As experiências de trabalhadores, gestores e supervisores da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) foram apresentadas durante o 1º Fórum do Projeto de Supervisões Clínico-Institucional. O evento, realizado na última sexta-feira (15/9), faz parte das ações previstas no Convênio nº 021786/2022, celebrado em maio de 2022 entre a Secretaria de Estado da Saúde do DF (SES-DF), a Fiocruz Brasília e a Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec).
O encontro reuniu usuários da saúde mental, familiares, profissionais da SES-DF e colaboradores da Fiocruz Brasília que compartilharam histórias de atuação nos territórios, avanços e desafios enfrentados. O Fórum foi pensado como espaço para possibilitar troca de estratégias e práticas inovadoras entre os serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que conta com 18 centros psicossociais distribuídos pelo DF.
A RAPS é um conjunto de diferentes serviços disponíveis nas cidades e comunidades que busca ampliar o acesso à atenção psicossocial da população em geral e cuidar das pessoas com transtornos mentais e com problemas em decorrência do uso de drogas e os familiares.
A secretária de saúde do DF, Lucilene Florêncio, afirmou durante a mesa de abertura que é preciso valorizar e reconhecer o trabalho de todos que passaram pela Rede, além de celebrar o convênio entre a SES-DF e a Fiocruz Brasília. “Vamos abrir as portas e intensificar, com apoio da Fiocruz, o cuidado e integração dos usuários à sociedade e reforçar a força de trabalho para uma equipe e um CAPS mais fortalecidos”, afirmou.
A psicóloga e assessora da direção da Fiocruz Brasília, Anna Pontes, ressaltou que a saúde mental é uma pauta da unidade, que está focada no fortalecimento da rede intersetorial de saúde mental dentro do DF.
Os profissionais e usuários presentes se dividiram em nove rodas de conversa pautadas em três eixos: inovações em práticas de promoção da contratualidade no território; práticas inovadoras para a articulação de Redes Intra; e intersetoriais e inovações em estratégias para o atendimento domiciliar. Eles destacaram a necessidade de um cuidado integral, de qualidade e em liberdade; a importância do matriciamento, do usuário como protagonista e do reforço aos atendimentos domiciliares, a dificuldade de acesso a atendimentos de saúde e a resiliência das equipes diante dos problemas enfrentados no dia a dia.
Nos próximos meses, as equipes terão a supervisão clínico-institucional de profissionais que contribuirão apoiando a equipe técnica do serviço, com o aperfeiçoamento da rede de Atenção Psicossocial Especializada, discussão de casos e de novas ideias de cuidados ofertados como atendimentos e tratamentos, e com ações de cuidado no território para redução de danos.
Conquista
“Ouvimos de vocês que esperavam a implementação da estratégia de supervisão. Com muita alegria podemos apoiar esse processo histórico. A Fiocruz Brasília vai fazer 47 anos e cada vez mais estamos entrando no território e trabalhando com vocês, não só na saúde mental, como também na atenção básica, na formação de profissionais para o SUS e na construção de políticas públicas para a sociedade”, afirmou o psicólogo, pesquisador e coordenador do Núcleo de Saúde Mental Álcool e Outras Drogas (Nusmad) da Fiocruz Brasília, André Guerrero.
Para a diretora dos Serviços de Saúde Mental da SES-DF, Fernanda Falcomer, o principal legado do Fórum é a oportunidade de conhecer, integrar e fortalecer diferentes iniciativas. “É uma conquista grande, esperada e desejada. Nossa luta continua, por um SUS que consiga acolher todas as pessoas com qualidade. Que a gente possa olhar, avaliar o serviço prestado e recomeçar quando necessário, para um atendimento cada vez melhor para a população, acolhedor e que possamos fazer com que as pessoas que sofrem possam ter o direito de viver plenamente em sociedade”, destacou.
O usuário Kledson Oliveira, da RAPS DF elogiou o atendimento e apoio que recebeu de profissionais de saúde no CAPS “para lidar com conflitos internos. Um tratamento humanizado e gratuito que me educou, ressocializou, preparou e me deu uma nova visão de mundo”, contou ao lembrar de quando entrou no serviço, em 2012, em que classificou como um local ideal para recuperação e reinserção social devido à dedicação dos profissionais de saúde. “Não tem como eu não devolver isso à sociedade com luta da causa, por isso decidi dedicar minha vida ao CAPS”, finalizou.
Participaram também das mesas de abertura e encerramento o usuário da RAPS DF, Andy Ferreira; a coordenadora da Rede de Atenção Psicossocial do Departamento de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Neli de Almeida; a gerente do CAPS AD II Santa Maria, Adriana Gomes; o psicólogo e trabalhador do CAPS II Paranoá, Filipe Braga; a supervisora Clínico Institucional do CAPS II Brasília, do CAPSi de Sobradinho e do CAPSi de Taguatinga, Tania Resende; a gerente do CAPS II Taguatinga, Kelly Cristina Vieira; a trabalhadora do CAPSi Brasília, Tathiana Accioly e a supervisora clínico institucional do CAPSi Recanto das Emas e do CAPSi Brasília, Maria de Nazareth Rodrigues.
O evento contou com apresentações culturais do coletivo GritArte e do grupo musical Maluco Voador. Confira as fotos
Convênio
O convênio tem o objetivo de desenvolver um projeto mobilizador, com a oferta de supervisão clínico-institucional às equipes dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do Distrito Federal (DF), que se configura como inovação no campo da saúde mental, com potencial para a qualificação da atenção em saúde mental, álcool e outras drogas, na perspectiva de promover a continuidade e a melhoria dos serviços prestados, considerando o contexto e os impactos relacionados à pandemia de Covid-19.
O projeto se estrutura em torno de três eixos temáticos: Inovações em práticas de Promoção da Contratualidade no Território; Inovações em Estratégias para o Atendimento Domiciliar; e Práticas Inovadoras para a Articulação de Redes Intra e Intersetoriais.
Fotos: Fernando Pinto/Fiocruz Brasília e Sandro Araújo/Agência Saúde DF