Cerca de 30 pessoas trabalharam nos bastidores para que mais de três mil visitantes participassem de Territórios da Saúde: uma expedição na Fiocruz Brasília. A atividade fez parte da 20ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), de 16 a 20 de outubro de 2023, e trouxe para o jardim da unidade da Fiocruz na capital federal um túnel de mais de 20 metros de comprimento, sete diferentes jogos, quatro oficinas, palestra, exposição e até um minilaboratório. Essas atividades foram distribuídas também nas salas da Escola de Governo Fiocruz – Brasília e, para sua realização, foram quase dois meses de trabalho intenso e articulado entre diferentes setores da instituição.  

Conheça parte dos bastidores de uma ação de divulgação científica desse porte a partir da entrevista abaixo, com o coordenador da instalação e da Assessoria de Comunicação (Ascom) da Fiocruz Brasília, Wagner Vasconcelos, que participa da SNCT na Fiocruz Brasília desde a primeira edição. Ele destaca que, desde 2009, houve um salto na participação. Em sua opinião, apesar de o Brasil ter passado por um contexto mais duro para a ciência nos últimos quatro anos, as atividades foram retomadas com força total em 2023.  

Para que instalar um túnel no jardim da Fiocruz Brasília?  

Wagner Vasconcelos: Nossa ideia de montar um túnel buscou trazer uma mudança física em nossa unidade, chamando atenção para que as pessoas pudessem vir até o prédio da Fiocruz Brasília, aqui na L3 Norte, logo no início da Universidade de Brasília, que geralmente não é uma área de muita circulação de pessoas. Um túnel logo na entrada do bloco administrativo rompe com a rotina, tem apelo visual significativo e desperta a curiosidade das pessoas. Fizemos algo nesse formato em 2016 e foi um sucesso. 

Como foi elaborada a exposição? Da ideia à estreia, a ação levou quanto tempo de organização? 

 Wagner Vasconcelos: Cerca de dois meses. O processo partiu do princípio de que era preciso convergência entre as iniciativas das diversas áreas da Fiocruz Brasília, de forma coletiva. Em uma reunião da Ascom com a Direção da Fiocruz Brasília, apresentamos a proposta de se integrar o conteúdo pesquisado pelas diferentes áreas da unidade em torno de nove eixos temáticos. A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, prontamente se disponibilizou a apoiar esta ação de divulgação científica e sugeriu levarmos o tema ao Conselho Consultivo, formado por assessores e pesquisadores, que referendaram esses eixos temáticos transversais à atuação da Fiocruz no DF: Atenção Primária à Saúde; Educação; Soberania, Segurança Alimentar e Nutricional; Vigilância em Saúde; Saúde Mental; Transformação Digital; Saúde e Ambiente; Enfrentamento às Desigualdades Sociais; e Comunicação em Saúde. Então, desde o início, tínhamos o objetivo de destacar os eixos nas nossas atividades de popularização da ciência, mas também precisávamos apresentá-los em variados formatos, pois o público esperado era formado, prioritariamente, por crianças e adolescentes, que precisam de apelo visual para se encantar e interessar por esses temas. O público adulto também era esperado, se pensarmos nas famílias, trabalhadores da saúde, pesquisadores e membros da própria instituição, que, muitas vezes, não têm noção do conjunto do que é feito aqui. Aliado ao apelo tecnológico, com muita qualidade visual, para envolver e despertar a curiosidade, foram organizados momentos lúdicos mais tradicionais e artesanais, que permitem aprofundamento nas temáticas, de maneira interativa. Os exemplos incluíram jogos de tabuleiro em que as pessoas eram os próprios peões, e momentos trabalhando a terra para cultivo de hortaliças, em que se colocava a mão na massa e se podia levar para casa uma muda de planta. Os monitores apoiaram as atividades e complementaram a experiência do visitante, de maneira que a jornada fizesse sentido para cada pessoa. 

A previsão de público era de centenas de visitantes e vocês conseguiram milhares. A que você atribui esse alcance? 

