Seminário debate uso de Cadernetas Agroecológicas durante Marcha das Margaridas
Heloisa Caixeta – com edição da Ascom da Fiocruz Brasília
A Fiocruz Brasília marcou presença na 7ª Marcha das Margaridas, ao realizar o Seminário Cadernetas Agroecológicas e as Margaridas pela Reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver. O evento foi realizado por conta do projeto “Gênero, Quintais Produtivos e Desenvolvimento Territorial Saudável, Sustentável e Solidário”, fruto de parceria com a Confederação Nacional dos Trabalhadores Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) e o Grupo de Trabalho de Gênero da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).
As Cadernetas Agroecológicas são uma importante ferramenta para a vida das mulheres no campo. Com elas, é possível registrar informações sobre práticas agrícolas e das finanças envolvidas no processo de trabalho das agricultoras. Com as cadernetas, é possível mensurar o trabalho muitas vezes invisível realizado pelas trabalhadoras em seus quintais agroecológicos, além de auxiliar na tomada de decisões, e auxiliar no reconhecimento do trabalho gerado nos territórios.
Durante a atividade na última terça-feira (15/8), agricultoras de Minas Gerais, Piauí, Rio Grande do Sul e Goiás compartilharam suas experiências com o uso da Caderneta Agroecológica em seus territórios, e puderam dividir as informações com demais trabalhadoras do campo. O empoderamento feminino deu o tom para que as mulheres presentes no seminário pudessem saber mais sobre o projeto e sobre as cadernetas. As experiências compartilhadas valorizam o trabalho feminino e visibilizam suas contribuições para a geração de renda, para a segurança alimentar e nutricional e para a construção de territórios saudáveis, sustentáveis e solidários para as populações do campo, florestas e águas.
Segundo a pesquisadora da Fiocruz Brasília e uma das responsáveis pelo projeto Gênero e Quintais Produtivos, Socorro Souza, é importante disseminar a metodologia das cadernetas pelo país. “A ciência tem o papel de nos fazer entender que no campo, na floresta e nas águas tem muita riqueza. Tem muita injustiça social, mas tem muita luta, garra, saber e experiência”, afirmou.
Socorro acrescenta que as Cadernetas Agroecológicas mostram que são um instrumento, uma metodologia, para tirar da invisibilidade estas mulheres trabalhadoras. “Este seminário é para dizer o quanto a agroecologia é importante, o quanto as mulheres que fazem agricultura familiar são importantes, e o quanto podem gerar renda e saúde”, acrescentou.
A agricultora do Piauí, Francisca Maria, compartilhou a mudança em sua vida após o preenchimento da caderneta. “Se for colocar na ponta do lápis junto com as contas e as despesas dos homens, sinto muito, mas nós não ficamos atrás. As mulheres produzem, têm coragem, força e garra”, afirmou, ao mostrar orgulhosa a caderneta preenchida.
Fabiana Damásio, diretora da Fiocruz Brasília, ressaltou a importância de ouvir as experiências das mulheres. “Cada história contada aqui, de cada canto do Brasil, nos emociona e faz com que o nosso trabalho ganhe mais sentido. É importante que essas histórias sejam divididas, para seguirmos pensando nas políticas públicas, pois é assim que elas ganham força. Agroecologia promove saúde. E é no espaço da terra em que a gente segue, cada vez mais, renovando as nossas lutas”, destacou.
Para Denise Oliveira, vice-diretora da Fiocruz e coordenadora do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura (Palin), a caderneta é uma das potências para a Marcha das Margaridas. “Nós vemos aqui a cultura matriz, ou seja, a cultura da mulher. Temos na nossa história o distanciamento da mulher do papel que ela teve de importância. Hoje ele é invisível, reprimido de várias formas. E essa caderneta insere isso”, afirmou.
“Se nós contabilizarmos a produção dos quintais agroecológicos do país e inseri-la no orçamento público, poderíamos reduzir o déficit público de uma forma muito consistente. A Fiocruz, junto com a Contag, pode ajudar a inserir a Caderneta Agroecológica nas políticas públicas, os quintais produtivos, os produtos das plantas medicinais, e gerar mais riqueza para quem produz e saúde para quem consome”, apontou o coordenador do Colaboratório de Ciência, Tecnologia, Inovação e Sociedade da Fiocruz Brasília, Wagner Martins, ao ponderar que o trabalho produzido pelas mulheres do campo pode ser incorporado ao orçamento brasileiro.
A secretária de Política Agrícola da Contag, Vânia Marques Pinto, reforçou a alegria de encontrar toda a diversidade que a Marcha das Margaridas proporciona. Isso mostra em qual território estamos pisando: um território de vida. “Porque, para nós, mulheres do campo, o campo é lugar de vida. E é nessa perspectiva que discutimos a agroecologia, as cadernetas, esse instrumento importante para a gente perceber a sociobiodiversidade, a dinâmica econômica dos quintais produtivos, e esse projeto que temos em parceria com a Fiocruz”, ressaltou.