“É importante ensinar que não sabemos tudo”

Mariella de Oliveira-Costa 16 de março de 2022


O professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Alcindo Antônio Ferla, motivou os professores da Escola de Governo Fiocruz-Brasília na manhã desta quarta-feira (16/3), durante atividade específica para os docentes, na I Mostra EGF-Brasília. A partir do vídeo egípcio O outro par, ele trouxe a necessidade de um olhar que aproxime os professores uns dos outros e dos estudantes, em vez de ocupar uma posição de indiferença ou muito distante da realidade dos discentes. “O olhar da criança não tem os lugares de fronteira que a vida adulta nos traz, e essa atenção é necessária para as coisas que nos são vizinhas”, disse.

 

Médico e doutor em educação, Ferla ressaltou como o mundo do trabalho em saúde traz questões mais complexas que o campo disciplinar e fragmentado, daí a necessidade de se planejar pedagogicamente a aproximação entre a ciência e a prática. A palestra chamou a atenção para a importância de que a educação permanente não seja apenas algo protocolar, para cumprir prazos e metas, mas que, de fato, coloque os alunos em contato com a realidade do SUS e suas contradições, desafios e possibilidades. Não é possível que, diante de uma criança com fratura ou uma mulher com hematoma, o profissional de saúde apenas trate o machucado e devolva essa pessoa àquela realidade, com corpo recomposto, mas sem mudança no ambiente em que a lesão foi provocada. “É importante dar mais consequência à ampliação do conceito de saúde, pois a doença nem sempre se resume a ser da pessoa, mas do seu contexto”, ressaltou.

 

Durante sua explanação, o palestrante ressaltou que a  ciência tem ciclos e é importante explorar o que ainda não se transformou em trabalho realizado, lembrando que ensino, pesquisa e extensão são indissociáveis; se a pesquisa não repercute no ensino, há um problema aí. “É importante construir espaços de diálogo com o território e fazer do ensino-aprendizagem um espaço de encontro. Não é possível ter professores que entram na sala de aula e colocam um abismo de poder entre eles e os alunos”, alertou.

 

É necessária uma política não só de aprendizagem, mas também de cuidado com os trabalhadores. “O profissional da saúde não pode ser um semi-deus. Um deus não tem dúvida e, como trabalhadores, não sabemos tudo. É importante ensinar um outro lugar que não é o da certeza. Trabalhador da saúde é gente cuidando de gente e precisa ser cuidado como gente. Não é só investir no futuro, mas na produção de um hoje mais civilizatório”, finalizou.

 

Após o debate, os docentes foram organizados em salas para discussão dos desafios da EGF-Brasília. 

 

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