Centro de Estudos Ironides Rodrigues (CEABIR), Niterói/RJ
O projeto “Comunicação Comunitária para uma Plataforma de Direitos à Vida Digna em Territórios Populares” consiste em uma formação com e para mulheres (cis e trans) negras residentes em favelas ou periferias urbanas. Inicialmente com foco na comunidade local, o bairro Engenhoca, em Niterói (RJ), o curso já demonstrou um alcance maior – entre as 30 participantes, estão também moradoras de outros municípios do estado, como São Gonçalo, Maricá e Rio de Janeiro. Esse resultado é fruto das articulações com entidades parceiras para o desenvolvimento compartilhado das ações. As inscrições para o curso ficaram abertas de 23/01/2023 a 10/02/2023.
As atividades começaram com a organização do espaço físico do CEABIR para receber as participantes: arrumação do salão com mobiliário adequado; melhoria da conexão e velocidade de internet; instalação de infraestrutura de informática (computador, data show e tela). Outra atividade inicial foi a elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP) do curso, orientado pelas obras de Paulo Freire (pedagogia do oprimido) e Xesus Jares (pedagogia da convivência). O PPP se baseia na construção compartilhada de saberes e fazeres reflexivos, críticos e participativos com as pessoas envolvidas.
O encontro inaugural do curso foi realizado na sede do CEABIR em 04/03/2023, com o tema “Comunicação, Direitos Humanos e Saúde da Mulher Negra (Cis e Trans)”. Bruna Benevides, da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), e Sônia Beatriz dos Santos, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), foram as palestrantes, que contou também com a participação de Paulo Lara, da Fiocruz, assessor sociotécnico que acompanha o projeto. O debate abordou, sobretudo, o racismo, que atinge as mulheres negras com violências físicas e simbólicas, e torna o Brasil um dos países com maiores índices de feminicídio no mundo. Foram discutidas formas para o enfrentamento organizado e consciente dessa violência nos territórios periféricos, onde a situação se agrava ainda mais pelas condições impostas de invisibilidade sociopolítica.
As atividades seguem até maio, no formato presencial, aos sábados, e no formato virtual, nas noites de quarta-feira. Eles são distribuídos em três módulos: encontros formativos; oficinas de técnicas e tecnologias; e ações complementares.
Confira o álbum de fotos dos encontros presenciais
Os encontros formativos trazem debates críticos sobre comunicação, direitos humanos e saúde, e suas relações raciais, territoriais e de poder, destacando questões pertinentes à comunicação comunitárias e aos direitos das mulheres para a ampliação de repertórios de atuação em territórios populares. As oficinas são dedicadas ao uso de plataformas digitais como Instagram e WhatsApp, e ferramentas como o Canva, com exercícios de criação de peças de modo colaborativo. Já as ações complementares buscam compartilhar experiências de comunicação comunitária em favelas e periferias e aprofundar técnicas de criação e metodologias de divulgação de produtos de comunicação em redes digitais. A proposta é que, ao final, as participantes sejam protagonistas de uma campanha de direitos e saúde da mulher negra, por uma vida digna. Os exercícios e outras atividades da formação podem ser conferidos na página do CEABIR no Instagram.
É importante salientar que, ao longo de todo esse processo, são realizadas avaliações com todas as pessoas envolvidas, com o intuito de orientar os próximos passos. Busca-se compreender o alcance formativo das ações e seu impacto nos territórios, contribuindo para o planejamento das fases seguintes. A expectativa é que o curso possa ser reeditado em outras oportunidades, incluindo novos públicos.