A primeira turma de residentes em Atenção Básica da Fiocruz Brasília teve início junto com a pandemia de Covid-19. Era preciso oferecer orientação e suporte aos profissionais que atuavam na porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS) nos territórios, o que foi feito com base em evidências científicas e uso de tecnologias digitais. Surgia, assim, a Plataforma de Inteligência Cooperativa com a Atenção Primária à Saúde (Picaps), à qual se articularam outras ações hoje estruturadas em quatro eixos: cooperação social, inteligência epidemiológica, educação e saúde digital. Ao completar 2 anos, a Picaps consolida suas experiências e segue trabalhando para fortalecer a integração da Atenção Primária com a Vigilância em Saúde – “uma inovação e um legado para enfrentar outras crises sanitárias e sociais que virão”, resumiu o pesquisador Wagner Martins, coordenador do Colaboratório de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Fiocruz Brasília e um dos responsáveis pela condução da Picaps. Um balanço das atividades da Plataforma foi apresentado em um seminário nesta quinta-feira (5/5), no auditório da Fiocruz Brasília, com transmissão pelo YouTube.
A Picaps é fruto de uma parceria entre a Fiocruz Brasília, a Universidade de Brasília (UnB) e a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF), que se uniram para mitigar os efeitos da pandemia com foco na inovação. “A Fiocruz tem o compromisso de honrar sua história de enfrentamento de epidemias e fortalecer o SUS. A Picaps é esse encontro da ciência com o SUS, em defesa da vida. Vamos seguir semeando ideias, trocando experiências e construindo estratégias concretas para enfrentar os desafios futuros e as consequências da pandemia de Covid-19, como seus impactos na saúde mental”, disse a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio.
O aumento da pobreza e da insegurança alimentar em consequência da Covid-19 foi lembrada pelo coordenador de Atenção Primária à Saúde da SES/DF, Fernando Erick Damasceno, que sublinhou a necessidade da entrega de soluções e de um cuidado de qualidade na ponta para os usuários do SUS. “A Picaps é uma ferramental real, palpável, para chegar aos territórios. Nada mais inovador para o DF do que essa inteligência cooperativa, com solidariedade e participação social”, avaliou.
A decana de Extensão da UnB, Olgamir Amancia, lembrou que a Covid-19 revelou uma crise muito além da saúde, que não poderia ser enfrentada com ações isoladas. “Ela exigia uma resposta que compreendesse a integralidade dos sujeitos, uma resposta cooperativa, com diferentes eixos de articulação e compromisso, sobretudo, com os grupos mais vulneráveis. Isso tem tudo a ver com a extensão universitária e com a Picaps”, disse. “A academia é essencial para o desenvolvimento do país e a pandemia mostrou a importância do investimento em ciência, que resulta em produtos e serviços para a sociedade, como a Picaps”, acrescentou a decana de Pesquisa e Inovação da UnB, Maria Emília Machado Telles Walter.
Em geral, quando se pensa em uma plataforma, imagina-se uma estrutura de pesquisa e desenvolvimento baseada em equipamentos sofisticados. Existem, porém, outras concepções de plataforma, baseadas no capital humano que produz conhecimento a partir de dados e informações. Este é o caso da Picaps, conforme descreveu o diretor do Parque Científico e Tecnológico (PCTec) da UnB, Carlos Alberto Gurgel Veras. “O Parque pode contribuir na gestão da inovação da Picaps, auxiliando na construção de modelos de negócios para aplicar esse conhecimento”, propôs. Um conhecimento que vem dos territórios, a partir da cooperação social, e se soma à inteligência epidemiológica, para sustentar políticas públicas de precisão, baseadas em evidências, como descreveu o professor Mauro Sanchez, que integra a coordenação da Sala de Situação em Saúde (SDS) da UnB. No balanço que fez dos dois da Plataforma, Sanchez lembrou, ainda, os protótipos de soluções tecnológicas em desenvolvimento no âmbito de uma hackatona e as iniciativas educacionais, da educação popular à pós-graduação stricto sensu.
A importância da continuidade do projeto foi destacada pelo subsecretário de Atenção Integral à Saúde da SES/DF, Oronides Urbano Filho. “Em face dos novos desafios, a ciência e a tecnologia trazem respostas para os usuários do SUS”, afirmou.
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