Conexão alimentar é tema da nova edição da RACA

Fernando Pinto 10 de setembro de 2024


“A alimentação pode ser analisada sob várias dimensões, ao mesmo tempo, independentes, complementares e conectadas, envolvendo aspectos econômicos, sociais, políticos, culturais e de saúde. Enquanto prática, a alimentação não deve estar dissociada ao direito humano e a diversas representações que nos permitem compreender como diferentes populações imprimem ao mundo suas necessidades, identidades, vontades, crenças e valores”.

 

Esta afirmação abre o editorial da nova edição da Revista de Alimentação e Cultura das Américas (RACA), publicada pelo Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura (Palin) da Fiocruz Brasília. A publicação aborda as conexões alimentares com significados que envolvem herança cultural, memória afetiva, momentos de sociabilidade que atravessam fronteiras e dialogam com a nossa ancestralidade.

 

O novo número chega ao ar com uma grande novidade, agora a RACA conta com uma sessão que convida especialistas para o debate. O primeiro artigo trata sobre as trajetórias da Antropologia da Alimentação no Brasil. A nova coluna reúne especialistas no tema com o olhar para a produção acadêmica realizada no Brasil, a partir dos anos 1990, na perspectiva da antropologia da alimentação. Os articulistas buscaram apresentar caminhos por meio dos quais o arcabouço teórico e metodológico da antropologia pode aportar contribuições aos estudos das práticas alimentares e, em particular, para a área de Segurança e Soberania Alimentar e Nutricional (SSAN).

 

Os artigos reunidos nesta edição convidam para o debate acerca do impacto da pandemia. O primeiro texto apresenta a insegurança alimentar em tempos de crise, já o segundo aponta os impactos da pandemia na alimentação e comensalidade de trabalhadores do serviço público. Além disso, há uma análise sobre o uso simbólico do milho nos rituais africanos e suas conexões culturais com o Brasil. Além dos artigos, a nova edição de Revista apresenta dois ensaios: o primeiro trata a contextualização das refeições e aborda a caracterização das escolhas alimentares, que abrangem as experiências ao longo da vida e as influências recebidas para compor o sistema alimentar pessoal. Já o segundo, aborda a influência dos acontecimentos históricos na condição social da sociedade, as expressões e discussões teóricas que envolvem a insegurança alimentar.

 

A coordenadora do Palin e vice- diretora da Fiocruz Brasília, Denise Oliveira e Silva, destacou que esta edição é especialmente dedicada à memória da antropóloga Janine Helfst Leicht Collaço, que faleceu na última sexta-feira (6/9). Professora da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG), Janine foi uma das autoras convidadas para a nova sessão “Artigo para debate”. Denise lembrou de toda trajetória e a contribuição inestimável de Janine para a antropologia da alimentação, ao tempo que afirmou que o legado da antropóloga vai ser sempre lembrado com carinho e respeito por todos. “Que sua pesquisa continue inspirando gerações futuras”, concluiu.

 

Janine era mestra e doutora em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP) e se tornou professora da UFG em 2012. Na Faculdade de Ciências Sociais, foi vice-diretora de 2014 a 2018 e integrou os quadros do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, do qual, no momento, era vice-coordenadora. Apaixonada por gastronomia, fundou e liderou o Grupo de Estudos em Consumo, Cultura e Alimentação (Gecca), coordenou o Centro de Ciência e Tecnologia em Segurança e Soberania Alimentar e Nutricional da Região Centro-Oeste e orientou dezenas de trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses em suas áreas de atuação.

 

Confira a nova edição da Revista de Alimentação e Cultura das Américas (RACA).