Tudo começa com uma ideia-semente, lançada num terreno fértil, onde pessoas se encontram para compartilhar seus saberes e construir ações capazes de transformar a realidade. É dessa forma que a semente germina e dá frutos. Porém, tão importante quanto os frutos é o processo vivido de construção coletiva de conhecimentos. Essa é a proposta, ou melhor, a ideia-semente das Comunidades de Aprendizagem, que, nesta quarta-feira (16/3), realizaram seu segundo momento síncrono durante a Mostra da Escola de Governo Fiocruz-Brasília.
A metáfora que deu início ao encontro virtual, realizado no Zoom, das 18h30 às 20h30, foi trazida pela pedagoga Luciana Leite, integrante do Programa de Estudos e Atenção às Dependências Químicas (Prodequi/UnB) e uma das facilitadoras da Comunidade 4 (Arte e cultura na promoção da saúde e da cidadania, que relação é essa que buscamos?). Esta Comunidade tem se dedicado às expressões artísticas e culturais em territórios educativos, incluindo experiências que valorizem a sensibilização, a mobilização e a participação cidadã por meio das artes e da cultura popular, e reflexões acerca da relação entre arte, cultura e promoção da saúde.
Cerca de 80 pessoas participaram desse segundo momento síncrono. A Comunidade 5 (Do limão à limonada: potenciais de saúde e de proteção mobilizados pela escola no contexto da pandemia) e a Comunidade 6 (Governança e gestão de políticas públicas para inovação em saúde) também estiveram reunidas.
A Comunidade 5, desde o título, é um convite à reflexão sobre a importância da troca de experiências. Afinal, existe uma variedade de formas possíveis para transformar um limão em uma limonada. “Na pandemia todos nós tínhamos sede de saberes. Eu aprendo com a experiência do outro, aprendo que eu posso fazer diferente, com criatividade”, afirmou uma das facilitadoras, a psicóloga Sandra Viana, consultora do Prodequi/UnB. O grupo tem compartilhado aprendizagens no contexto da pandemia junto a famílias, territórios e redes intersetoriais na promoção da saúde da comunidade escolar. São apresentadas ações que potencializaram fatores de proteção e reduziram fatores de risco relacionados à saúde de crianças e adolescentes.
Essa potência das Comunidades de Aprendizagem foi destacada pelo professor Marcus Martins. “Não é no futuro, é agora. As experiências que os colegas trazem me transformam e transformam as minhas ações na escola, com resultados no presente”, disse.
Vivências de gestão democrática e compartilhada
Em sua participação na Comunidade 6, o historiador Andrey Lemos, egresso do Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde, falou da necessidade de que essas políticas dialoguem com a pluralidade das pessoas. “As trajetórias constituem as pessoas como sujeitos, elas desenvolvem habilidades, competências, experiências, que precisam ser levados em conta na hora de se pensar a governança de qualquer política pública”, afirmou. “Apesar de todo o debate sobre intersetorialidade e transdisciplinaridade, ainda nos separam nas nossas trajetórias, saberes e aparências. Tem tanta gente ainda sendo deixada para trás!”, alertou.
O economista Leandro Safatle concordou ao apontar as fragilidades e o desmonte da democracia e das políticas públicas, bem como o aprofundamento da concentração de renda e das desigualdades. “As políticas têm sido feitas de forma descolada da sociedade, por uma falta de compreensão da realidade que as pessoas vivem, sobretudo na pandemia”, disse. Ele lembrou uma experiência potente, a política de desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, em que as questões sociais nortearam o processo de inovação para mitigar a dependência e as fragilidades do SUS. “A gente sabia fazer políticas públicas e governanças complexas. Mas houve desmonte”, destacou.
O médico sanitarista Armando Raggio, professor da EGF-Brasília, defendeu uma organização do sistema de saúde mais horizontalizada, onde os recursos estejam mais próximos dos territórios, de modo a fortalecer os princípios da equidade, integralidade e universalidade do SUS. Já o economista e doutor em saúde pública Wagner Martins, também professor da EGF-Brasília, lembrou que a vida não se mantém só com serviços de saúde, mas a partir do modelo de produção nos territórios, que deve se dirigir para a vida e não para o capital. “Não deve haver paradoxo entre economia e vida. Isso é fruto de uma política deliberada de não atender às necessidades sociais de forma equânime. Nós temos lutado para garantir a saúde como direito, porque saúde é vida”, resumiu.
O encontro da Comunidade 6 contou, ainda, com o relato de Ana Carolina Silva Martins, egressa da Especialização em Saúde Coletiva, que atua junto a mulheres catadoras em uma cooperativa de reciclagem, e falou sobre os desafios dessas mulheres no acesso à renda e aos serviços de saúde.
O terceiro e último momento síncrono das Comunidades de Aprendizagem da Mostra EGF-Brasília ocorre nesta quinta-feira (17/3), das 18h30 às 20h30, no Zoom.
As atividades assíncronas continuam até 22 de março no Ambiente Virtual de Aprendizagem da Escola. Saiba mais
Confira a programação completa da I Mostra EGF-Brasília em www.even3.com.br/mostraescolafiocruzbsb