Fala aê, mestre: qualidade da hemorrede DF

Mariella de Oliveira-Costa 24 de agosto de 2023


Doar sangue salva vidas e a transfusão de sangue é uma prática clínica e segura, mas falhas nos procedimentos podem comprometer a saúde dos doadores, pacientes e profissionais de saúde. Pensando nisso, a biomédica da Fundação Hemocentro de Brasília, Vanessa Carvalho Pereira de Moura, decidiu analisar o desempenho das agências transfusionais da hemorrede pública do Distrito Federal, a partir da implementação da auditoria interna de qualidade.  

 

Ela analisou documentos produzidos em auditorias da hemorrede pública do DF de sete anos consecutivos, observando a evolução em geral e também por dimensão de infraestrutura, equipamentos e insumos, recursos humanos, procedimentos técnicos, transporte e armazenamento, testes antes da transfusão, a transfusão, a hemovigilancia e gestão da qualidade. Para além dos números que esses documentos apresentaram, a mestranda analisou ainda os relatórios de auditores e observou uma evolução da agências transfusionais ao longo do tempo, na maior parte dos quesitos.  A expectativa da mestre é publicar um artigo em revista científica ainda este ano. Saiba mais sobre esta pesquisa na entrevista abaixo da série de divulgação científica Fala aê, mestre. 

 

Você pode citar os principais facilitadores e barreiras enfrentadas pelas agências transfusionais identificados durante sua coleta de dados?  

Vanessa Moura: A supervisão técnica, apoio e empenho da equipe de trabalho, o uso de insumos registrados pela Anvisa, realização dos testes pré-transfusionais obrigatórios, armazenamento correto de amostras e investigação dos casos de soroconversão (desenvolvimento de  anticorpos para se defender contra a infecção) foram observados como facilitadores do trabalho. Dentre as barreiras, destaco as inadequações no revestimento de pisos, paredes e tetos, manutenção corretiva e preventiva dos equipamentos, treinamento de pessoal, caixas térmicas utilizadas para o transporte de hemocomponentes (produtos gerados a partir de centrifugação, em que a bolsa de sangue é fracionada em diferentes concentrados usados para transfusão de sangue) e no registro dos sinais vitais pré e pós transfusão, além da ausência de um comitê transfusional atuante e de um controle interno de qualidade para reagentes e insumos. 

 

A que você atribui os facilitadores encontrados pela auditoria interna de qualidade?   

Vanessa Moura: A maioria diz respeito aos procedimentos realizados pela equipe técnica das agências transfusionais, resultado do empenho dos trabalhadores que realizam os procedimentos transfusionais com segurança e qualidade. 

 

Qual foi o principal desafio para a execução do seu estudo?  

Vanessa Moura: A quantidade de dados para análise foi um desafio, pois a hemorrede pública do Distrito Federal é composta por 13 agências transfusionais, localizadas em 12 hospitais. Além disso, a pesquisa englobou todas as auditorias internas realizadas entre os anos de 2014 a 2020, totalizando 82 relatórios para análise. 

 

Da época da pesquisa até o momento, alguma melhoria no Hemocentro foi implantada para sanar as barreiras identificadas a partir do seu estudo? 

Vanessa Moura: Sim, algumas melhorias foram alcançadas. Dentre elas, a implementação do controle de qualidade interno nas agências transfusionais. Esse item, desde o início das auditorias internas em 2014 até 2020 era uma barreira para as agências transfusionais. Entretanto, com o empenho da Diretoria da Hemorrede da Fundação Hemocentro de Brasília e das agências transfusionais da hemorrede pública, essa não conformidade foi sanada e atualmente todas as agências apresentam um controle interno de qualidade eficaz. 

 

Conte como foi realizar uma pesquisa em seu local de trabalho? 

 Vanessa Moura: Foi uma experiência prazerosa, pois sempre tive o intuito de pesquisar em algo que trouxesse frutos para o meu ambiente de trabalho. Além disso, não há muitos estudos nessa área de qualidade em hemoterapia, o que me instigou ainda mais em realizar a pesquisa. 

 

Por que você quis estudar na Fiocruz Brasília, em um mestrado profissional na área da saúde? 

Vanessa Moura: É uma instituição de qualidade e renomada. Sempre tive interesse em fazer um mestrado que estivesse inserido no meu campo de atuação, para que conseguisse levar melhorias para o meu local de trabalho. E consegui encontrar isso ao fazer o mestrado profissional na Fiocruz Brasília. 

 

Fazer o mestrado foi importante para a sua vida profissional?  

Vanessa Moura: O mestrado foi muito importante para a minha vida profissional. Apesar de ter sido um período árduo, em meio à pandemia de Covid-19, foi gratificante ver os resultados do estudo, as melhorias nas agências ao longo do tempo e as melhorias que estão sendo alcançadas após o estudo. Os trabalhadores da Fundação Hemocentro de Brasília tiveram acesso à dissertação na íntegra por meio da intranet e os resultados foram divulgados também em grupos internos.  

  

Vanessa Carvalho Pereira de Moura é autora da dissertação intitulada “Desempenho das Agências Transfusionais da Hemorrede pública do Distrito Federal a partir da implementação da auditoria interna da qualidade”, aprovada em 26 de abril de 2022, no Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde, sob a orientação da professora Erica Tatiane da Silva.   

 

Confira aqui as outras entrevistas da série de divulgação científica