Coordenadora do SEGEST participa de treinamento no Japão 

Mariella de Oliveira-Costa 16 de dezembro de 2024


“Pessoas são pessoas em qualquer ambiente de trabalho, e o aprendizado sobre o cuidado com o trabalhador e a valorização da convivência em um ambiente saudável deve ser universal.”  Esta fala é da coordenadora do Serviço de Gestão do Trabalho (Segest) da Fiocruz Brasília, Katia Zeredo, que participou do Treinamento de Gestão de Negócios da JICA, agência do governo japonês,  “Business Management in Japan learned from the Managers of Small and Medium-Sized Manufacturing Companies” em duas cidades do Japão, Yokohama e Shikoku, no mês de outubro.  

 

O treinamento foi uma oportunidade para obter insights não apenas de gerentes japoneses, mas também de líderes de diversos países e culturas. As atividades destacaram a importância de uma gestão que prioriza a eficiência e o bem-estar dos funcionários. Segundo a pesquisadora, o intercâmbio trouxe ideias para criar locais de trabalho onde a produtividade e a felicidade dos funcionários andam de mãos dadas, promovendo um ambiente que incentiva o crescimento profissional e a satisfação pessoal.  À frente do SEGEST desde fevereiro de 2023, Kátia comanda diretamente cinco trabalhadores e é adjunta da Coordenação de Gestão da Fiocruz Brasília, área que soma 39 pessoas.  

 

Na oportunidade, ela pode conhecer outros profissionais da área de gestão de pessoas de empresas como a Mitsubishi Power no Brasil, a Copasul – Cooperativa Agrícola Sul-mato-grossense, a fábrica mexicana de amendoim como a Cacahuates Nishikawa, além de outros CEO’s de empresas como a iHungry – Totem de Autoatendimento. A pesquisadora entendeu de perto os desafios da gestão de pessoas para satisfação e bem estar dos trabalhadores. “Durante o treinamento, foi marcante observar como essas empresas adotam uma cultura de trabalho humanizada, diferenciando-se da cultura workaholic das grandes corporações japonesas. Um aprendizado fundamental, segundo ela, foi a abordagem de recrutamento baseada em valores e habilidades comportamentais, priorizando competências como interação humana e capacidade de colaboração, em vez de focar exclusivamente nas habilidades técnicas. Isso porque, nas boas empresas, o conhecimento técnico pode ser transmitido ao longo do tempo, enquanto as habilidades comportamentais impactam diretamente a integração e o bom relacionamento no ambiente de trabalho. 

 

Ao final do treinamento, cada bolsista criou seu próprio plano para implementação de ações possíveis nos países de origem. Katia Zeredo identificou como a comunicação entre líderes e trabalhadores, o engajamento dos servidores públicos e a saúde mental são pontos-chave que devem ser trabalhados na Fiocruz Brasília. “A participação no programa de treinamento da JICA foi uma oportunidade estratégica para compreender as práticas comprovadas de valorização do capital humano. O programa trouxe uma perspectiva única da gestão nas boas empresas japonesas, que valorizam o crescimento conjunto com os colaboradores, promovendo um ambiente de trabalho focado tanto na eficiência quanto no bem-estar”, ressaltou.  

 

Além disso, o intercâmbio proporcionou insights sobre ferramentas de gestão do estilo japonês, como reuniões matinais curtas, feedbacks constantes, círculos de qualidade, o sistema 5S, “HOURENSOU” (a força da comunicação), “KAIZEN” (melhoria contínua) e “OMOTENASHI” (a arte da hospitalidade). Esses métodos, combinados com perspectivas globais apresentadas por líderes de diversas culturas, destacam a relevância de uma gestão que integra produtividade e satisfação dos trabalhadores. Segundo ela, os princípios e técnicas estudados, aplicados com sucesso no setor privado, podem fortalecer a administração pública. Ao compreender as práticas das empresas que adotam a “gestão de alta satisfação dos trabalhadores”, podemos contribuir de forma significativa para aprimorar a cultura organizacional e a gestão de pessoas na Fiocruz Brasília, promovendo um ambiente de trabalho que valorize tanto o desempenho institucional quanto o desenvolvimento humano dos colaboradores. 

