Pesquisador emérito da Fiocruz, Renato Sergio Balão Cordeiro foi um dos convidados para a Sessão especial: 60 anos da UnB e suas lutas, atividade que faz parte da programação da 74ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Em vídeo, ele lembrou que as histórias da SBPC e da Universidade de Brasília (UnB) tem muitos pontos em comum e compartilham a trajetória de diferentes profissionais, como Anísio Teixeira, Carolina Bori, Mauricio Vasques Silva e Roberto Salmeron, entre outros, que assim como ele já trabalharam nas duas instituições.
Ele lembrou a organização da 26ª Reunião Anual da SBPC na UnB, em 1976, marcada pela resistência de professores e estudantes, com grande participação de cientistas cassados pela ditadura, e críticas ao regime econômico da época, com ampla liberdade para manifestações dos estudantes. Segundo ele, a política energética do país, a anistia política que seria aprovada em 1979, as empresas multinacionais na economia brasileira e a Amazônia foram alguns dos temas debatidos. “A programação científica foi intensa, com participação de sociedades científicas poderosas realizando seus congressos anuais dentro da SBPC, o que permitia que os pós-graduandos ficassem a par das discussões nacionais. As moções descritas ao final daquela reunião deixaram mensagem poderosa para o governo, e seus resultados levaram ao bloqueio do financiamento da reunião no ano seguinte, que seria realizado no Ceará”, disse. Cordeiro comentou que a UnB foi a universidade brasileira mais invadida e agredida pelo governo militar, a primeira vez em abril de 1964, seguida da demissão do reitor Anísio Teixeira e, posteriormente outros 16 docentes, o que provocou uma demissão em massa de 223, dos 305 professores da UnB, entre eles, Athos Bulcão, Oscar Niemeyer, Claudio Santoro, entre outros.
Esse momento difícil também veio à tona na fala de outros convidados da Sessão especial, como a representante do comitê Elas da Cidadania, da Fundação Banco do Brasil, Ana Amélia Lins Cavalcante. Ela ressaltou a força do movimento estudantil na UnB, que no início das suas atividades já ensaiava ser um centro cultural da capital federal, graças aos concertos dentro da universidade e abertos à comunidade. O cineasta Vladimir Carvalho, que documentou momentos importantes da vida universitária tais como o vestibular de 1970, destacou que a Universidade de Brasília sobrevive graças ao seu capital de história. Segundo ele, ao invés de ficar fragilizada, a instituição vai acumulando “anticorpos” e se tornando mais forte a cada investida contrária, ressaltando a necessidade de buscar mais recursos.
O pesquisador Raimundo Brás Filho enviou sua participação por vídeo e comentou a trajetória de colegas da pós- graduação em química na UnB, em 1965, destacando o trabalho do coordenador Otto Gottlieb e a intensa dedicação de Darcy Ribeiro.
A reitora da universidade, Marcia Abrahão, aproveitou a ocasião para lembrar diferentes passagens de sua vida na UnB, de aluna a professora, de decana ao mais alto cargo institucional, atuando em meio às manifestações estudantis e greves dos dois lados, como aluna e como gestora. Atualmente em segundo mandato, ressaltou a criação de uma política de direitos humanos aprovada no conselho universitário, uma câmara de direitos humanos e uma secretaria de direitos humanos. Até o fim do ano, sua gestão pretende fortalecer essa política, ampliando os programas de extensão. Ela citou ainda o canal da UnbTV como importante espaço de divulgação científica.