A ideia de que a educação presencial é de boa qualidade e a educação a distância tem menos valor precisa ser abandonada, e a pandemia de Covid-19 confirma isso. Foi com essa constatação que o professor da Fiocruz Brasília e ex-secretário executivo da UNA-SUS, Francisco Eduardo de Campos, iniciou sua apresentação na Feira Digital de Soluções para a Saúde, na tarde desta sexta-feira (11/12). “Não faz muito tempo que só a educação presencial era considerada legítima e outras formas eram até ridicularizadas. Mas já é reconhecido que o currículo paralelo, que o aluno faz buscando conteúdos na internet ou de outras formas, às vezes, tem mais relevância do que o currículo oficial, com suas aulas chatas”, pontuou.
Participante da mesa “Educação on-line em saúde”, Francisco traçou um breve panorama histórico da formação médica no país, lembrando como, do Brasil Colônia à primeira metade do século XX, essa formação era elitista: focava as capitais, desprezava o interior e sustentava a ideia de que uma boa escola não poderia ter muitos alunos. Para contrapor essa ideia, o professor trouxe seu depoimento pessoal, comentando três momentos de sua atuação. O primeiro, em 1985, quando foi chamado a promover uma ação educativa para o controle da infecção hospitalar no país; o segundo, em 2010, no contexto da dengue, quando o desafio era preparar os médicos para lidarem com os quadros de desidratação provocados pela doença; e o terceiro, em 2016, quando era necessário disseminar informações sobre a zika.
No primeiro, a dificuldade de capilarizar as ações foi imensa. No segundo, a estratégia consistiu em produzir um CD e distribuí-lo por correio aos médicos, com uma logística que não era fácil e sem garantia de sucesso. “No terceiro, elaborou-se um curso, disponível na internet, dirigido à comunidade médica, porém muito mais gente teve acesso a um ou mais módulos, com ampla divulgação”, contou. “É preciso abandonar os modelos elitizados e expandir o acesso”, defendeu, destacando os cursos da UNA-SUS que, durante a pandemia, ultrapassaram a marca de um milhão de pessoas.
“Precisamos pensar de forma coletiva em soluções para educação em saúde capazes de fazer frente às desigualdades”, completou a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, também participante da mesa. Ela destacou a história da Fiocruz Brasília e da estruturação de sua Escola de Governo, com importante papel no fortalecimento da Atenção Primária à Saúde, em especial da Estratégia Saúde da Família, seja com cursos presenciais, a distância, autoinstrucionais ou híbridos. Fabiana destacou também o papel da UNA-SUS, com sua rede de 35 instituições, um potente repositório de recursos educacionais abertos e um portfólio de ofertas educacionais online que respondem às demandas prioritárias dos trabalhadores do SUS.
Em 2020, os cursos da UNA-SUS atingiram a marca de 4,2 milhões de ingressantes e 1,5 milhão de concluintes. Seu hotsite sobre Covid-19, uma das principais referências para subsidiar o trabalho sobre o tema, recebe 80 mil acessos por dia. A página da UNA-SUS no Facebook tem, hoje, 617 mil seguidores (eram apenas 12 mil antes da pandemia).
Cristiani Vieira Machado, vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, que coordenou a mesa, falou dos desafios no campo da educação com a chegada da Covid-19. “Foi necessária a reorientação das atividades educacionais, com apoio aos docentes e discentes”, disse. Um aspecto que facilitou o processo, segundo Cristiani, foi o pioneirismo da Fiocruz, que desde os anos 1990 atua na educação a distância. “Ao longo dos anos, a instituição passou a usar os recursos de ambientes virtuais de aprendizagem mesmo em cursos presenciais”, completou.
A vice-presidente também destacou o Campus Virtual Fiocruz, que já oferece mais de 2 mil cursos e contabiliza mais de 200 mil inscritos, de 3.500 municípios do país. “Mesmo quando o aluno não conclui o curso e, portanto, não pega o certificado, ele teve acesso aos recursos educacionais e ao conhecimento”, lembrou. “Enfrentamento da Covid-19 no contexto dos povos indígenas” está entre os mais recentes cursos on-line e autoinstrucionais do Campus Virtual, que reúne variadas modalidades. Outros cursos já se encontram em desenvolvimento, inclusive sobre protocolos e procedimentos de vacinação.
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