Comunicação popular contra a Covid-19 é debatida no Conexão Fiocruz Brasília

Fernanda Marques 18 de junho de 2020


Fernanda Marques

 

Comunicadores populares e o novo coroanvírus foi o tema do Conexão Fiocruz Brasília realizado nesta quinta-feira, dia 18 de junho. O programa em estilo talkshow, transmitido ao vivo pelo YouTube, contou com a participação de comunicadores e estudiosos do assunto, que compartilharam suas reflexões e experiências no contexto da pandemia, além de responderem a perguntas enviadas pelo público por meio do chat. Como lembrou a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, essa edição do programa foi um dos desdobramentos da 1ª Oficina de Comunicadores Populares junto com a Fiocruz Brasília, que ocorreu online no dia 29 de maio. “Estamos empenhados em reforçar nosso trabalho e nossas articulações, especialmente junto às comunidades mais vulnerabilizadas”, disse a diretora. Ao longo do programa, que contou com intérpretes de Libras, destacou-se a comunicação como essencial à garantia do direito à saúde, sendo a própria comunicação, ela também, um direito fundamental.

 

Uma das iniciativas comentadas foi a Plataforma de Inteligência Cooperativa com Atenção Primária à Saúde para o Enfrentamento da Covid-19 (PICAPS),  que reúne ferramentas, métodos e abordagens de diferentes instituições, integrando academia, governo e sociedade. “É no território que a Covid-19 acontece. Portanto, é fundamental identificar no território as ameaças e vulnerabilidades, e só se consegue fazer isso com quem está no território, com destaque para os profissionais da atenção básica à saúde”, disse o coordenador de Integração Estratégica da Fiocruz Brasília e um dos idealizadores da PICAPS, Wagner Martins. A plataforma conecta os trabalhadores da atenção básica, que identificam as principais questões do território, e também pesquisadores, que buscam na literatura científica respostas às questões identificadas, de modo que informações confiáveis circulam de forma rápida e eficiente.

 

Outro ponto de conexão fundamental da plataforma são os comitês, formados por moradores, contribuindo, assim, para uma ciência mais cidadã. “Os comitês mobilizam lideranças comunitárias que conhecem o território e são fundamentais na construção de alternativas de solução”, sublinhou Wagner. “O papel do comunicador é mostrar não só os problemas do território, mas também suas potencialidades”, complementou Flora Fonseca, aluna da Escola de Governo – Fiocruz Brasília  e gestora de comunicação do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 da Cidade Estrutural (DF). “O comunicador tem que conhecer a história do seu território, buscar referências, conversar com as pessoas, ouvir, para compreender as demandas. Se as cidades foram ‘viciadas’ em nos separar, precisamos construir territórios mais saudáveis longe desse vício”, resumiu o jornalista e fotógrafo Webert da Cruz, integrante do coletivo Retratação, que atua no território do Mercado Sul, em Taguatinga (DF).

 

O projeto do qual Flora participa foi um dos 145 selecionados na chamada pública da Fiocruz para Apoio a Ações Emergenciais Junto a Populações Vulneráveis, no contexto da Covid-19. Outro projeto contemplado foi o do artista Fernando Rocha, o Mister MC, de Brazlândia (DF). Ele participou do Conexão por meio de um vídeo onde apresentou os objetivos do trabalho, que, entre outros aspectos, visa fomentar a produção artística sobre Covid-19 por meio da linguagem do hip hop, do grafite e do rap. “Os resultados dessa chamada pública foram além das nossas expectativas. Recebemos projetos para o enfrentamento do coronavírus, mas também com propostas de passos para resolver problemas que são estruturais na nossa sociedade”, comentou a jornalista Márcia Corrêa e Castro, coordenadora do Canal Saúde da Fiocruz e uma das responsáveis pela chamada. “A comunicação popular tem um papel importante no enfrentamento do coronavírus, mas é preciso enfrentar muitos outros ‘vírus’, como o do racismo, o da desigualdade social e o da falta de saneamento básico”, acrescentou Webert.

