Direitos humanos importam
Que seja pra mim, que seja pra ti
Que seja pros manos
Eu quero bem, eu quero direito
Eu quero saúde, quero vida e liberdade
Comida na barriga
E, na cabeça, muita arte
Arte pra mim, arte pra ti
Arte e direito pra todos os manos
Porque vida sem arte é vida sem mim
Arte é amor
E viver sem amor é puro pavor
É fria
Então, que a arte inunde o mundo
Como o fogo do sol
Que rasga a noite e cospe o dia
Pra nós e pra todos os manos
Os versos acima foram apresentados pela promotora Rosana Viegas, do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), na mesa de encerramento de um evento realizado na Fiocruz Brasília em 7 de dezembro. Eles foram escritos por Rosana durante uma oficina de rap da qual a promotora participou junto com adolescentes acolhidos em instituições da assistência social do DF. Assim como outras atividades culturais, jogos e roda de conversa, a oficina fez parte de um encontro promovido pelo projeto “Territórios da Construção de Si: processos de desinstitucionalização de jovens e adolescentes pela maioridade”, desenvolvido desde dezembro de 2020 pela Fiocruz Brasília, por meio do Núcleo de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (Nusmad), em parceria com o MPDFT, por meio da Promotoria de Justiça Cível e de Defesa dos Direitos Individuais, Difusos e Coletivos da Infância e da Juventude (PJIJ).
Nesse dia, dezenas de adolescentes estiveram na Fiocruz Brasília para participar de uma programação que combinou ciência, cultura e arte com vistas à ampliação da garantia dos direitos infantojuvenis. O evento celebrou a Semana Internacional de Direitos Humanos e marcou o início da pesquisa de campo com “escutas territoriais” dos jovens, com idades entre 14 e 18 anos, que vivem em abrigos localizados em Taguatinga, Ceilândia, Recanto das Emas e Brazlândia.
“Ao longo do dia um dos principais objetivos foi estimular a compreensão de que o sonho é um direito humano que se constrói tanto individualmente como de forma coletiva”, contou Fernanda Severo, pesquisadora do Nusmad e coordenadora da ação, que contou com o apoio da Assessoria de Comunicação (Ascom) e da Assessoria Pedagógica da Escola de Governo Fiocruz – Brasília. Parte desse grupo de adolescentes participou das etapas regionais do DF das Conferências de Saúde Mental e, no mês de novembro, da Conferência da Criança e do Adolescente. “Nossa expectativa é ampliar o chão do cotidiano dos adolescentes pelos diferentes territórios da cidade, em prol do fortalecimento do direito à saúde, do direito à cidade e do protagonismo juvenil nessas agendas políticas”, completou Fernanda.
Para André Guerrero, coordenador do Nusmad, o encontro foi uma oportunidade de ampliar a reflexão sobre temas que os adolescentes discutiram nas oficinas do projeto, uma agenda importante para a construção de políticas públicas. “Acreditamos que oportunizar esses diálogos em espaços públicos é fortalecer a construção da cidadania”, destacou.
A programação contou com uma oficina de comunicação comunitária com rap, coordenada por Fernando Rocha, assistente social, especialista em saúde coletiva, rapper e integrante do Movimento Lazer, Esporte e Cultura (MoLEC), coletivo que promove ações de arte urbana e educação. Foram realizadas também partidas dos jogos “Passa ou repassa” e “Fato ou fake?”, com a equipe da Ascom, trazendo questões sobre saúde mental, vacinas e vacinação, e enfrentamento das fake news. Seguindo o fio da ludicidade e do direito de sonhar com territórios de inclusão e cidadania, as atividades buscaram discutir futuros possíveis por meio de música, dança, conteúdo científico e muito diálogo político – um caminho interdisciplinar que estimula o pensamento crítico e a autonomia como direitos humanos.
A última atividade do dia foi o painel “Escuta territorial: direito à vida”, com Jorge e Emília Broide, psicanalistas especializados em prática clínica em espaços públicos. Os palestrantes defenderam a ideia de que é na pulsação do território que emerge o sujeito de desejos, incentivando os adolescentes e os trabalhadores das instituições a reconhecerem seus territórios e refletirem sobre seus cotidianos para encontrar onde pulsam seus sonhos e seus direitos. Além de Rosana, Fernanda e André, também participaram da mesa a promotora Luisa de Marillac, do MPDFT, e Txai Staerke, do Comitê Consultivo de Adolescentes do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do DF (CDCA-DF).