Uma comunidade não existe espontaneamente. Ela toma forma a partir de uma realidade compartilhada e se constrói culturalmente ao longo do tempo. A complexidade de se realizar pesquisas com abordagens comunitárias e participativas pautou duas atividades realizadas, na semana passada, na Fiocruz Brasília.
No dia 17 de abril, a professora Dulce Ferraz, da Escola de Governo Fiocruz – Brasília, fez um apanhado histórico sobre as abordagens comunitárias participativas, desde o pioneirismo de Kurt Lewin, com a pesquisa – ação, na década de 1940, para quem uma pesquisa que produzia nada além de livros não era suficiente. Ela resgatou o papel da América Latina e das lutas pela democracia, citando brasileiros envolvidos com a temática, como Paulo Freire, Silvia Lane e Orlando Fals-Borda. Segundo Dulce, o principal benefício da participação cidadã na pesquisa está em orientar as necessidades de investigações sobre temas relevantes para as pessoas envolvidas. É importante, porém, estar atentos ao fato de que as comunidades não estão à disposição da pesquisa, daí a necessidade de se negociar formas de participação e remuneração dos envolvidos.
Já Marie Preau, professora de psicologia social da saúde da Universidade Lumière Lyon 2, apresentou o desenvolvimento das pesquisas participativas da França como exemplo de democracia em saúde. Segundo ela, nesse tipo de pesquisa, há um grande desafio para se estabelecer uma relação de confiança com as pessoas da comunidade, pois elas devem se sentir confortáveis com os pesquisadores. Estes precisam também de formação e de um reposicionamento, com maior sensibilidade para falar de maneira simples e sem termos rebuscados, de modo que pessoas não letradas ou não acadêmicas entendam. “Pesquisa comunitária é tão científica quanto qualquer outra, e leva tempo para começar, pois criar conexões com as pessoas é muito importante”, ressaltou. Outro desafio explicitado pela convidada está em buscar chamadas e projetos que permitam remuneração de pessoas e instituições que não tenham diploma universitário.
Outro convidado da atividade foi o fundador do Instituto Juruá, João Vitor Campos e Silva. Ele apresentou os princípios do Instituto, que tem suas linhas de pesquisa voltadas à saúde única, englobando saúde animal, ambiental e humana, e busca trabalhar com a conservação de base comunitária. Formado por conservacionistas e pesquisadores em parceria com lideranças comunitárias e associações locais na Amazônia, o Instituto oferece treinamento para o manejo sustentável dos recursos naturais e proteção do território. Em sua apresentação, João Vitor questionou os participantes sobre como aliar a proteção da natureza e o bem-estar dos povos, e trouxe diferentes exemplos do impacto ecológico da proteção comunitária.
A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, ressaltou que atividades como esta cumprem o intuito de qualificar as agendas pedagógicas institucionais com parcerias internacionais, para se montar uma agenda coletiva de pesquisa. Para a diretora da Escola de Governo Fiocruz-Brasília, Luciana Sepúlveda, é importante que servidores tragam para casa as redes internacionais, o que não se resume à questão metodológica.
A atividade integrou os Seminários Internacionais do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas em Saúde, da Escola de Governo Fiocruz – Brasília.
Em breve, a gravação da atividade estará disponível no canal da Fiocruz Brasília no YouTube.
Para ver as fotos do evento, acesse o álbum no Flickr.
Reunião científica
No dia seguinte à atividade aberta ao público, pesquisadores de diferentes áreas da Fiocruz Brasília participaram de uma reunião científica em que apresentaram iniciativas de pesquisa com participação comunitária desenvolvidas pela instituição. Confira abaixo as áreas e estudos apresentados:
Da Fiocruz Mato Grosso do Sul, foi apresentado como o aplicativo Guardiões da Saúde vem sendo implementado na região.
Veja o álbum de fotos da reunião científica