 

Durante o Conexão, Márcia falou também sobre a campanha de comunicação “Se liga no Corona!”, que tem como foco a prevenção ao novo coronavírus considerando as condições de vida e habitação de populações em situação de vulnerabilidade socioambiental. Como a internet ainda não é uma realidade na vida de muitas pessoas, há que se pensar em outras maneiras de comunicar. “Carros de som são eficientes nas quebradas”, lembrou Webert, um dos participantes da 1ª Oficina de Comunicadores Populares junto com a Fiocruz Brasília, assim como o jornalista Ueliton Mello, diretor responsável pelo site Pelo Mundo DF. Ueliton contribuiu com o Conexão por meio de um vídeo onde provocou os debatedores sobre a questão do analfabetismo digital.

 

Para o professor Fernando Paulino, da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), é preciso investir na diversificação da comunicação. “Um erro bastante comum é concentrar a estratégia em uma única ação”, disse. Ainda de acordo com o professor, as ações devem ser mais horizontais, convidando a população a participar da condução do trabalho e até de sua avaliação. “Quando as pessoas, em especial os jovens, efetivamente participam e se apropriam do processo da comunicação, essa experiência traz, de fato, uma transformação muito positiva”, concordou Márcia.

 

A comunicação, principalmente com a juventude, não pode se basear na oferta de um produto já pronto: deve-se capacitar os jovens para atuarem como produtores e multiplicadores de seus próprios conteúdos, conforme reforçou o pedagogo Max Maciel, consultor da Rede Urbana de Ações Socioculturais (RUAS). “Para enfrentar a pandemia e outros problemas, é necessário aumentar o investimento na periferia, o que não acontece historicamente”, afirmou Max, produtor cultural e idealizador do podcast Papo de Quebrada, da websérie Minha Quebrada e de outras iniciativas que visam divulgar e valorizar a história dos territórios e as trajetórias de sua população, ampliar o acesso à informação e combater as fake news. “Quando os casos da Covid-19 estavam na elite, defendiam-se medidas de prevenção rigorosas. Quando eles passaram a atingir as periferias, fala-se em flexibilização das medidas. É importante também pautar a grande imprensa, os grandes jornais, a partir de outros pontos de vista, de outras narrativas”, defendeu Max, ativista social e morador de Ceilândia (DF).

 

A íntegra do Conexão Fiocruz Brasília – Comunicadores populares e o novo coronavírus já está disponível. Confira!

 

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Sorteio de livros da Editora Fiocruz

Novamente com o apoio da Editora Fiocruz, essa edição do Conexão Fiocruz Brasília promoveu sorteio de livros relacionados ao tema do programa. Concorreram os participantes que seguem as redes sociais da Editora e da Fiocruz Brasília, e fizeram perguntas ou comentários pertinentes ao tema no chat do programa. Confira os títulos sorteados e seus ganhadores:

  • Comunicação e Saúde (autoras: Inesita Araújo e Janine Cardoso) – ganhadora: Jéssica Vitória Borges da Silva;
  • Saúde e Jornalismo (organizadores: Igor Sacramento e Katia Lerner) – ganhadora: Ana Keyla;
  • Como e Por Que as Desigualdades Fazem Mal à Saúde (autora: Rita Barata) – ganhadora: Carlene Almeida;
  • As Causas Sociais das Iniquidades em Saúde no Brasil (organizadora: Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde) – ganhador: Andre Luis;
  • Infomar e Educar em Saúde: análises e experiências (organizadores: Ana Cristina de S. Mandarino, Edmundo Gallo e Estélio Gomberg) – ganhadora: Bárbara Leite;
  • Informação, Saúde e Redes Sociais: diálogos de conhecimentos nas comunidades da Maré (organizadores: Regina Maria Marteleto e Eduardo Navarro Stotz) – ganhador: Maurício Hirata.

Os ganhadores devem enviar seus dados postais por mensagem direta no instagram.com/fiocruzbrasilia ou facebook.com/fiocruzbrasilia até a próxima semana, para envio dos livros.