Compromisso com o povo do campo, floresta e águas

Mariella de Oliveira-Costa 17 de setembro de 2021


A trajetória profissional do cientista político André Fenner envolve a relação entre saúde, ambiente e trabalho, três palavras que nomeiam uma das áreas de atuação da Fiocruz Brasília, da qual já foi coordenador. Ele assumiu o serviço público no cargo de pesquisador em saúde pública em 2014. Antes disso, porém, já havia atuado na instituição e considera que uma das riquezas de seu trabalho está na formação inovadora de pessoas comprometidas com as populações do campo, floresta e águas.

 

https://www.youtube.com/watch?v=4G6hjUg84l8

 

Como você decidiu trabalhar na Fiocruz Brasília?

Nunca tinha pensado em trabalhar na Fiocruz, mas a instituição me acolheu em um momento difícil. Após dez anos no exterior para graduação e mestrado acadêmico em Ciências Políticas, na Universidade de Genebra, organizei, no Ministério do Meio Ambiente, o Fórum Intergovernamental de Segurança Química, mecanismo da Organização Mundial da Saúde (OMS), durante três anos (2000-2003). No ano seguinte, fui trabalhar no Ministério da Saúde, na Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), onde organizei a área internacional com acordos e cooperações para vigilância ambiental e, depois, também para saúde do trabalhador, com a criação do Departamento de Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador na SVS. Na Fiocruz Brasília, coordenei o Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT) de 2014 a 2018, mas, antes, trabalhei para a Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, na Coordenação Executiva do Centro Colaborador da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e OMS em Saúde Pública e Ambiente, de 2011 a 2013.

 

O que você destaca em seu tempo de trabalho no serviço público? 

Meu envolvimento com as populações do campo, floresta e águas, seja na organização do Projeto de Formação de Lideranças das Populações do Campo, Floresta e Águas, no Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família com Ênfase em População do Campo, ou na Coordenação da Turma de Mestrado Profissional em Saúde, Ambiente e Trabalho no Ceará.

 

Com a Covid-19, seu trabalho foi alterado de que forma?

Ficou mais solitário, sem a companhia dos colegas, mas com a alegria de poder estar em casa e cuidando da família, além da companhia dos meus pets Bella, Princesa e Jack, incansáveis em me ajudar a manter a saúde mental nesses tempos. Grande parte do trabalho foi executada em formato virtual, mas houve momentos de encontro presencial com a equipe. Destaco a importância do equilíbrio em saúde mental, e o apoio e o carinho entre os integrantes da equipe.

 

Há algo que tem interesse em executar e ainda não foi possível?  

Tenho muitos sonhos e ideias para executar no meu trabalho na Fiocruz; as possibilidades são imensas com a criação de novos cursos livres, de especialização, mestrado ou doutorado. A falta de recursos humanos e financeiros ainda é um grande limitador que enfrentamos na realização desses processos e projetos.

 

O mote dos 45 anos da Fiocruz Brasília traz as palavras solidariedade, amorosidade e criatividade. Pode contar como essas três palavras se conectam com o seu trabalho na instituição? 

O PSAT é uma área que tem desenvolvido novas estratégias de formação-ação em diversas propostas educativas inovadoras, em diversos estados, como Ceará, Tocantins, Pernambuco, Rio de Janeiro, Piauí, Rio Grande do Norte e Distrito Federal. Acredito que os processos de formação-ação realizados pelo PSAT são: amorosos na criação de laços de pertencimento e entendimento entre educandos e educadores; solidários no compartilhamento dos conhecimentos construídos em conjunto entre educandos e educadores; e criativos no fazer com a organização dos núcleos de aprendizagem e ensino, nos tempos educativos (tempo aula, comunidade, cuidado, leitura, atividade cultural, seminários e oficinas), e na estruturação de uma Coordenação Político-Pedagógica (CPP). Abaixo trago depoimentos de alunos dos nossos cursos, deixados por eles em seus portfólios, que ilustram essa conexão:

 

“Confesso que nesse momento tive a certeza de que tinha feito a escolha certa para mais uma etapa de minha formação acadêmica e profissional. A apresentação de cada um naquele grupo de alunos era de uma diversidade incrível, diferentes categorias profissionais, vários movimentos sociais representados, pessoas de diferentes espaços de atuação na área da saúde, assistência social, ambiental etc. Sabia que era apenas o começo e que muita coisa ia acontecer no decorrer do curso; no entanto, eu sabia que seria uma jornada incrível e de afirmação do compromisso em defesa da saúde pública de qualidade, assim como na defesa dos direitos sociais.” (Ana Regina Barbosa,  Especialização em Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho, 2018)


“Entre tantos aprendizados oportunizados, algo que salta como premissa é que somos seres inacabados e, por isso, devemos estar abertos e abertas aos aprendizados que nos são oportunizados na trajetória cíclica da vida”. (Camila Batista Silva, Especialização em Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho, 2018)


“Para Cora Coralina, o que vale na vida não é o ponto de partida, e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim, a gente tem o que colher. A colheita trouxe o novo, o desejo de continuar, o desafio de superar as horas largas e, ao mesmo tempo, encurtadas, a vontade de construir um mundo mais feliz e mais justo, no qual impere a justiça social.” (Suyane de Lima Reis Fernandes, Especialização em Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho, 2018)