Fiocruz inovadora marca presença no III INOVATEC/DF

Mariella de Oliveira-Costa 29 de novembro de 2022


“A saúde deve ser central nas políticas públicas, pois é transversal a todas elas. Além do ambiente de integração entre a medicina e a tecnologia, é preciso transformar as inovações em produtos acessíveis para o cidadão.”  Assim começou a palestra do coordenador de Integração Estratégica da Fiocruz Brasília, Wagner Martins, na abertura do III Encontro Internacional de Inovação em Saúde (INOVATEC/DF), no dia 25 de novembro, no Parque Tecnológico de Brasília (Biotic). 

 

Para falar sobre o uso do marco legal da ciência e tecnologia no complexo produtivo da saúde como estímulo ao ecossistema de inovação, o pesquisador trouxe dados sobre a digitalização da saúde, a saúde pública de precisão com integração de diferentes bases de dados e abordou a necessidade de se criar mecanismos para a saúde digital, citando como exemplo a Picaps – Plataforma de Inteligência Cooperativa com Atenção Primária à Saúde, criada pela Fiocruz Brasília em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) e a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) para apoiar as estratégias de integração da Atenção Primária à Saúde e da Vigilância à Saúde nos Territórios para o enfrentamento da Covid-19 e suas consequências, inicialmente, mas também para outras crises sanitárias e respostas às emergências de saúde pública. Ele ressaltou como a Covid-19 antecipou a incorporação de novas tecnologias no SUS em pelo menos cinco anos, devido à urgência que a emergência sanitária trouxe, e como isso alterou os processos de trabalho. “A Picaps formou um ecossistema de inovação, com uso de dados estruturados e não-estruturados, rumo ao cumprimento do objetivo 3 da Agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que é assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas as pessoas, em todas as idades,” ressaltou, lembrando ainda de como a Lei 13243/2016 trouxe um ambiente promotor de inovação. 

 

Durante a abertura, o pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Morfologia e Imunologia Aplicada da Faculdade de Medicina da UnB e presidente do III INOVATEC/DF, José Roberto de Souza Leite, criticou a pouca articulação entre o setor público e a iniciativa privada no Distrito Federal. Segundo ele, há cinco mil empresas na área da saúde que, unidas, podem fazer muito. “Brasília pode ser um polo de inovação em saúde, dada a localização privilegiada e a proximidade entre as instituições daqui, então devemos fomentar o ambiente de inovação. As empresas estarão unidas pois se o setor público não fizer, o privado fará”, explicou.  

 

Wagner Martins compôs a mesa de abertura e lembrou que a Fiocruz é serviço público e vem tentando se articular com outras instituições para criar as inovações que beneficiem a população do DF e do Brasil. Também participaram da mesa de abertura, a presidente da Comissão Científica, Andreane Gomes Vasconcelos, a representante do Unicred Evolução, e do Hospital Universitário de Brasília, Samira França.

 

Fiocruz presente

Das 10 apresentações orais aprovadas no evento, quatro são desenvolvidas na Fiocruz, a saber: o Scilog, logística 4.0 da saúde através de veículos autônomos; os Painéis Dinâmicos como ferramenta de inovação; o Pólen Fiocruz – inovação na gestão; e o Laboratório de Inovação no Serviço Público como colaborador de enfrentamento de emergências em saúde pública. Além disso, seis diferentes pesquisas do Colaboratório de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde da Fiocruz Brasília, foram apresentadas em formato de pôster. Clique nos links abaixo para conhecer cada uma delas:

– Cartografia social digital para territórios: estudo de caso de sol nascente e pôr do sol no projeto radar de territórios DF em 2022 ;

Classificação de risco como instrumento de inovação social para territorialização da agenda 2030: estudo de caso de sol nascente e pôr do sol;

– Radar de territórios DF: a inovação social no enfrentamento à Covid-19 e suas consequências em territórios do DF;

– Sala de cooperação social como instrumento de inovação para o alcance dos ODS;

– Painel de monitoramento da vigilância de leishmaniose visceral;

– Painel de vacinação Covid-19 para territórios do DF como inovação tecnológica.

