Debatedores defendem mais investimentos na Atenção Primária à Saúde

Fernanda Marques 11 de dezembro de 2020


A saúde não deve ser vista como um conjunto de ações separadas em compartimentos, cada uma na sua ‘caixinha’. Para o pesquisador Claudio Maierovitch, coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS/Fiocruz Brasília), se a Atenção Primária à Saúde e a Vigilância em Saúde são bem feitas, você não consegue separá-las, porque são partes de um todo. “Quando a Atenção Primária identifica uma doença transmissível, é preciso encontrar as pessoas que tiveram contato com o paciente e rastrear as situações de exposição, evitando a transmissão e bloqueando a expansão da doença. As doenças têm um sentido que não é só individual, é coletivo. Cuidar dos casos e intervir nas situações de risco é fundamental; por isso, não dá para separar a Atenção Primária da Vigilância”, explicou.

 

Na tarde desta quinta-feira (10/12), Claudio foi um dos participantes da mesa “Integração estratégica da Atenção Primária à Saúde (APS) com as Vigilâncias em Saúde para a segunda onda da Covid-19”, durante a Feira Digital de Soluções para a Saúde da Fiocruz. Segundo Claudio, os primeiros momentos da pandemia revelaram as limitações da Atenção Primária: sem testes para confirmar casos suspeitos e com equipes reduzidas, não era possível estabelecer uma relação mais próxima com as comunidades e atuar sobre os determinantes que influenciam a disseminação da doença. A Atenção Primária não recebeu investimentos para, junto com a Vigilância, promover as ações necessárias e interromper a cadeia de transmissão nos territórios, e ficaram limitadas a uma contabilidade de casos.

 

Na ausência de medicamento e vacina, o foco são as medidas não farmacológicas, como a lavagem da mãos, o uso de álcool em gel e máscara, e o distanciamento social, além do monitoramento dos casos. “Como sistema, não tivemos a capacidade de coordenar os cuidados da população e a reorganização da atividade econômica. As medidas de restrição dos governos foram caóticas, com discursos em contraposição. Atividades eram suspensas e liberadas. Cuidados eram apontados como necessários por uns e como dispensáveis por outros”, afirmou. “A comunicação é muito importante para conter uma epidemia. Se ela é confusa, cada pessoa segue o discurso que diz o que ela quer ouvir”, avaliou.

 

Para Fernando Erik Damasceno, coordenador da Atenção Primária à Saúde (APS) da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF), que também participou da mesa, a pandemia demonstra a necessidade de expandir e qualificar a APS, nos moldes da Estratégia Saúde da Família, que valoriza a conexão com os territórios e a Vigilância. “A APS é o lugar da saúde que melhor enxerga as vulnerabilidades e, junto com a Vigilância, pode intervir para reduzir as desigualdades, porque conhece a dinâmica do território”, destacou. “É preciso ter dados qualificados, colocá-los no mapa e envolver a comunidade. A APS acumula essa massa crítica que permite dar respostas às necessidades da população”, completou.

 

A coordenação da mesa foi feita por Maria da Glória Teixeira, professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia.

 

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