça fugiu dos bordões com frases superficiais como “cuide do meio ambiente”, que são frequentemente repetidas em publicações das redes sociais, mas não convidam para a ação. Em vez de abordar o bioma com várias informações e curiosidade soltas e distantes do público, a narrativa do teatro construiu um verdadeiro ‘ecossistema’, lançando um olhar de proximidade e conscientização sobre o Cerrado – casa da Chapeuzinho, do lobo guará e de toda a plateia. A falta de zelo com o meio ambiente não é apresentada por meio de dados complexos e abstratos: a peça faz mergulhar nos perigos do desmatamento pela perspectiva dos personagens, fazendo o público vivenciar os prejuízos sofridos pelos animais.
Por falar nos personagens, nada mais justo do que destacar os responsáveis por fornecer essa plataforma de conexão entre o público e o Cerrado. Os personagens se relacionam com os espectadores de forma intimista, o que proporciona grande empatia com o tema. Como consequência da personalidade brincalhona e alegre de Chapeuzinho, do modo atencioso, porém ingênuo, do caçador ou do jeito carinhoso e assustado do lobo Cerradinho, a peça captura os sentimentos da plateia, que se mobiliza a favor da pauta ambiental. Portanto, os personagens, além de cativantes, conseguem contemplar os diferentes anseios e pontos de vista do público, fazendo-o refletir até sobre seus preconceitos.
As músicas embasam os demais elementos do espetáculo, dando suporte brilhante ao modo pelo qual a peça apresenta as soluções no sentido de um ambiente mais saudável e sustentável. Enquanto os personagens são os agentes da mudança, as músicas servem como um passo a passo que indica o motivo por que cada ferramenta deve ser usada e a lógica por trás dela. Quando não voltadas a explicar e orientar o uso das boas práticas ambientais, as canções transmitem as angústias, vivências ou pontos de vista dos personagens, servindo como item valioso na composição teatral e no enriquecimento da experiência como um todo.
Enfim, todos esses elementos levam a concluir que investir na união entre ciência e teatro é uma forma rica de contribuir para a divulgação científica. Cientistas, divulgadores de ciência, educadores e público em geral podem se beneficiar do amplo alcance que essa união proporciona. Para os diferentes públicos, além de lazer de qualidade, o teatro possibilita que se apropriem de forma lúdica e descontraída de conhecimentos essenciais para promover o bem-estar e a saúde em seu sentido mais ampliado.
Resenha produzida pelo estudante Júlio César Silva de Azevedo, aluno do 3º ano do Centro de Ensino Médio Setor Oeste e integrante do Programa de Vocação Científica (Provoc) da Fiocruz Brasília