CienciArte na prática

Fernanda Marques 2 de maio de 2024


Sete obras de artistas brasileiros compõem a exposição “LUZ ÆTERNA – Ensaio Sobre o Sol”.  São instalações audiovisuais que proporcionam experiências sensoriais, interativas e imersivas, unindo arte, ciência e tecnologia. Essas experiências foram vivenciadas pelos estudantes do Programa de Vocação Científica (Provoc) da Fiocruz Brasília, que visitaram o Centro Cultural do Banco Brasil no dia 18 de abril para conhecer as obras. O objetivo da atividade pedagógica era que os jovens tivessem contato com narrativas que incluem a ciência em dinâmicas lúdicas e poéticas. 

 

Para potencializar a visita, os estudantes foram incentivados a fazer a leitura do artigo “CienciArte© no Instituto Oswaldo Cruz: 30 anos de experiências na construção de um conceito interdisciplinar”, publicado em 2018 na revista “Ciência e Cultura”. Assinado pela pesquisadora Tania C. de Araújo-Jorge e vários outros autores, o artigo aborda a trajetória de atividades unindo ciência e arte que, há décadas, vêm sendo desenvolvida no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Para o objetivo com o Provoc, destacou-se, em especial, o “Manifesto CienciArte”, lançado por pesquisadores americanos em 2011 e, posteriormente, traduzido para o português pela pesquisadora Tania e outras duas colegas.

 

O “Manifesto” contém 16 tópicos, e os cinco primeiros dizem o seguinte: “1) Tudo pode ser compreendido através da arte, mas esse entendimento é incompleto; 2) Tudo pode ser compreendido através da ciência, mas esse entendimento é incompleto; 3) CienciArte nos permite alcançar uma compreensão mais completa e universal das coisas; 4) CienciArte envolve a compreensão da experiência humana da natureza pela síntese dos modos artístico e científico de investigação e expressão; 5) CienciArte funde a compreensão subjetiva, sensorial, emocional e pessoal com a compreensão objetiva, analítica, racional e pública”.

 

Antes de iniciar a visita, as orientadoras do Provoc conversaram com os estudantes sobre os conceitos de ciência e arte, que, embora distintas, podem contribuir uma com a outra. Sem perder sua essência, elas podem dialogar na produção e divulgação de conhecimentos. Já durante a visita, os estudantes foram incentivados a refletir sobre a criatividade dos artistas para expressar dados científicos, e também sobre como a arte mobiliza os diversos sentidos humanos para a percepção desses dados.

 

Tendo como fio condutor a magnitude do Sol e seu poder de influência nos mais variados aspectos da vida, as obras de “LUZ ÆTERNA” combinam dados reais coletados do universo, elementos astrofísicos e biológicos, algoritmos, luzes, sons e movimentos. Após interagirem com essas obras, os estudantes foram questionados sobre como o encontro entre ciência e arte, a exemplo da experiência que tiveram na exposição do CCBB, poderia contribuir para o trabalho que eles desenvolvem com seus orientadores no Provoc. As respostas você confere a seguir: com a palavra, nossos jovens artistas-cientistas!

 

“A exposição no CCBB contava com várias salas que focavam na interação entre o espaço e as pessoas. Ela apresentava diversos efeitos especiais com obras de arte feitas a partir de imagens e sons capturados diretamente do espaço. Explosões solares foram transformadas em arte utilizando uma combinação de luzes. Isso demonstra que arte e ciência podem coexistir, ao combinar pesquisas e transformá-las em expressões artísticas. Além disso, a exposição proporcionava uma experiência imersiva, permitindo aos visitantes explorar a beleza e complexidade do universo de forma única. Ao unir a criatividade artística com o rigor científico, a mostra inspirava reflexões sobre a nossa relação com o cosmos e o papel da arte e da ciência na nossa compreensão do mundo.” Heitor de Oliveira Fortunato

 

“A visita ao CCBB foi muito boa, aprendi bastante e me diverti também. Entendi mais sobre o diálogo entre a arte e a ciência, muito bem elaborado nas obras da exposição, que mostra como uma área é capaz de enriquecer a outra. As obras da exposição ‘Luz Æterna’ foram produzidas para que o espectador pudesse interagir com o conteúdo, em uma experiência de imersão contando com as imagens, luzes e sons. Acredito que essa exposição agrega elementos de forma muito positiva ao meu trabalho no Provoc, pois utiliza ferramentas visuais. Pretendo utilizar esses recursos e essa experiência em meus futuros trabalhos para enriquecer e valorizar cada vez mais aquilo que for produzido.” Karina Ribeiro Moreira

 

“A mistura de ciência e arte, como vimos na exposição Luz Æterna, no CCBB, pode ajudar no trabalho de divulgação científica que desenvolvo no Provoc. A ideia de unir ciência e arte, expressa no conceito CienciArte, traz novos jeitos de mostrar a ciência de forma interessante e atrativa. Ao usar elementos artísticos na divulgação, podemos despertar a curiosidade e fazer as pessoas se interessarem mais pela ciência. É como juntar o útil ao agradável, misturando criatividade e conhecimento para tornar a ciência mais acessível. Desse modo, posso fazer meu trabalho no Provoc se destacar e atrair mais pessoas para conhecerem e se envolverem com a Fiocruz e a ciência.” Maria Clara Durães Vieira

 

