Iniciativa da Fiocruz é destaque na abertura da Feira do Conhecimento

Mariella de Oliveira-Costa 9 de dezembro de 2020


É possível usar dados e tecnologia para melhorar a nossa saúde. Em um mundo digitalizado, há um crescimento vertiginoso da quantidade de dados gerados e disponíveis a todo momento, e o desafio de usar esses dados existentes para produzir conhecimento que possibilite tomar decisões em saúde. A Fiocruz, por meio do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para a Saúde (Cidacs), vem há quatro anos agregando pesquisadores e instituições com diferentes bancos de dados que possam responder a questões complexas.

 

Durante a abertura da Feira do Conhecimento, nesta quarta-feira (9/12) pela manhã, o pesquisador da Fiocruz Bahia e coordenador do Cidacs, Maurício Barreto, apresentou uma série de pesquisas em desenvolvimento no Centro, a partir da primeira experiência, com a Coorte de 100 milhões – esta agrega dados de fontes do governo federal, como o Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família, e fontes de dados epidemiológicos que têm permitido estudar diferentes dimensões de saúde da população brasileira, desde o baixo peso ao nascer até o papel que um programa específico de transferência de renda tem no tratamento das pessoas com hanseníase ou na incidência dessa doença na população. Segundo Barreto, o cruzamento de dados possibilitou que os pesquisadores observassem como só o fato de estar no programa aumentava a adesão das pessoas ao tratamento e diminuía a incidência de doenças como hanseníase e tuberculose, comprovando o fator econômico na melhoria da saúde.

 

Outro banco de dados em estudo no Cidacs é sobre os nascimentos no Brasil, e possui mais de 20 milhões de dados. Ele já possibilitou compreender, por exemplo, os efeitos da cesariana para a saúde da criança e sua sobrevivência. Hoje no país mais de 50% dos partos brasileiros são pela via cesariana, e as análises mostraram que, quando mal indicada, essa cirurgia aumenta o risco de morte da criança.

 

Atualmente está em curso uma série de outros estudos, como uma integração de dados no Cidacs para avaliar os efeitos de um grupo de medicamentos biológicos para o SUS; uma aplicação que envolve dados relacionados à síndrome congênita da zika e seus efeitos para crianças e famílias; e um projeto para utilizar dados de modo a qualificar o trabalho de agentes comunitários de saúde. Sobre este último, o coordenador vislumbra a possibilidade de, no futuro, esses profissionais de saúde trabalharem com tablets e se comunicarem dinamicamente com uma central de dados, permitindo orientar seu trabalho em cada casa com base naquele momento e contexto, e gerando respostas em tempo real para o agente e sua comunidade, com uso mais racional e rico das informações que já estão disponíveis sobre aquela população.

 

“Não há possibilidade de construção de um mundo mais fraterno sem a dimensão das desigualdades ser amenizada. Na pandemia da Covid-19, essa questão mostrou sua face de forma aguda”, disse. A Feira do Conhecimento marca o lançamento do Indicador Brasileiro de Privação (IBP), desenvolvido pelo Cidacs para auxiliar a revelar a desigualdade existente no país e monitorar as ações para amenizar essa desigualdade, a partir da organização dos dados conforme os setores censitários, de modo a entender cada uma das realidades. “Temos o cuidado e o desafio de transformar os dados existentes em conhecimento útil, mantendo a privacidade e a proteção dos indivíduos, pois o que se gera dos dados vira bem comum, mas não pode colocar em risco a vida privada das pessoas”, afirmou Barreto.

 

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, participou da abertura do evento e agradeceu a oportunidade de compor esta iniciativa com o governo do Ceará, por meio da Feira de Soluções para a Saúde, que, pelo segundo ano consecutivo, integra a programação da Feira do Conhecimento. Segundo ela, um objetivo central é o enfrentamento das desigualdades em nosso país. “O Índice Brasileiro de Privação desenvolvido pelo Cidacs/Fiocruz Bahia nos auxiliará a superar esse desafio histórico, em um tempo difícil, que requer nossa ação institucional firme em defesa do SUS e do sistema nacional de ciência e tecnologia”, disse.  

 

Durante a solenidade, o secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Ceará, Inácio Arruda, ressaltou a parceria da Fiocruz e seu papel no desenvolvimento científico nacional. Segundo ele, a ciência e a tecnologia são instrumentos para sair desta pandemia mais fortes e preparados, e os profissionais da saúde têm papel fundamental.

 

Mais de 70 empresas públicas e privadas vão expor suas inovações na Feira do Conhecimento, de hoje (9/12) até sexta-feira (11/12). A Fiocruz integra a programação do evento com a quarta edição da Feira de Soluções para a Saúde, em formato virtual, com diferentes iniciativas específicas de enfrentamento às crises sanitárias. Clique aqui para acessar a programação completa