Wagner Vasconcelos: Estimamos que a Fiocruz Brasília tenha recebido três mil visitantes na 20ª SNCT. Na véspera da estreia, tínhamos quase mil estudantes já garantidos pela articulação anterior, com agendamento prévio, que nos permitiu providenciar transporte e alimentação para esses grupos de escolas públicas. Outros programas da casa já têm uma trajetória de trabalho com esse público, já tivemos projetos que construíram redes com a Secretaria de Educação do DF e diretamente com as escolas, para iniciativas diversas, e acionamos diretamente esses contatos. A responsável pela Assessoria Pedagógica da Escola de Governo Fiocruz – Brasília, Regina Padrão, tem forte articulação com esses grupos e, a partir dela, nos comunicamos muito rapidamente com diferentes professores de várias escolas públicas do DF. A partir da projeção midiática forte, logo no dia da abertura da instalação, com diferentes notícias em vários canais de televisão, outras  escolas e grupos se mobilizaram espontaneamente para participar conosco. É preciso contabilizar também as famílias, adultos e idosos que vieram sozinhos ou em pequenos grupos para dialogar e aprender sobre ciência brincando.  

Como foi definida a organização do espaço? 

Wagner Vasconcelos: No túnel, ficaram as atividades com viés tecnológico-interativo, com um cenário futurístico, e as demais atividades foram distribuídas nas salas de aula da Escola de Governo Fiocruz – Brasília, que comportam confortavelmente os visitantes, além das ações organizadas pelos jardins da instituição, com atividades que se aproximam mais de performances teatrais e jogos, favorecidos pelo verde das diferentes árvores do cerrado. Um exemplo foi a atividade Sementes da Saúde, com imersão dos visitantes para o cultivo de ervas medicinais e plantio de mudas que puderam ser levadas para casa.  

Em meio a tantas ações lúdicas, por que inserir palestras na programação?  

Wagner Vasconcelos: As palestras não deveriam ser longas nem de viés muito técnico. O formato de palestra é importante para apresentar determinado tema em uma dimensão maior e mais aprofundada que em um jogo. Os próprios palestrantes eram jovens pesquisadores, que trouxeram informações sobre a prevenção do vírus HPV em  formato dialogado, complementado pela visita ao minilaboratório, dentro do túnel, para visualização e comparação das células contaminadas por este vírus com células saudáveis.  

Como você avalia o engajamento dos trabalhadores da Fiocruz Brasília para a realização da 20ª SNCT? 

Wagner Vasconcelos: Foi paradigmático, pois conseguimos mobilização interna muito importante e que merece ser enaltecida. Montamos um comitê para este evento, com pessoas do Serviço de Gestão do Trabalho, gabinete da Direção, Núcleo de Eventos, Ascom e Escola de Governo, além de representantes da Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS). Outras áreas participaram apresentando conteúdos dos programas e projetos da Fiocruz Brasília e mostrando esse trabalho articulado dentro dos diferentes eixos temáticos. Para que isso se materializasse, tivemos trabalho muito engajado e importante de outras áreas. O Núcleo de Eventos, coordenado pela Sávia Pueyo, organizou a parte executiva da exposição, nos auxiliando na montagem do Termo de Referência com a descrição das necessidades de contratação, articulação com fornecedores, acompanhamento da montagem de todo o espaço e condução das atividades ao longo da semana. A equipe da Escola de Governo também se envolveu desde o começo. Devo citar todos os trabalhadores da infraestrutura da Fiocruz Brasília, pois, sem eles, não conseguiríamos montar a estrutura aqui. Se não tivessem abraçado os objetivos que tínhamos e a pressa nessa montagem, nada disso teria sido possível. Foi necessário uma orquestração institucional importante, além do que seria exibido, mas também articulação nos bastidores para viabilizarmos cada detalhe de divulgação científica. Houve uma mobilização interna para se viabilizar essa iniciativa, o que deixa claro que foi um evento da Fiocruz Brasília, e não de uma área só, faço questão de ressaltar. A Ascom coordena as atividades desde a sua concepção até o encerramento, mas não faz isso sozinha.  

Como você avalia a divulgação realizada? 

