“Cientista tem que saber se comunicar com o público”

Fernando Pinto 26 de julho de 2022


A primeira conferência científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na 74ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), ficou a cargo da médica pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcomo. Realizada na manhã desta segunda-feira (25/7), no Instituto Central de Ciências (ICC) da Universidade de Brasília (UnB) a conferência debateu a visão da ciência no enfrentamento da pandemia e o futuro da saúde no Brasil.  Com o anfiteatro lotado de estudantes e professores universitários, a pesquisadora traçou um breve panorama sobre a atuação do Brasil no enfrentamento e combate da Covid-19 e de outras pandemias vividas.

 

Como deverá ser o médico do futuro? – Esse questionamento foi respondido pela pesquisadora, que refletiu que o médico tem que ter muita competência técnica e conhecimento. Segundo ela, o futuro profissional não tem que saber só a medicina, ele tem que ter capacidade de liderança e conhecimento de políticas públicas de saúde também, além de saber lidar com as pessoas e com a inteligência emocional, ter competência de gestão e manter o compromisso permanente com o aprendizado também foram destacados por ela como características importantes para o perfil desse profissional. Conhecer a tecnologia da informação e saber trabalhar em equipe foram requisitos também destacados para o perfil do médico do futuro. 

 

Ela reforçou ainda que é preciso formar equipes de recursos humanos em toda ordem da área de saúde e que estejam preparados para ser acionados em pandemias futuras. “O investimento em ciência não pode ser encarado como gasto. É preciso investir em pesquisa, educação, tecnologia, inovação e no SUS. O Brasil está no momento de reconhecer que o investimento em pesquisa e inovação é a coisa mais nobre que podemos fazer para formar as novas gerações de profissionais de saúde e pesquisadores”, destacou.

 

Sua atuação no enfrentamento da Covid-19, se resume  em uma frase: “Cientista tem que saber se comunicar com o público”. A citação é da médica Esther Sabino que juntamente com a pesquisadora Jaqueline Góes foram responsáveis pelo sequenciamento do genoma do novo coronavírus. Dalcomo destacou o brilhante trabalho dessas cientistas brasileiras que conseguiram rapidamente identificar as informações que o vírus carregava, apenas quatro dias após a verificação dos primeiros pacientes com a doença no Brasil.

 

A pesquisadora, que é uma das porta-vozes da ciência neste período de pandemia, chamou atenção também para a dinâmica do SArs-Cov-2,  o surgimento de novas doenças zoonóticas e a relação com o meio ambiente. Ela alertou sobre a questão do aumento do desmatamento na Amazônia, pois se considerarmos as previsões ecológicas atuais e  continuarmos devastando a floresta, seguramente teremos uma nova epidemia nascendo no Brasil.

 

A baixa cobertura vacinal também foi lembrada pela médica, que reforçou a importância de manter a caderneta de vacinação das nossas crianças em dias. “O grande desafio do momento é vacinar as crianças e completar a vacinação de quem ainda não o fez”, enfatizou ao lembrar que a Anvisa recentemente autorizou a vacinação da Covid-19 de crianças de 3 a 5 anos com o imunizante CoronaVac, produzido pelo Instituto Butantan. 

 

Ciência e democracia em debate na abertura da 74ª da SBPC

A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio e a coordenadora de divulgação científica da Fiocruz, Cristina Araripe participaram na noite do último domingo (24/7), da solenidade de Abertura da 74ª SBPC. Com o tema “Ciência, independência e soberania nacional”, o evento segue até o próximo sábado (30/7), na UnB. Para a anfitriã do evento e reitora da UnB, Márcia Abrahão, a SBPC é um momento de defesa da democracia e de fortalecimento da ciência e da educação em nosso país.

 

Durante a cerimônia, quatro  expoentes da ciência brasileira foram homenageados por seus pares: José Goldemberg; Isaac Roitman; Roque de Barros Laraia e Milton Thiago de Mello, que  receberam uma honraria em reconhecimento pelas décadas de trabalho dedicadas às pesquisas e ao progresso da ciência. Os cientistas que faleceram entre julho de 2021 e julho de 2022 também foram homenageados. Os presentes na sessão solene foram agraciados com uma apresentação da Orquestra Som Brasileiro Popular Contemporâneo, do Departamento de Música do Instituto de Artes (MUS/IdA) da UnB.

 

As atividades da 74ª SBPC acontecem nos quatro campi da UnB: Darcy Ribeiro, Ceilândia, Gama e Planaltina. O evento ocorre de forma híbrida, com atividades virtuais e presenciais. As inscrições seguem abertas e são gratuitas. Acesse aqui outras informações sobre o evento.

 

Visite também nosso espaço de atividades científicas e culturais na SBPC Jovem