“Eu sou caracol
Eu sou uma mulher negra e lgbt que joga futebol
Eu sou o tipo de pessoa que gosta de brincar
Eu sou sonhadora
Eu sou uma criança e sou brava (…)
Eu quero comer
Quero paz, igualdade e lealdade
Quero amor
Quero o que é meu por direito”
A poesia que abre a matéria foi criada com crianças e adolescentes de serviços de acolhimento do Distrito Federal durante atividade do projeto “Territórios da Construção de Si: Processos de desinstitucionalização de jovens e adolescentes pela maioridade”, desenvolvido, desde 2021, pela Fiocruz Brasília em parceria com a Promotoria de Justiça da Defesa da Infância e da Juventude do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Trata-se de uma pesquisa ação que visa o desenvolvimento de ações inovadoras que privilegiam a construção da autonomia, a ampliação das trocas sociais e a garantia de acesso a direitos básicos e fundamentais, como saúde, moradia, educação, trabalho e renda a adolescentes e jovens acolhidos.
Na última sexta-feira (25), cerca de 20 jovens das unidades de abrigos incluídas no projeto participaram da 11ª Conferência Distrital dos Direitos da Criança e do Adolescente, realizado na Universidade Católica de Brasília, com o tema “Situação dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes em Tempos de Pandemia pela Covid-19: violações e vulnerabilidades de crianças e adolescentes, ações necessárias para reparação e garantia de políticas de proteção integral, com respeito à diversidade”. Eles atuaram diretamente em painéis de discussão sobre os tema da saúde mental e participação social e apresentaram a poesia “Eu sou, Eu vim, Eu vou, Eu quero” construída em metodologia de poesia coletiva durante a Roda de Celebração dos 33 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente. A poesia foi criada como carta para juízes da Coordenadoria da Infância e da Juventude do DF presentes no evento e traz a voz direta dos adolescentes contando sobre si e seus desejos e necessidades. Confira aqui. O convite para participação foi feito pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do Distrito Federal (CDCA), buscando aumentar a participação direta de crianças e adolescentes nos painéis e atividades da Conferência.
Como parte das ações de 2023, entre agosto e março os adolescentes participaram de oficinas expressivas; ciclo de reflexões sobre os territórios de formação do trabalho, em parceria com o Projeto Interdisciplinar em Saúde Mental (Prisme) do UniCEUB; da 17ª Conferência Nacional de Saúde, com apresentação cultural, exposição de colagens e intervenção cultural de reportagem audiovisual; e do encontro de acolhidos e Roda de Celebração dos 33 anos do ECA, promovida pelo TJDFT.
Na preparação da participação no evento, pesquisadores da Fiocruz Brasília realizaram reuniões de discussão dos painéis com o Conselho do CDCA e promoveram oficinas virtuais com os adolescentes, discutindo os temas e provocando reflexões sobre o lugar dessa população nas cenas políticas da Conferência. “A concepção e linguagem das atividades foram pensadas de forma colaborativa para ampliar a visibilidade das expressões adolescentes e potencializar o pertencimento social. Dentro das ações de campo do projeto, que pretende estimular, refletir e amplificar a voz dos adolescentes nas Políticas Públicas de Saúde e Direitos Humanos, esta parceria com o CDCA fortalece reflexões e vínculos a partir do saber e dos fazeres das duas instituições”, afirmou a coordenadora da pesquisa, Fernanda Severo.
* Com informações de Fernanda Severo e Bárbara Anaissi (Nusmad), e edição de Nathállia Gameiro (Ascom)