Covid-19: webnário discute soluções e desafios da gestão da atenção primária articulada à vigilância em saúde no DF

Fernanda Marques 11 de setembro de 2020


Fernanda Marques

 

O webnário “Diálogos entre Gestão da Atenção Primária e Vigilância em Saúde para o Enfrentamento à Covid-19”, realizado na tarde desta quinta-feira (10/9), reuniu gestores e pesquisadores para discutir experiências do DF, as soluções construídas e os desafios. A atividade integra o Plano de Educação Permanente “Reflexões e Experiências da Gestão da APS/DF em tempos de Covid-19”, no âmbito do Programa de Qualificação da Atenção Primária à Saúde do Distrito Federal (Qualis APS)

 

Amilton Xavier, da Diretoria de Atenção Primária (DIRAPS) da Região Norte do DF, destacou uma solução encontrada para devolver às equipes que atuam na ponta do sistema de saúde as informações que elas próprias captaram e de que necessitam para planejar suas intervenções no território. Trata-se de um painel epidemiológico da Covid-19 com dados consolidados e categorizados por Unidade de Básica de Saúde (UBS). Segundo Amilton, no início da pandemia, havia dificuldade de acesso aos dados. Hoje, com o painel, os trabalhadores da assistência têm informações que foram analisadas e ajustadas, sem sobreposição de dados nem inconsistências. “Algumas vezes, casos contabilizados em uma região são, na verdade, de outra. O ajuste fino é feito antes das informações subirem para o painel, garantindo que o monitoramento dos casos seja realizado na região correta”, explicou.  

 

Claudia Costa, da Gerência de Serviços da Atenção Primária à Saúde (GSAP) de Samambaia, contou como os processos de trabalho das UBS foram reorganizados para o enfrentamento à pandemia. “A primeira reação foi de pânico”, disse. Mas esse sentimento foi superado com reuniões e discussões de notas técnicas sobre modos de transmissão da Covid-19, formas corretas de colocar e retirar os equipamentos de proteção individual, fases da infecção, testagem, monitoramento de casos e fluxo de atendimento. “Não se trabalha sozinho. Os processos são planejados e construídos coletivamente pelas equipes, não são impostos de cima para baixo. O gestor deve ser somente um facilitador, um orientador”, pontuou.

 

No enfrentamento à Covid-19 é fundamental, também, estar atento às demandas da população, como a de indivíduos recuperados, que cumpriram o período de isolamento e precisavam de atestado para o retorno ao trabalho. “Por outro lado, observamos muito desemprego e famílias em situação de miséria”, lembrou Claudia. “Organizamos a arrecadação de cestas básicas, distribuídas às famílias mais necessidades, indicadas pelos agentes comunitários de saúde”, contou. Para Claudia, tem sido um período de grande envolvimento das equipes e muito aprendizado, embora haja, também, problemas a serem superados. “Reestruturamos os processos de trabalho com foco na pandemia e ficamos com dificuldade de manter a assistência do que não está relacionado à Covid-19”, avaliou. “Além disso, agora estamos precisando lidar com casos pós-Covid-19, associados a disfunções multissistêmicas”, acrescentou.

 

Ao comentar as experiências apresentadas, Olga Alencar, da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), enfatizou que é preciso romper a dicotomia entre vigilância em saúde e atenção primária. “O caminho da articulação é o foco nas pessoas e o envolvimento da população na identificação das fragilidades e potências do território”, recomendou. “Cada território se apresenta de uma forma; é preciso um olhar diferenciado para traçar nossos processos de trabalho. É preciso também sair da UBS e conhecer o território”, completou.

 

Claudio Maierovitch, pesquisador e coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS) da Fiocruz Brasília, classificou como louvável a maneira como as UBS se reorganizaram nos territórios para garantir a assistência à população no contexto da pandemia. E disse que o trabalho feito pelas equipes se torna ainda mais valoroso diante da ausência de uma diretriz que valorize e leve recursos para a Estratégia Saúde da Família (ESF). Segundo Claudio, os serviços de média e alta complexidade receberam um reforço em aquisição de leitos para internação e equipamentos, por exemplo; mas houve falta de clareza sobre medidas de contenção da pandemia, que, muitas vezes, acabaram ficando a cargo de decisões individuais. “Falhamos gravemente em outro campo também: o pouco investimento em atenção primária e vigilância, aquilo que é a grande força, que estabelece a conexão com o território”, disse. “As equipes da atenção primária à saúde têm informação do que devem fazer, mas é flagrante a dificuldade de dar cobertura a todos os casos. As tecnologias facilitam, mas a presença física, a visita domiciliar, com todos os cuidados, é fundamental para uma orientação adequada”, analisou o pesquisador, lembrando especialmente do cuidado às pessoas em situação de maior vulnerabilidade social.

 

A atividade contou com a mediação de Gislei Knierim, pesquisadora da Fiocruz Brasília.

 

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