A atuação da Fiocruz nos estados e municípios de norte a sul do país vai muito além da vacina. Os escritórios e unidades regionais disseminam e compartilham resultados de pesquisas e outras informações científicas para a sociedade em diferentes formatos. O trabalho de divulgação científica realizado pela Fundação foi debatido durante evento online promovido pelo Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz Pernambuco) na última quarta-feira (3/8).
A coordenadora de divulgação científica da Fiocruz, Cristina Araripe, destacou os marcos institucionais, como a portaria publicada em 2002, que instituiu grupo de trabalho com objetivo de incentivar e dar visibilidade às iniciativas de educação e divulgação científica realizadas na instituição, destacando a divulgação da ciência como elemento essencial à cidadania. A Política de Comunicação da Fiocruz, de 2015, também foi outro ponto destacado. O documento teve como destaque a área de divulgação científica e foi aprovado e publicado em março de 2020. Neste tempo, foi constituído o Fórum de Divulgação Científica, com encontros virtuais que debatem o tema com representantes das unidades da instituição.
Essas ações resultaram na Política de Divulgação Científica da Fiocruz, publicada em 2021. O documento busca estabelecer princípios, diretrizes, orientações e responsabilidades na construção de uma divulgação científica democrática, dialógica, aberta e participativa, além de fortalecer o campo da divulgação científica na Fiocruz, buscando maior impacto social nas ações desenvolvidas. Ciência e democracia, ciência como parte integrante dos direitos humanos, solidariedade como princípio de funcionamento da ciência, diálogo e compartilhamento do conhecimento são os princípios definidos no documento.
Para a pesquisadora, é preciso pensar ainda o desenvolvimento de políticas específicas e desdobramentos buscando maior integração de esforços individuais e coletivos das diferentes instâncias e atores da Fundação. “Os marcos são fundamentais, pois mostram a continuidade e nos ajudam a pensar em qual tem sido nosso papel e qual a Fiocruz do futuro. Que a gente possa contribuir para uma ciência cidadã e democrática”, afirmou.
O direito à comunicação e à informação foi abordado pelo diretor do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), Rodrigo Murtinho. Ele apresentou os marcos temporais, como a Carta de Independência dos EUA em 1776, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, passando pelo Relatório MacBride e o Direito à Comunicação na Sociedade da Informação.
Para ele, pensar a comunicação como um direito é fundamental. Murtinho acredita que a pandemia lembrou aos pesquisadores que é preciso pensar o trabalho de divulgação científica de forma integrada, sobretudo pelo objetivo de chegar à sociedade e à grande mídia, tentando obter a maior amplitude possível dentro dos princípios e necessidades colocadas na comunicação. Ele exemplificou com o portal da Fiocruz, espaço que reúne dados e diferentes informações, trabalhando os conceitos de comunicação em saúde, comunicação pública e a comunicação como direito. As visitas ao site aumentaram 600% em 2020, primeiro ano da pandemia no Brasil. Outras iniciativas da Fiocruz foram destacadas pelo pesquisador, como as mídias sociais, o boletim Infogripe, a campanha Se liga no Corona, as séries de programas do Canal Saúde, as revistas Poli e Radis, o Dicionário de Favelas e o Boletim Observatório Covid-19.
Como desafio atual, ele pontuou o acesso desigual à internet pela população brasileira, especialmente durante os momentos mais críticos da pandemia, em que foi utilizada para propagação de informações e para aproximar pessoas em isolamento social. “A ONU estabeleceu em 2011 que a internet é um direito humano fundamental, mas o acesso no Brasil é um fator que amplia as desigualdades sociais. Diferente de outros países, estamos distantes de universalizar o acesso à internet banda larga no país. Mais de 20 milhões de domicílios não têm acesso. De fato, temos uma independência?”, refletiu.
O pesquisador destacou a Política de Comunicação da Fiocruz como um marco na Fundação, que mostra que para a instituição a comunicação não é transferência de informação, mas sim um processo amplo e democrático. “O documento reafirma a comunicação como um bem público; reconhece a centralidade da comunicação na transformação da realidade; e a compreende como um processo participativo e dialógico de produção, circulação, debate, acesso, compartilhamento, apropriação, ressignificação e intercâmbio de informações e sentidos”, definiu.
Na prática
A atuação da Fiocruz Brasília na disseminação de informações científicas também vem de longa data, como foi apresentado pelo coordenador da Assessoria de Comunicação da unidade, Wagner Vasconcelos. Inicia em 2002, com o Fórum Ciência e Sociedade e em seguida vem a primeira participação na Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (Obsma) e na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. De lá para cá, foram realizadas muitas atividades lúdicas e educativas, para diferentes públicos, de crianças a adultos, sobre diversos temas: corpo humano, alimentação e nutrição, arboviroses, meio ambiente, bioeconomia, entre outros.
“A preocupação com a divulgação científica é antiga, embora a institucionalização seja recente”, afirmou o jornalista ao falar sobre o marco simbólico para a Fiocruz Brasília: a oficina de Planejamento de 2015. Como desdobramento foi criada a Comissão de Divulgação Científica, constituída por membros de várias áreas da unidade, com o objetivo de mostrar o que se faz na instituição.
O grupo participou do Genomic Day, do Pint of Science e organizou a 1ª Semana de Divulgação Científica da unidade. O coordenador apresentou ainda alguns produtos desenvolvidos pela Assessoria de Comunicação para popularização da produção científica da unidade: Papo Móvel; cartilha Faça seu Fórum Ciência e Sociedade; 60 segundos saúde; Dê voz; Fala aê; Conexão Fiocruz Brasília; podcasts Mulheres e meninas na ciência, Viralizados, Narrativas do Comer, Psicocast e Conviver com o Luto; atuação nas mídias sociais; e conteúdos especiais no site e a Agência de Notícias Fiocruz Brasília. Para conhecer as iniciativas, clique nos links.
O desafio, segundo Vasconcelos, é a participação e o entendimento dos pesquisadores de que a divulgação científica deve fazer parte do trabalho cotidiano. Ele acredita que é necessário fomento e estímulo à cultura de divulgação científica.
O trabalho do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) foi apresentado pela coordenadora de Comunicação da unidade, Raquel Aguiar. A jornalista parte da premissa de que comunicar é um ato humano e que por isso, a divulgação científica é lugar de muitos encontros, não só um espaço de trabalho de profissionais formados na área de comunicação, como também de iniciativas espontâneas de pesquisadores em diversos formatos e expressões. “A ciência é uma construção coletiva, construída e reconstruída de forma dinâmica. Cada um trabalha divulgação científica da forma que entende que consegue contribuir”, reforçou.
Jogos, livros, cartilhas, HQ, escape rom, esquetes teatrais, biografias e documentários são alguns formatos trabalhados pelo Instituto. Raquel destacou as ações sobre o mosquito Aedes aegypti, que resultaram no livro Aedes de A a Z, no jogo 10 minutos contra o Aedes, em um dia de cientista para jornalistas e inserção de especialistas da unidade na mídia, em escolas, e até mesmo no entretenimento, como o Big Brother Brasil.
O evento “Divulgação Científica na Fiocruz hoje” contou com a participação do diretor do Instituto Pedro Miguel Neto e da pesquisadora Silvia Santos. A gravação está disponível no Youtube da Fiocruz Pernambuco e pode ser assistida aqui