 

“A oportunidade de participar de treinamentos desse tipo é um grande diferencial que a Fiocruz proporciona, e que resulta na capacitação contínua da sua força de trabalho. Ser feita presencialmente no Japão, com visitas a empresas japonesas e a imersão na cultura nipônica foi o ponto alto, e pude refletir sobre o paradoxo da existência de empresas em que pessoas literalmente morrem de tanto trabalhar – Karoshi (過労死) – e de empresas com alto grau de satisfação dos empregados”, afirmou. O aprendizado imersivo sobre como as boas instituições se diferenciam de outras e porque esse tipo de gestão produz bons resultados, segundo Kátia, pode ser sintetizado nos seguintes pontos aplicáveis no serviço público:

 

  1. Garantir a felicidade dos trabalhadores e de suas famílias. Os trabalhadores que precisam criar produtos e prestar serviços não podem trabalhar com um sorriso se estiverem cheios de descontentamento, insatisfação e desconfiança em relação à sua instituição de trabalho; 
  2. Garantir a felicidade do público da instituição. É preciso fornecer produtos e serviços pelos quais as pessoas se sintam gratas, para que pensem: “Fico feliz que esta instituição exista” ou “Fico feliz que faça tal produto”;
  3. Garantir a felicidade e a vitalidade da comunidade. A instituição contribui para a comunidade local, incluindo as pessoas que vivem nela e seu ambiente. Torne-se uma instituição que faça com que as pessoas da comunidade pensem: “Este local é um símbolo de nossa comunidade”, “Temos orgulho de tê-la em nossa comunidade” e “Espero que meu  filho trabalhe ali”. 

 

Histórico japonês  

A pesquisadora é sansei (avós japoneses) e faz aulas de etegami, arte folclórica japonesa de criação de cartões postais com ilustrações e mensagens. Seus três filhos são alunos do curso língua japonesa da Escola Modelo de Língua Japonesa de Brasília que periodicamente divulga eventos e oportunidades tanto da Embaixada do Japão quanto da JICA. Durante o processo seletivo para a conquista desta bolsa de intercâmbio, foi necessário demonstrar a correlação do treinamento com suas atividades no Brasil, justamente para garantir a aplicação, divulgação e multiplicação do conhecimento e experiências adquiridas no Japão. Além do custo com o treinamento, o programa forneceu as passagens de ida e volta, estadia e 200 mil ienes para despesas pessoais. 

 

“Escolhi o treinamento pela oportunidade de visitar novamente o Japão que é um país muito rico culturalmente e para estudar sobre o modelo japonês de organização do trabalho, com foco na administração participativa e corporativa. Esse é um tema que tenho interesse tanto na prática como para pesquisas sobre gestão de organizações de saúde e sobre motivação e engajamento dos profissionais de saúde”, explicou.  

 

Não é a primeira vez que a servidora busca formação naquele país. De 1997 a 2002, ela estudou na Tokyo Medical and Dental University em Tóquio, com a bolsa de estudos Monbukagakusho do Ministério de Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia do governo japonês, quando terminou o doutorado. Em seguida, fez pós-doutorado na Nagasaki University de 2003 a 2005, com a bolsa do Postdoctoral Fellowship da Japan Society for the Promotion of Science (JSPS) e, em 2016, fez uma visita técnica à Gifu University, financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal.  

 

Aprendizado com a cultura e realidade  japonesa 

O Japão passa por mudanças em sua estrutura populacional (a população em idade ativa, de 15 a 64 anos, vem diminuindo desde o pico em 1995, envelhecendo e encolhendo) e na sua estrutura industrial (aumento anual na proporção de empregados que trabalham no setor de serviços, que agora representa mais de 70% dos trabalhadores).  

 

Isso foi acompanhado por uma mudança nos valores, que passaram a se concentrar na sustentabilidade econômica em vez de no aumento das vendas e dos lucros, em estilos de vida saudáveis e ambientalmente conscientes e na valorização das conexões humanas, dos vínculos, da empatia e da felicidade como pessoa. Kátia observou que uma empresa que é considerada uma “boa empresa” tem fortes relações de confiança entre gerentes e trabalhadores, oferece um ambiente de trabalho em que é fácil para os empregados trabalharem por muitos anos e continua a gerar bons resultados comerciais. Este programa de treinamento ofereceu uma visão de quatro pequenas e médias empresas japonesas, que colocam a felicidade dos trabalhadores em primeiro lugar e praticam uma gestão que valoriza os trabalhadores e seu crescimento.