Agência Fiocruz de Notícias (AFN)
A sanitarista e diretora da Fiocruz Amazônia, Adele Benzaken, e o infectologista Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda foram condecorados, nesta quarta-feira (12/7), pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a Ordem Nacional do Mérito Científico. Em 2021, o presidente no cargo revogou a condecoração dos dois pesquisadores da Fiocruz Amazônia, sem nenhuma justificativa, menos de 48h depois de assiná-la. Em protesto, outros 21 cientistas que seriam agraciados com a medalha assinaram uma carta renunciando à homenagem.
À época, mais de 200 cientistas condecorados em anos anteriores também publicaram um documento em que acusavam o governo de censura, perseguição e uso da honraria para interesses políticos e ideológicos. Criada em 1993, a Ordem Nacional do Mérito Científico reconhece contribuições científicas e técnicas de pesquisadores brasileiros e estrangeiros. A indicação é feita por uma comissão formada por nove integrantes, designados de forma paritária pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
“Não podemos acreditar que temos alguma chance de futuro sem a ciência e os cientistas. Foi pela ciência que conseguimos feitos que transcendem as academias e os laboratórios e se fazem presente no dia a dia de cada pessoa desse país […] Se não fossem nossos institutos de pesquisa, se não tivéssemos uma Fiocruz e um Butantan, a pandemia da Covid-19 teria sido ainda mais severa com a população. A ciência é aliada da vida e do desenvolvimento e é nesse momento histórico que esta se faz mais necessária para o desenvolvimento do Brasil e do mundo”, afirmou o presidente Lula durante a Cerimônia de Instalação do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT).
Ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos complementou: “é motivo de orgulho retomar o funcionamento do CCT de forma plural, representativa e democrática […] Com a recomposição do Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia, temos a oportunidade histórica de avançar na construção de um país inclusivo e sustentável através da ciência, tecnologia e inovação”.
Além de Benzaken e Lacerda, também foram condecorados os pesquisadores Renato Sérgio Balão Cordeiro, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz); Maurício Barreto e Edgar Marcelino, ambos da Fiocruz Bahia; e os demais cientistas que renunciaram à medalha em 2021. Para Benzaken, a entrega da Ordem Nacional significa mais do que receber a homenagem antes negada. “Será um reencontro com o país plural que estava sendo destruído por políticas reacionárias e fascistóides, com o [Sistema Único de Saúde] SUS pelo qual lutamos desde 1988, assim como com os valores constitucionais que o originaram”, afirma.
Para o presidente da Fiocruz, Mario Moreira, a entrega dessas condecorações representa o reconhecimento da contribuição da instituição à sociedade. “Temos muito orgulho dos nossos trabalhadores e ficamos especialmente honrados em termos cinco dos nossos pesquisadores recebendo a Ordem do Mérito Científico. Trata-se de reconhecer a contribuição da pesquisa para a saúde pública brasileira e de colocar a ciência em um lugar estratégico para o país”, destaca o presidente. Pela Fiocruz Brasília, estiveram acompanhado a solenidade a diretora da unidade, Fabiana Damásio e o pesquisador Wagner Martins.
Antes de se tornar diretora da Fiocruz Amazônia, Benzaken dirigiu o Departamento de HIV/Aids do Ministério da Saúde, entre 2016 e 2019, e foi demitida do cargo no primeiro mês da gestão do governo federal do período. Durante sua gestão, o departamento havia produzido uma cartilha de prevenção às infecções sexualmente transmissíveis voltada para os homens trans. No início de janeiro de 2019, o documento foi retirado do ar pelo Ministério da Saúde e Adele, exonerada na semana seguinte.
Já Lacerda liderou o primeiro estudo a confirmar, com evidências sólidas, a ineficácia da cloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19. Após a publicação da pesquisa no Jornal da Associação Médica Americana (Jama), em abril de 2020, o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) recomendou a suspensão do uso do remédio.
“Nenhuma honraria no mundo é entregue a um único indivíduo, a uma única pessoa, nem a um único pesquisador, mas, sim, aos grupos de pesquisa e às instituições”, destaca Lacerda. “É um prazer imenso receber hoje uma condecoração que vem pelas mãos do atual presidente da República, que reconhece o trabalho de todo o grupo de pesquisa que o Amazonas exerce junto à Fiocruz, que sempre foi o suporte dos piores momentos que todos vivemos nos últimos quatro anos. Obrigado aos governantes que reconhecem o seu papel de transmitir homenagens a quem de fato merece e pelo reconhecimento às instituições de pesquisa sérias desse país.”
Confira no link abaixo a transmissão da solenidade:
Fotos: Rodrigo Cabral (ASCOM/MCTI) e Wagner Vasconcelos (Fiocruz Brasília)