Fiocruz Brasília iniciará curso de formação com catadores para o enfrentamento dos impactos da pandemia

Nathállia Gameiro 3 de maio de 2021


A pandemia da Covid-19 impactou a vida de todos. As realidades que já não eram tão fáceis ficaram ainda piores. É o caso dos catadores, que tiveram suas rendas reduzidas após o implemento das medidas de restrição para evitar a propagação do novo coronavírus, que fecharam comércios, restaurantes e fábricas, a maior fonte geradora de material desses trabalhadores e de onde muitos tiram o sustento da família.

A Fiocruz e suas unidades espalhadas pelo Brasil têm atuado em diversas frentes para auxiliar a diminuir os impactos da Covid-19 nas populações, especialmente nas mais vulnerabilizadas. A Plataforma de Inteligência Cooperativa com a Atenção Primária em Saúde (PICAPS) da Fiocruz Brasília e o projeto do Radar de Territórios da Covid-19 do DF iniciaram neste mês de abril um trabalho de formação de agentes populares de saúde e apoio solidário com a comunidade de catadores do Distrito Federal.

Pesquisadores, técnicos e residentes dos programas multiprofissionais da Fiocruz Brasília, representantes da Cooperativa de Catadores Comunidade Reciclo, do Movimento Popular por Moradia do DF e Região (AMORA) e da Central de Movimentos Populares (CMP) estiveram reunidos em uma usina de reciclagem localizada no Riacho Fundo II, região administrativa do DF e falaram sobre as situações que esses trabalhadores têm enfrentado desde o início do último ano.

Fome, pobreza extrema, condições precárias de moradia e falta de acesso a saneamento básico, alto grau de exposição a doenças em situação de insalubridade e falta de equipamentos de segurança, além de perdas de vidas cotidianas de colegas ligados ao processo de coleta, separação e comercialização dos materiais recicláveis foram algumas dificuldades apontadas por eles.

As famílias também têm sofrido para conciliar trabalho com o cuidado com a casa e as crianças e para garantir a participação dos filhos nas aulas e atividades escolares. Na maior parte das moradias há mais de uma criança em idade escolar e muitos não têm um equipamento com acesso à rede de internet, quando possuem, há apenas um aparelho celular sem velocidade de rede apropriada. A falta de acesso à informação por parte dos trabalhadores também foi um tema discutido na oficina, pois tem trazido graves consequências, como o abandono das importantes medidas de proteção contra a Covid-19: o distanciamento social e o uso de máscaras. A Fiocruz Brasília realizará o Curso de Formação de Agentes Populares de Saúde na comunidade do Riacho Fundo II, estendida a outras regiões administrativas do DF, além de fortalecer a visibilidade dessa comunidade em redes solidárias que tem apoiado, como o Fundo de Resiliência Solidária do DF.

O curso articula saberes, práticas, espaços e segmentos, buscando fortalecer o protagonismo popular no enfrentamento da Covid-19, como forma de implementar a vigilância popular nos territórios do DF. Conhecimentos sobre o novo coronavírus, formas de prevenção e cuidados, e os direitos fundamentais para a qualidade de vida das pessoas e comunidades e preservação da vida são algumas temáticas oferecidas na capacitação.  

“O relato desta articulação e vivência é um estímulo à continuidade do processo de promoção de Territórios Saudáveis e Sustentáveis em curso pela Fiocruz em múltiplos territórios do país, perspectiva que se releva de importância no enfrentamento da pandemia”, explica Wagner Martins, coordenador da Picaps e coordenador de Integração Estratégica da Fiocruz Brasília.

O pesquisador da Fiocruz Brasília Osvaldo Bonetti também avalia que a abertura do movimento e acolhida ao processo de formação de agentes populares é importante, porque a mobilização de pessoas que vivem, sofrem das mesmas situações e conhecem as potencialidades do território, somando aos esforços das equipes do SUS, poderá trazer impactos positivos para a prevenção e promoção da saúde.

A parceria com a Fiocruz foi destacada pela coordenadora da Cooperativa de Catadores Comunidade Reciclo, Jaqueline Souza. “É de fundamental importância contribuir com a comunidade de catadores na luta por seus direitos e, em especial, para enfrentar o momento dramático por que passam na atualidade”, ressaltou.

A primeira atividade de formação do curso com os catadores está prevista para iniciar em breve.