 

A assessora Flora Fonseca faz parte da equipe do Colaboratório e ressalta a oportunidade de trabalho no Encontro para conhecer outras iniciativas da Fiocruz e buscar articulação interna e externa à instituição. “A Fiocruz Inovadora é uma semente da rede de inovação dentro da Fiocruz, e deu para ver como as pessoas acreditam na Fiocruz”, disse. O analista de gestão do Colaboratório, Gabriel Maia, acredita que é o momento da Fiocruz se reposicionar em relação aos temas de tecnologia e identificar quem está focado em pesquisa de base tecnológica, quem trabalha com pesquisa social e aproximar esses dois universos de investigação, para a partir daí, as inovações chegarem ao cotidiano das pessoas.

 

Cultivar as próprias soluções de saúde digital

A programação do III Encontro Internacional de Inovação em Saúde foi até domingo, 27 de novembro, dia dedicado a reuniões de empreendedorismo em saúde. O professor do Núcleo de Estudos sobre Bioética e Diplomacia em Saúde (Nethis), Felix Hector Rigoli, apresentou a experiência da Hackatona do DF como importante iniciativa para se cultivar soluções de saúde digital. Segundo ele, não existe possibilidade de expansão do acesso e qualidade dos serviços públicos de saúde no Brasil sem a incorporação maciça de soluções de saúde digital e inteligência artificial.

 

“Qual tecnologia serve para as 215 milhões de brasileiros e não só aos mais ricos?”, indagou ele, problematizando que a  geração e incorporação desse tipo de solução depende de diferentes tipos de ecossistemas produtivos, desde as grandes empresas multinacionais de tecnologias até  grupos de startups e desenvolvedores organizados em pequenos grupos de alta criatividade. O fato de que a incorporação de soluções digitais e de inteligência artificial para o SUS deve ser feita pelo Estado, e isso condiciona que este processo percorra as etapas das chamadas públicas e concorrência de preços como se a tecnologia inovadora fosse um produto pronto. Isso traz o risco permanente de que este processo resulte em soluções não adaptadas às necessidades dos serviços e indiretamente cria oportunidades preferenciais para as grandes empresas com soluções já prontas – e não necessariamente novas. “Isso resulta em inadequações da solução aos problemas reais e também em soluções opacas cujos benefícios, vieses e possíveis efeitos não são totalmente claros”, ressaltou, apontando a oportunidade que as Hackatonas trazem para cultivar as soluções do SUS com aporte das universidades e instituições públicas, sem fugir da cooperação público-privada mas também sem esperar a compra de um produto pronto e  acabado.

 

Durante o Encontro, foi realizada também a I Feira de Inovação Tecnológica em Saúde do Distrito Federal, um espaço de exposição de novas tecnologias, negócios e disseminação de conhecimento, com estandes de empresas de tecnologia e instituições de ensino e pesquisa, entre elas, a Fiocruz, que ocupou espaço de mais de 10 m2 com design exclusivo produzido pela Assessoria de Comunicação da unidade, e possibilidade de interação dos visitantes com o ambiente do campus Manguinhos, da Fiocruz, no Rio de Janeiro, por meio do óculos de realidade virtual. A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, visitou o estande no domingo. 

 

Para Wagner Martins, a participação no encontro mostra a capacidade da Fiocruz em produzir inovação e a necessidade de se dar visibilidade para o tema da tecnologia. Ele vislumbra a possibilidade de uma Feira de Soluções para a Saúde no ano que vem, em Brasília, a partir das parcerias estabelecidas durante o Encontro. “A Fiocruz é mobilizadora e articuladora do ecossistema de inovação. Agregar iniciativas diferentes na proposta de uma Fiocruz inovadora é formar uma rede colaborativa de acordo mútuo, um novo espaço para estimular a criatividade e elemento importante para ser disseminado em outros eventos”, finalizou.  

 

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