Compartilhar o conhecimento, para que ele chegue ao maior número de pessoas; investir em pesquisa; promover ações interdisciplinares e intersetoriais; reconhecer o papel da escola e da comunidade como espaços de cuidado; discutir a questão do acesso aos serviços e às tecnologias; enfrentar as iniquidades e as invisibilidades; fazer a busca ativa de pessoas que necessitam de cuidado; ofertar formação aos trabalhadores; qualificar os processos de comunicação; fortalecer as políticas públicas: esses são aprendizados para o campo da saúde mental e atenção psicossocial durante a pandemia, conforme sistematizou a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio. Na tarde desta quarta-feira (10/11), ela coordenou o seminário “Esperançar na pandemia: diálogos atuais sobre saúde mental e atenção psicossocial”, transmitido pelo canal da Fiocruz Brasília no YouTube.
Realizado pela Fiocruz, por meio do Núcleo de Saúde Mental e Atenção Psicossocial em Desastres e Pandemias e pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres, o seminário dá continuidade ao “Curso Nacional de Atualização em Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Covid-19”. A atividade reforça a importância de seguir discutindo as consequências psicológicas da pandemia. “As práticas de cuidado são necessárias durante todo o período de emergência e, inclusive, depois”, destacou Fabiana. “Nosso objetivo com este seminário é revisitar os temas do Curso e discutir mudanças e permanências, aprendizados e experiências acumuladas após um ano e oito meses desde o anúncio da pandemia pela OMS”, disse a diretora, que também explicou a motivação para o nome do evento. “Em homenagem ao centenário de Paulo Freire, reforçamos que esperançar é verbo de luta e ação no território para a promoção de cuidado entre as pessoas”, pontuou.
De acordo com Débora Noal, neste momento do enfrentamento da emergência, as fases de resposta e de reconstrução se mostram sobrepostas. “Devemos estar atentos a reações que ainda podemos cuidar na fase aguda para evitar que se tornem crônicas”, alertou. Também é o momento de desenhar pesquisas longitudinais, para melhor compreender os impactos da pandemia. Segundo a palestrante, gestores, trabalhadores e população devem atuar juntos para a organização do sistema de saúde mental e atenção psicossocial, pensando em estratégias de longo prazo e que não estejam focadas apenas na questão do adoecimento, mas englobem iniciativas variadas, como, por exemplo, ações de lazer nas praças públicas, entre outras. “Fé, solidariedade, sentimento de pertencimento e comunicação franca continuam sendo fundamentais”, sintetizou.
Ao abordar o atendimento psicológico online, Ionara Rabelo destacou alguns aspectos inovadores vistos durante a pandemia, como o grande movimento de profissionais voluntários. Comentou também a adaptação de protocolos de atendimento e até mudanças de legislação. Para Carolyne César, todas as pessoas foram de alguma forma afetadas pela Covid-19. “Cada um vivencia o sofrimento e os transtornos de uma forma, mas é importante saber que existem tratamentos. O estresse ficou muito visível, mas também se formaram redes de solidariedade e isso precisa ser reconhecido, o que não deve ser confundido com uma positividade tóxica”, argumentou.
Em relação à atuação dos psicólogos hospitalares, Layla Gomes que, preservadas as medidas de biossegurança, os atendimentos presenciais estão retornando, assim como os acompanhantes e as visitas. No entanto, o aprendizado quanto ao uso das tecnologias de informação e comunicação para otimizar o cuidado é algo que fica. “A psicologia hospitalar ganhou visibilidade durante a pandemia e é provável que haja um aumento da demanda por essa área. Os profissionais deverão adequar os fluxos das demandas, identificando as situações que realmente requerem uma atenção maior. Também será necessário um suporte maior em relação ao luto e às sequelas da Covid-19”, avaliou.
Sobre cuidados paliativos, Maria Goretti Maciel ressaltou o papel da comunicação qualificada entre a equipe de saúde, pacientes e familiares. “Uma comunicação amorosa e acolhedora”, definiu. Ela também trouxe um alerta sobre pacientes com doenças crônicas prévias, que se afastaram do tratamento ou tiveram seu diagnóstico atrasado por causa da pandemia. “São pacientes com a doença já em fase avançada, sem chance de resolver o problema, e as equipes de cuidados paliativos precisam se preparar para esse aumento de demanda”, ponderou.
Karen Scavacini comentou o aumento expressivo de falas e busca de informação sobre saúde mental. Sobre a volta às aulas presenciais, lembrou que os educadores precisam de auxílio para identificar nas crianças e nos adolescentes possíveis sinais de alerta em relação à saúde mental. “Neste momento de reconexão, é importante planejar o futuro, mas também reconhecer as perdas e cicatrizes, buscando aumentar os fatores de proteção e diminuir os de risco”, afirmou.
Especificamente sobre questões de violência, Fernanda Serpeloni ressaltou que este não é um fenômeno novo, criado pela pandemia, mas que pode ter sido agravado por ela, daí a importância de ações de enfrentamento, com a manutenção das redes de solidariedade e fortalecimento das políticas públicas. Já Alexandra Sanchez chamou atenção para a situação ainda não resolvida no sistema prisional, onde os óbitos por Covid-19 têm sido subnotificados.
O seminário “Esperançar na pandemia: diálogos atuais sobre saúde mental e atenção psicossocial” continua na próxima quarta-feira, 17 de novembro, das 14h às 15h30, no canal da Fiocruz Brasília no YouTube.
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