Wagner Vasconcelos: O público de mais do que o dobro do esperado responde a isso perfeitamente bem, porque, graças à divulgação que tivemos, conseguimos lotar a programação todos os dias. A Fiocruz Brasília não fica em uma área de muita circulação, e trazer para esse espaço aquela quantidade de pessoas foi devido, em grande parte, à divulgação. O apoio da grande mídia, envolvida e interessada no evento, com inserções ao vivo, em horário nobre, e o apoio de diferentes comunicadores repercutindo e replicando o que a gente produzia aqui foram uma excelente estratégia de divulgação.  

Por que investir na SNCT? 

Wagner Vasconcelos: São várias razões. O país está vivendo a retomada da ciência como elemento condutor das políticas públicas de saúde. A ciência está vinculada necessariamente ao nosso dia a dia, faz parte de nossa vida e, como instituição pública de saúde e ciência, a Fiocruz tem retornos a dar à sociedade, e a melhor forma é o diálogo. Nessa perspectiva de popularização da ciência estão imbricadas iniciativas como a SNCT. Qualquer instituição deve dar retorno à sociedade mostrando o resultado do que ela produz, de forma que essa sociedade não só compreenda, mas assimile e participe daquele conhecimento, pois isso faz parte de seu dia a dia. O saber científico repercute em nossa vida.  

Como a gestão atual da Fiocruz Brasília apoiou a SNCT? 

Wagner Vasconcelos: A Direção apoiou imediatamente, desde a fase de concepção, discutindo conosco e aperfeiçoando a definição dos eixos temáticos, e investiu com os recursos que temos na casa para que a iniciativa se materializasse. Foi um apoio muito marcante e significativo, que espero que inspire outras instituições e unidades da Fiocruz a investirem também em suas ações de divulgação científica. Durante o planejamento estratégico da unidade, a divulgação científica recebeu muita atenção, sendo considerada um objetivo finalístico. Estamos em momento de reconstrução da Comissão de Divulgação Científica e, de fato, trabalharemos na perspectiva de planejar coletivamente cada vez mais ações de popularização da ciência, como a SNCT e outros eventos que já realizamos aqui, tais como a Semana de Divulgação Científica e o Mais Meninas na Ciência, entre outros.  

Qual o passo a passo para montar uma SNCT?  

Wagner Vasconcelos: É importante a construção coletiva. Montamos um comitê para conduzir essa atividade e, a partir dele, discutimos isso à luz do tema que foi estabelecido para a SNCT,  decidimos que abordagem iríamos dar, que tema desenvolveríamos aqui, e aí as ideias foram surgindo. Paralelamente ao desenvolvimento da ideia, buscamos aperfeiçoar os processos de gestão, tais como a montagem de Termo de Referência, que especifica o que vamos precisar de produtos e serviços, com detalhamento dos materiais e necessidades para orçamento. Ao longo desse percurso, trabalhamos a logística de funcionamento das atividades, que, no mundo ideal, requer mais prazo do que os dois meses que tivemos no mundo real. É importante definir uma equipe responsável pela atividade, elaborar o tema, desenhar sua dinâmica pensando de que forma vamos traduzir aquele conhecimento em uma atividade lúdica, interativa, criativa e atraente para crianças e adolescentes. Paralelamente a isso, consideramos a construção de orçamentos, a busca de empresas etc., até a efetivação da proposta. Assim que a exposição ficou pronta, começou outra natureza de trabalho, que foi a execução, com pessoas previamente contratadas e preparadas para isso. Neste ano, foram 12 monitores. Durante a SNCT, todo o esforço convergiu para a execução das atividades, sabendo que há muitos imprevistos e vários fatores que influenciam na condução, do início ao fim do evento.  

O material é inédito? O que foi produzido nesse evento pode ser usado posteriormente? 

