Pesquisa analisa aspectos da Covid-19 longa no Brasil

Fernanda Marques 31 de janeiro de 2023


Uma pesquisa com brasileiros que tiveram Covid-19 mostrou que quase 60% deles desenvolveram Covid-19 longa, tendo apresentado sintomas durante, pelo menos, três meses após a fase aguda. Realizado pela Rede de Pesquisa Solidária em Políticas Públicas e Sociedade, o estudo coletou informações entre 14 de março e 14 de abril do ano passado. Foi utilizado um questionário on-line divulgado por e-mail e nas redes sociais, e dirigido a pessoas que tiveram Covid-19. Para a análise, foram considerados os 1.230 participantes que responderam ter tido seu diagnóstico de Covid-19 confirmado por teste PCR. Desses, 720 mantiveram sintomas por três meses ou mais, e 496 relataram ainda não estar totalmente recuperados no momento da pesquisa. Os efeitos prolongados da doença foram mais frequentes entre os indivíduos não vacinados e mais de 80% dos participantes com Covid-19 longa demandaram serviços de saúde por causa da persistência dos sintomas.

 

Fadiga, ansiedade, perda de memória e queda de cabelo foram alguns dos principais sintomas apontados pelos participantes. Ao todo, eles citaram mais de 50 sintomas persistentes, agrupados em dez categorias: cardiovasculares/coagulação, dermatológicos, endócrino-metabólicos, gastrointestinais, músculo-esqueléticos, renais, respiratórios, neurológicos e de saúde mental, além de sintomas gerais, como dor e tontura.

 

Os resultados do estudo estão na nota técnica nº 44 da Rede de Pesquisa, publicada em janeiro deste ano. Entre os pesquisadores que assinam a nota, estão Claudio Maierovitch, Vaneide Pedi, Erica Tatiane da Silva e Mariana Verotti, da Fiocruz Brasília, além de Rafael Moreira e Marcos Pedrosa, da Fiocruz Pernambuco. A publicação analisa os sintomas da Covid-19 longa no Brasil e o acesso ao diagnóstico e ao tratamento. De acordo com a equipe técnica responsável, “a falta de dados inviabiliza o desenho de estratégias para alertar a população sobre os riscos de desenvolver esta forma de Covid-19 e de serviços de assistência para atender às pessoas que sofrem de sequelas prolongadas”.

 

O objetivo da pesquisa foi justamente contribuir para o preenchimento dessas lacunas de dados. Protocolos de monitoramento de pacientes com sequelas persistentes, investimentos em atividades de reabilitação com abordagem multidisciplinar e atenção especial à Covid-19 longa nas populações mais socialmente vulnerabilizadas estão entre as recomendações do documento. “A compreensão de como se configuram os casos e sintomas da Covid-19 longa no Brasil, dos fatores associados e dos segmentos da população mais vulneráveis contribui, do ponto de vista de políticas públicas de atenção e prevenção, na resposta a esta demanda, de modo que ocorra com orientação comum, nacional e local do SUS”, avaliam os pesquisadores.

 

O que se sabe sobre a Covid-19 longa

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 10% e 20% dos pacientes considerados livres do SARS-CoV-2 e da doença aguda podem apresentar Covid-19 longa, isto é, entre 2,8 milhões e 5,6 milhões de brasileiros poderão precisar de cuidados de saúde por sofrer de Covid-19 longa. Esta condição se refere a uma variedade de sintomas que permanecem ou até aparecem pela primeira vez até três meses após a infecção por SARS-Cov-2, sintomas esses que não podem ser explicados por outros motivos e que trazem prejuízos à saúde e à qualidade de vida.

 

Embora o mecanismo exato que leva à Covid-19 longa ainda seja desconhecido, acredita-se que ela esteja associada ao processo inflamatório causado pelo vírus, que começa no pulmão e se espalha para outros órgãos e tecidos. Apesar de mais frequentemente observada em idosos, mulheres e pacientes graves na fase aguda, a Covid-19 longa pode se manifestar em qualquer pessoa.

 

O tratamento varia conforme os sintomas apresentados, e o desfecho depende de fatores como a gravidade desses sintomas, a existência de outras doenças crônicas e o acesso ao cuidado e à reabilitação. “Estudo recente sugere que as vacinas e, principalmente, as doses de reforço podem amenizar o quadro ou diminuir as chances de desenvolver a Covid-19 longa”, destaca a nota técnica, reforçando que a população deve ser informada sobre a importância de evitar infecções sucessivas e sobre os riscos de desenvolver sequelas.

 

Leia aqui a íntegra da nota técnica

 

Sobre a Rede de Pesquisa

Criada em março de 2020, a Rede de Pesquisa Solidária em Políticas Públicas e Sociedade tem como objetivo contribuir para o enfrentamento da Covid-19 e suas consequências. Ela reúne cientistas políticos, sociólogos, sanitaristas, psicólogos, médicos, economistas e pesquisadores de outras disciplinas que atuam no levantamento, produção e análise de dados com vistas ao aperfeiçoamento das políticas públicas e do controle social. Com participação de diversas instituições, a Rede tem coordenação científica da pesquisadora Lorena Barberia, professora do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP).