Fala aê, mestre: vigilância da esporotricose humana no Brasil

Fernando Pinto 19 de fevereiro de 2021


A esporotricose é uma micose subcutânea mais prevalente e globalmente distribuída, causada pelo fungo do gênero Sporothrix. Também é conhecida como “doença do jardineiro”, “doença da roseira” ou “doença do gato”. A forma clínica mais frequente é caracterizada por múltiplas lesões cutâneas tanto no ser humano como em animais, principalmente em gatos. As lesões começam com um caroço, podendo formar uma ferida de difícil cicatrização. Sobre o assunto conversamos com Zênia Guedes, que, em sua dissertação do Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde da Fiocruz Brasília, propôs uma vigilância e controle da esporotricose humana como contribuição na formulação da política pública no Brasil. Acompanhe um pouco do trabalho da pesquisadora na série “Fala aê, mestre”!

 

Em caso de suspeita de esporotricose, o que deve ser feito? O Brasil registra muitos casos  dessa doença?

Zênia Guedes: Os indivíduos com lesões suspeitas de esporotricose devem procurar atendimento médico para investigação, diagnóstico e tratamento. A duração do tratamento costuma variar de três a seis meses, mas pode chegar a um ano, até a cura do indivíduo. A esporotricose não é uma doença de notificação compulsória (obrigatória) no Brasil, o que impede a vigilância de conhecer o cenário epidemiológico atual, bem como identificar os fatores e grupos de risco dessa micose no país.

 

Quais os principais aspectos levantados no diagnóstico situacional da esporotricose no país?

Zênia Guedes: Foram levantados aspectos sobre a situação da rede de laboratórios em micologia, com o objetivo de conhecer a estrutura laboratorial dessa rede; o perfil dos usuários de antifúngicos atendidos pelo Ministério da Saúde e o perfil de hospitalizações por essa micose. Buscou-se também identificar as oportunidades e ameaças para a implantação da vigilância. 

 

Quais os principais achados desse diagnóstico?

Zênia Guedes: O estudo revelou que entre 2007 e 2018, houve 672 hospitalizações por essa doença no Brasil. A esporotricose humana é considerada de evolução benigna e, na maioria dos casos, não requer internação. Em 2017, 16 Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen) afirmaram que sua infraestrutura era adequada e produziam seus próprios meios de cultura e coloração. Observou-se a necessidade de capacitar os técnicos de laboratório, especialmente nas regiões Nordeste e Norte, onde a ocorrência da doença é considerada emergente. Houve 106 atendimentos de antifúngicos para tratamento dos pacientes com esporotricose no Brasil, de 2014 a 2019. Destes, 58,5% utilizaram o itraconazol do estoque estratégico do Ministério da Saúde.

 

Qual proposta de vigilância e controle da esporotricose humana você apresenta na dissertação?

Zênia Guedes: A proposta de implantação da vigilância da esporotricose humana baseia-se na vigilância universal em todo o território nacional. No estudo, propusemos o modelo da ficha de notificação individual no formato FormSUS, o dicionário de dados, bem como as orientações de preenchimento. A vigilância da esporotricose humana no Brasil como política pública em saúde permitirá o registro de dados epidemiológicos a partir das definições de caso e sua notificação, padronizadas e estabelecidas nacionalmente. A disseminação das informações epidemiológicas auxiliará o planejamento, a implementação e a avaliação da política pública; a tomada de decisões por gestores e autoridades sanitárias; o acompanhamento das tendências no impacto da doença nas populações sob risco; a priorização dos recursos da saúde; e a detecção de mudanças de práticas e seus efeitos ao longo do tempo. 

 

Zênia Monteiro Guedes dos Santos é autora da dissertação “Vigilância da esporotricose humana no Brasil: uma contribuição para formulação da política pública”, defendida em 02 de maio de 2019, com orientação da professora Erica Tatiane da Silva.

 

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