Em audiência no Senado, na tarde desta terça-feira (23/3), a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, apresentou dados sobre o andamento, os avanços e as perspectivas da produção da vacina contra a Covid-19 no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz). A produção é feita em duas fases: na primeira, até julho, com o ingrediente farmacêutico ativo (IFA) importado; a partir de setembro, com o IFA já produzido nacionalmente.
Conforme informado pela presidente, as entregas da primeira fase já começaram. Na semana passada, foram entregues ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) em torno de 1,1 milhão de doses. As entregas passarão a ser feitas duas vezes por semana, totalizando 3,9 milhões de doses até o final do mês de março, e 100,4 milhões até o final de julho. A vacina produzida em Bio-Manguinhos/Fiocruz obteve o registro definitivo da Anvisa no último dia 12.
“Desde o início da pandemia, a Fiocruz mobilizou todas as suas energias no campo da atenção à saúde e da pesquisa, com destaque para a prospecção de vacinas”, lembrou Nísia. A partir dessa prospecção, em setembro de 2020, foi assinado um acordo de encomenda tecnológica e um memorando de transferência de tecnologia da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford (Reino Unido) e licenciada à farmacêutica AstraZeneca. “A vacina Oxford/AstraZeneca é hoje a vacina com maior utilização no mundo”, disse.
A presidente apresentou, também, dados de estudos que demonstraram a segurança e a eficácia da vacina, avaliada em termos de redução nas hospitalizações. “Cerca de 17 milhões de pessoas já foram vacinadas na União Europeia e no Reino Unido. A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu deliberações sobre a não associação entre eventos tromboembólicos e a vacinação. Qualquer suspeita de eventos na população vacinada tem que ser acompanhada, mas é muito importante frisar, como fez a OMS, que a vacina demonstrou eficácia e segurança, e que seus benefícios são muito superiores a eventuais riscos”, destacou.
Nísia afirmou, ainda, que a Fiocruz trabalha com a vigilância genômica e vem acompanhando a questão das variantes do vírus causador da Covid-19. “Estamos acompanhando, com a Universidade de Oxford, a eficácia da nossa vacina frente a essas variantes. Em relação à variante P1, ficou demonstrada a eficácia, em estudos de laboratório”, sublinhou.
Além da produção em Bio-Manguinhos/Fiocruz, foram citadas outras ações, junto com o Ministério da Saúde, para a obtenção de mais doses, como a compra de vacinas prontas do Instituto Serum, na Índia, e a adesão ao Covax Facility, a iniciativa da OMS para reduzir a iniquidade do acesso. “Essa iniquidade é muito grande. Existem países que estão com cinco vezes o número de doses da vacina em relação à sua população; outros estão no pico da pandemia e não estão tendo acesso a mais doses de vacinas”, criticou Nísia. Foram citados também projetos de vacinas, em desenvolvimento por pesquisadores brasileiros, mas que ainda não chegaram à fase de estudos clínicos. “Faço esse destaque pela importância que têm esses projetos não só para o enfrentamento desta pandemia, mas para o futuro do nosso país”, frisou.
De acordo com o diretor de Bio-Manguinhos/Fiocruz, a produção de vacinas é um dos tipos de produção mais difíceis que existem, pois envolve tecnologias e questões regulatórias da maior complexidade. “Nosso pessoal está trabalhando com dedicação integral, de domingo a domingo, 24 horas por dia, totalmente dedicado a cumprir esse cronograma ou até antecipá-lo”, disse. A expectativa é entregar, além dos 100,4 milhões de doses até julho, mais 110 milhões no segundo semestre. “A estratégia de assimilarmos a tecnologia para produção nacional é o que pode, no futuro, nos garantir um atendimento mais rápido em pandemias e epidemias que poderão vir”, concluiu.
A audiência no Senado contou com representantes da Fiocruz; dos laboratórios Pfizer e Janssen, que produzem vacinas próprias; e das empresas União Química e Precisa, representantes brasileiras das vacinas Sputnik V (russa) e Covaxin (indiana).
Foto: Agência Senado