“Na minha visita ao CCBB, não pude deixar de reparar que a arquitetura do centro cultural é bem planejada, e transmite a ideia de arte desde a entrada do prédio. Já na exposição, percebi que algumas obras usavam sons: não apenas víamos a obra, como também a escutávamos, o que complementava o entendimento – ao escutarmos um som relaxante junto com uma obra visualmente calma, compreende-se melhor o sentimento que o artista tenta passar. Em uma das obras, não foram usados painéis, mas sim alguns projetores que cobriam a sala toda, com um efeito de imersão. A visita me fez questionar como o exterior de algo deve ser bem feito, assim como sua parte interior. O contato com determinados tipos de arte pode proporcionar uma impulsão para realizarmos melhor um trabalho, ou um sentimento de calmaria.” Davy Ferreira Gomes Santana

 

“O passeio no CCBB foi muito bom. Lá eu vi uma exposição interessante, vi uma bola que parecia explosão do Sol. Na exposição li que os sons das obras eram tradução de dados lá do espaço. Tinha uma sala muito legal com várias telas de led. Foi um passei muito legal.” Arthur de Oliveira Fortunato

“A junção entre ciência e arte, como desenvolvida na exposição ‘Luz Æterna’, pode enriquecer significativamente o meu trabalho no Provoc. Ao colocar elementos artísticos e estéticos na comunicação e disseminação de informações científicas sobre hábitos alimentares saudáveis – tema do meu projeto na Fiocruz -, podemos criar experiências mais envolventes para os jovens. Por meio de obras visuais, performances e instalações interativas, podemos transformar dados e pesquisas do Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares (OBHA) em vídeos criativos, inspirando mudanças de comportamento e promovendo uma relação mais significativa com a alimentação saudável. Essa abordagem multidisciplinar não apenas torna o conteúdo mais acessível, mas também estimula a inovação na educação nutricional.” Davi Rodrigues Soares

 

“A visita guiada ao CCBB foi, de fato, uma das melhores que já fiz, pois conseguimos perceber como a luz, usada da forma certa, pode nos proporcionar sensações incríveis, como aconteceu comigo observando algumas das obras em exposição. A luz faz parte não só da vida moderna, mas da nossa essência. Durante a visita, li uma frase que dizia mais ou menos assim: ‘A arte muda o jeito de pensar, a arte muda o pensamento, a arte muda o mundo’. Parei para refletir e isso é verdade! Quando estamos abertos a conhecer novas visões do mundo, aguçamos a nossa própria visão de mundo.” Ismael O.S. Almeida 

 

“No meu projeto do Provoc, tenho estudado sobre a escritora Conceição Evaristo e os temas que ela destaca em sua escrita, como a luta contra o racismo, a valoriazação da cultura afro-brasileira e a busca por uma voz própria na sociedade. Ao visitar a exposição no CCBB, e refletir sobre como as obras de arte expostas comunicam histórias, consegui relacionar essa experiência ao conceito de escrevivência, criado pela escritora. Ao observar as representações visuais e absorver as narrativas presentes na exposição, foi como estar participando de um ato de escrevivência, prática de contar e recontar as próprias experiências como forma de resistência e afirmação de identidade.” Joice Kelly Nascimento Cordeiro

 

“No contexto atual, nota-se que a arte e a ciência estão integradas, abrangendo diversas linguagens, culturas e movimentos. Na exposição, cientistas e artistas colaboraram para realizar obras utilizando variadas estratégias, como esculturas, pinturas e até instalações interativas com simulações computacionais. Essas convergências inspiram inovações que entrelaçam objetividade e criatividade, dando vida a um diálogo dinâmico e transformando tanto a ciência quanto a arte. A experiência, na saída de campo ao CCBB, abriu minha visão de como a arte, juntamente com a ciência, pode produzir obras fascinantes – sobre a luz solar e a aurora boreal, por exemplo. Foi uma experiência bem diferente da arte que estou acostumada a ver, com junções entre imaginação e conhecimento humano. Arte e ciência têm uma importância significativa, pois nos permitem compreender o mundo de uma forma mais completa.” Sthéfane Meira Oliveira

 

“O manifesto CienciArte, além dos demais objetivos relacionados à produção do conhecimento, refere-se à sinergia entre duas áreas distintas que devem se encontrar em prol do bem público: ciência e arte. A primeira geração Provoc da Fiocruz Brasília e os departamentos da instituição onde os estudantes atuam – no meu caso, na Assessoria de Comunicação – buscam complementar as lentes da ciência com as da arte, de modo a fazer com que ambas tenham protagonismo, ao lado da divulgação científica. Entretanto, assim como, muitas vezes, as vozes dos jovens e dos mais velhos se digladiam para monopolizar a narrativa da história, a subjetividade da arte e a objetividade da ciência podem aparecer em disputa, uma em detrimento da outra. Embora, culturalmente, essas forças possam ser associadas como antônimas, a exposição ‘Luz Æterna’ do CCBB conseguiu sintetizar aquilo que foi idealizado por Tania C. de Araújo-Jorge e outros profissionais, juntando (literalmente) as lentes da ciência com as da arte com perfeita sinergia e ausência de subjugação. Cabe a nós seguir esse legado e juntar nossas forças uns aos outros, fazendo com que o novo e o antigo, a arte e a ciência se beneficiem com a união que nasce da CienciArte: vamos mudar o mundo!” Júlio César Silva de Azevedo

 

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