“É tão difícil respeitar? É tão complicado deixar as pessoas serem quem são?” O questionamento foi feito por Fábio Barcelos, representante do Coletivo de Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência da Fiocruz Brasília, durante o encontro “Conexão sem Limites: Inclusão e Acessibilidade”, na manhã da última sexta-feira (20/9). Em resposta à indagação de Fábio, o evento mostrou que, embora os desafios ainda sejam muitos, essa agenda tem avançado. As experiências compartilhadas comprovaram que promover a diversidade e a equidade geram benefícios não só para as pessoas com deficiência, mas enriquece a experiência de toda a comunidade acadêmica. “É uma alegria ver nossa instituição crescendo na área de acessibilidade e inclusão”, disse Fábio.
De acordo com Luciana Sepúlveda, diretora da Escola de Governo Fiocruz – Brasília, uma escola ensina, mas ela também precisa aprender. “Aprender constantemente e se transformar para acolher e conviver com as diversidades”, afirmou. A Direção da Escola tem recebido com frequência sugestões para melhorar seus serviços, o que é algo bastante positivo. “Provavelmente, não teríamos essa percepção do que pode melhorar se não tivéssemos pessoas diversas aqui”, destacou. “Inclusão e acessibilidade não são apenas palavras em documentos. São um compromisso que se manifesta em nossas práticas”, concordou Fabiana Damásio, diretora da Fiocruz Brasília.
Com o tema “Neurodiversidade e Educação Inclusiva no Ensino Superior”, o evento teve início com a exibição do trailer do filme “Meu Amigo Lorenzo”, do diretor André Luiz Oliveira, documentário que conta a história do encontro de um menino autista com a música. Em seguida, o próprio Lorenzo Barreto, hoje com 21 anos, encantou a plateia tocando e interpretando algumas canções, acompanhado pelo cineasta. “Sem a arte, o mundo despedaça”, garantiu André. A importância do cuidado individualizado e o papel da música na construção de vínculo foram consenso no debate, que contou também com a presença de Aurea Daia, a mãe do rapaz. “A minha vida se tornou algo que eu não imaginava. Uma vida de renúncias, mas também de ganhos. E o maior deles é o fato de que o Lorenzo é uma pessoa feliz”, sublinhou.
A manhã terminou com uma roda de conversa que reuniu Millena Moraes, aluna do curso de direito e integrante do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade de Brasília (UnB); Melissa Deuner, coordenadora dos cursos de Farmácia e Psicologia da Anhanguera de Brasília; e Fabiana Lino, mestranda em Políticas Públicas em Saúde da Escola de Governo Fiocruz – Brasília.
Melissa defendeu a importância da representatividade nas instituições e da convivência com a diversidade para uma verdadeira compreensão das diferentes necessidades, que requerem uma soma de cuidados e atendimento multidisciplinar. “Em vez do ultrapassado ‘trate o outro como você gostaria de ser tratado’, precisamos adotar o ‘trate o outro como ele gostaria de ser tratado'”, frisou. “Duas pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem ter necessidades totalmente diferentes em um momento de crise: para uma pode ser um abraço e para outra, ficar sozinha”, complementou Fabiana.
Pessoa com deficiência, Millena, de 25 anos, contou que, desde criança, nutria o sonho de estudar direito. Chegar e permanecer na universidade tem sido um desafio, mas a jovem conhece o poder transformador da educação e tem sido incansável na luta por inclusão e acessibilidade, sendo reconhecida como uma liderança cujo legado já é notável. Lutou para que sua mãe e irmã menor de idade pudessem morar com ela na Casa do Estudante da UnB; para que o prédio da Faculdade de Direito se tornasse mais acessível; para que eventos acadêmicos fossem menos excludentes. E continua lutando para que estudantes com deficiência, cada vez mais, ocupem espaços políticos na universidade. “Só o céu será o meu limite”, assegurou. “Millena não para, e eu sempre deixei que ela não tivesse limites. Eu sabia que ela poderia contribuir para o futuro do país”, disse Jocília Silva, a mãe da estudante.
O evento da Fiocruz Brasília marcou o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado em 21 de setembro. A programação teve, ainda, a apresentação do livro “Eu escolhi viver e não sobreviver!”, de Mirian Grassi.
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