Nathállia Gameiro
As notícias falsas sobre política, ciência, saúde, meio ambiente e economia estão em todos os lugares, especialmente na internet. O tema foi debatido durante live realizada na tarde desta quarta-feira, 25 de novembro, pela Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul e a Fiocruz.
O coordenador da Assessoria de Comunicação da Fiocruz Brasília, Wagner Vasconcelos, ressaltou que este não é um fenômeno novo: as informações falsas sempre existiram, com diferentes nomes e abordagens. A novidade é a forma e a velocidade de propagação, pela internet e mídias sociais, a um clique. Hoje, o WhatsApp é a maior fonte de informação do brasileiro e, de acordo com estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), a probabilidade de uma notícia falsa ser compartilhada na internet é até 70% maior, se comparada a uma notícia verdadeira.
O jornalista explicou que isso se dá por diversos motivos, entre eles, a crise generalizada de confiança na política, no estado, na imprensa e nas instituições, associada à busca de informação amparada em crenças, gostos, desejos e preferências. Todos esses aspectos favorecem o cenário em que as falsas informações – sejam elas completamente erradas, parcialmente verdadeiras ou corretas, mas descontextualizadas – se multiplicam e causam grande impacto para diversas áreas, incluindo a saúde pública.
“Acreditamos nas pessoas próximas, familiares e grupos de amigos. São espaços em que nos sentimos mais confortáveis para construir e compartilhar informação, constituindo um lugar de verdade. O apelo ao emocional tem se sobreposto aos fatos objetivos”, completou.
Wagner apresentou algumas características de conteúdos falsos, como sátiras e paródias, que não têm a intenção de enganar as pessoas, mas, dependendo do local onde são propagadas, podem se tornar uma informação não verdadeira. Podem ser ainda conteúdos fabricados, sem nenhuma relação com os fatos, que imitam a forma dos jornais tradicionais para dar legitimidade; vídeos e imagens manipulados ou descontextualizados para criar uma falsa narrativa; ou até mesmo algumas formas de publicidade e propaganda construídas como estratégias de grupos para defender uma certa visão de mundo e desenvolver histórias que reforcem essa visão.
O pesquisador reforçou que a comunicação da Fiocruz Brasília assumiu, há alguns anos, o compromisso de lidar com as fake news em saúde, promovendo eventos e divulgando conteúdos sobre o tema, e, no início da pandemia, combatendo as informações falsas que surgiram vinculadas ao nome da Fiocruz. “Na ciência, as informações das pesquisas podem ser transitórias, e muitas informações ultrapassadas se transformam em fake news por essa razão”, lembrou.
Para identificar um conteúdo falso, Wagner elencou alguns passos: ler a notícia inteira; verificar se a manchete e o texto não são alarmistas ou exagerados; prestar atenção se as informações não são vagas; verificar a data de publicação e se a imagem é verdadeira; checar a fonte; procurar se a informação foi divulgada em veículos de imprensa e em sites de verificação de notícias, como Boatos.org, Saúde sem Fake News e Fato ou Fake. Ele destacou ainda frases comuns em mensagens falsas: “mande esse texto para os seus contatos” ou “compartilhe e faça chegar ao maior número de pessoas”.
“Se apresentar qualquer uma dessas características, não compartilhe. Somos responsáveis pela nossa saúde e pelas pessoas que nos cercam, se pensarmos assim, teremos mais cuidado na hora de compartilhar informações. Nunca vamos conseguir eliminar as falsas informações, mas encarando o problema e entendendo as características desses conteúdos, saberemos lidar um pouco melhor com eles”, ressaltou.
A pesquisadora da Fiocruz Mato Grosso do Sul Ana Guerrero reforçou que as informações estão na palma da mão e que, por isso, devemos nos preocupar com o uso racional delas. Como alternativa de enfrentamento às fake news, o pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) André Pereira Netto apresentou a certificação de sites de instituições de saúde com o Selo Sérgio Arouca. A proposta busca avaliar alguns aspectos técnicos, de interatividade, legibilidade, abrangência e acurácia.
“É responsabilidade do poder público oferecer informação de qualidade para a população. Informação e comunicação são estratégicas para prevenir doenças, favorecer a adesão ao tratamento, estimular o autocuidado, promover a saúde, diminuir atendimentos desnecessários e os gastos públicos”, afirmou. André apresentou os resultados da análise de sites de instituições de saúde sobre tuberculose, dengue e o novo coronavírus. Depois do diagnóstico, é sugerido a adaptação e a reformulação do site para que obtenha o selo.
O evento foi proposto pelo presidente da Frente Parlamentar de Enfrentamento à Tríplice Epidemia: Dengue, Chikungunya e Zika, deputado Renato Câmara (MDB). Para assistir à live completa, clique aqui.