Wagner Vasconcelos: A parte tecnológica foi feita especificamente para esta exposição. O formato túnel não era inédito, pois já fizemos no passado, aqui na Fiocruz Brasília. Mas neste ano havia uma cenografia diferente, futurista, com chão e paredes interativas e digitais. Outras atividades já foram realizadas anteriormente, como os jogos Fato ou Fake, Passa ou Repassa e Narrativas do Comer, que têm versatilidade e funcionam bem, pois adaptamos o conteúdo e reaplicamos a sua base. O jogo da Atenção Primaria à Saúde foi concebido como um RPG, mas adaptado para um formato mais simples para que crianças participassem dentro do tempo que cada escola tinha para estar conosco. A versão original é voltada ao público adulto, e pode ser usada em Unidades Básicas de Saúde e oficinas com outros públicos. Instituições e trabalhadores da saúde e da educação interessados podem utilizar os jogos. Basta procurar a Ascom para parcerias de uso em diferentes espaços de promoção da saúde. É possível também adaptar os conteúdos para instituições e contextos específicos.  

Quais os próximos passos da divulgação científica na Fiocruz Brasília? 

Wagner Vasconcelos: O nosso trabalho não se encerra no último dia de exposição. Precisamos elaborar o relatório de atividades e também estamos com um questionário de avaliação online para os participantes e envolvidos na organização, ambos recursos que nos auxiliarão na preparação para ações futuras. Vamos descrever, a partir de alguns eixos, o que deu certo, o que precisa ser elaborado, que problemas precisam ser evitados em próximas edições etc. Já vamos agendar a organização da próxima SNCT, começando em março do ano que vem, à luz da reconstrução da Comissão de Divulgação Científica, até sua conclusão em novembro de 2024. No início do ano letivo, vamos traçar um cronograma para, até agosto, estarmos com todo o projeto elaborado, orçamentos feitos, atividades planejadas etc., para que possamos dar vazão e produzir tudo o que desenhamos. 

O pesquisador da Fiocruz Brasília tem interesse em divulgação científica? 

Wagner Vasconcelos: Nós temos trabalhado para que despertem a atenção para isso e insiram a divulgação científica em sua agenda. Percebemos, de modo geral, uma vontade de conhecer e se apropriar de ferramentas de divulgação científica. O Brasil está nesse movimento de mostrar que a divulgação científica é necessária, e isso é o mais importante. É algo de fato novo, que não foi valorizado no país, e muitas vezes as pessoas viam como entretenimento, o que não tira dela a densidade de conteúdo e objetivos. Temos pesquisadores que se mobilizam, envolvem e estimulam a divulgação científica, e nos auxiliaram em tempo recorde para essa ação acontecer. Sublinho que o evento envolveu a toda a Fiocruz Brasília e não se materializaria se não houvesse envolvimento das várias áreas, às quais agradeço a colaboração, pois foi um marco para nossa unidade.  

Qual a expectativa para a próxima atividade de divulgação científica na Fiocruz Brasília?  

Wagner Vasconcelos: Temos algumas atividades do nosso calendário: a Semana de Divulgação Científica e o evento Mais Meninas na Ciência, ambos no próximo semestre, são importantes, assim como a própria SNCT. Outros eventos também têm alguma dimensão de divulgação científica contemplada, como a Feira de Soluções para a Saúde, agora no fim de novembro, importante não só para o mundo acadêmico, mas também para o público em geral – neste ano, com o tema da transformação digital no SUS, teremos diálogo importante com a sociedade na dimensão de divulgação científica. 

Qual o seu conselho para quem quer trabalhar com divulgação científica em saúde? 

Wagner Vasconcelos: Primeiro, vou dar parabéns à pessoa, pois o Brasil precisa investir em divulgação científica. Não se pode falar só para quem já sabe de ciência, mas para a dona de casa, o motorista de ônibus, o vendedor da mercearia, que devem entender o que a Fiocruz produz e sua relação com a sua vida. A ciência ajuda no nosso dia a dia, pode melhorar a qualidade de vida e ser apresentada de maneira divertida, atraente, lúdica e educativa.   

Confira a galeria de fotos de cada dia de atividade:

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Saiu na mídia

A SNCT 2023 na Fiocruz Brasília contou com o apoio da Agenda Jovem Fiocruz e foi pauta da TV Globo, que fez reportagens veiculadas nos telejornais Bom Dia DF e DFTV 1ª edição, TV Band, UnBTV e Rede Vida. Confira as reportagens abaixo: 

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