Curso proporciona gestão em saúde mais qualificada e eficiente

Fiocruz Brasília 5 de junho de 2023


Alexandre Penido (Qualis-APS)

 

O aprimoramento da gestão em saúde é um dispositivo que deve fazer parte do dia-a-dia do trabalho dos profissionais que atuam na área da saúde. Ele deve compor o processo de trabalho para que tudo funcione da melhor forma possível, detectando os problemas e buscando soluções. Além do mais, amplia e qualifica o acesso dos usuários aos serviços de saúde no SUS.

Buscando qualificar o quadro de gestores da Atenção Primária à Saúde (APS) para uma gestão mais eficiente, resolutiva e articulado, a Escola de Governo Fiocruz-Brasília, por meio do Programa de Qualificação da Atenção Primária à Saúde do Distrito Federal (Qualis APS), ofertou o Curso de Especialização em Gestão da Estratégia Saúde da Família (CEGESF). Criado em 2020 pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal, em parceria com a Fiocruz Brasília e a Universidade de Brasília (UnB), o Qualis-APS desenvolve ações para a melhoria da gestão e dos serviços prestados nas Unidades Básicas de Saúde do Distrito Federal. Entre elas, a oferta de cursos e aperfeiçoamento para os profissionais.

Em entrevista, o coordenador da Meta 2 do Programa e da especialização para os gestores da APS, Rafael Petersen, fala sobre o encerramento do curso, apresenta um balanço e os impactos no trabalho dos profissionais de saúde e os usuários do SUS. 

 

1) Qual o balanço que você faz após a realização do curso? O que podemos mencionar como o principal ganho da estratégia?

Rafael Petersen: O CEGESF foi construído com o objetivo de alinhar a prática, o dia-a-dia do gestor, com o processo de formação em uma abordagem da educação permanente. Pensando nisso, a nossa intenção ao longo do curso foi sempre provocar o gestor a refletir sobre suas atividades profissionais, buscando problematizar os desafios e situações-problemas presentes e, com base em um pensamento crítico reflexivo, desenvolver soluções para essas questões. Essa provocação é traduzida ao logo do curso nos projetos de intervenções, nos quais os estudantes são orientados por seus tutores e contam com a possibilidade de apoio e discussão com os colegas que fazem parte de seu grupo de estudo. Logo, o estímulo à autonomia, a busca por respostas em fontes de informações confiáveis, a possibilidade de utilizar a literatura científica como base para o desenvolvimento das intervenções em questões reais do seu dia-a-dia e as trocas de informações com o grupo de colegas dos diversos locais de fala da APS da SES-DF representam os principais diferenciais do curso. Desta forma, penso que os estudantes saem da experiência do curso mais empoderados e conscientes de que são sujeitos capazes de transformar suas realidades. E esse movimento certamente reverbera em frutos para Atenção Primária a Saúde do Distrito Federal com vias de possibilitar uma gestão mais resolutiva, fortalecida e alinhada com os propósitos da APS, do território, dos profissionais envolvidos e da Secretaria de Saúde do DF. É um ganho estruturante para a saúde coletiva do DF e um fortalecimento do Programa Qualis-APS.

 

2) De que forma os gestores da APS saem mais qualificados e preparados para promover uma gestão mais eficiente e articulada à Rede de Atenção à Saúde (RAS)?

Rafael Petersen: Quando o Curso de Especialização foi pensado, sua organização se estruturou em três módulos, que foram constituídos ao todo por 12 unidades de aprendizagem, a fim de construir uma linha de raciocínio para que o gestor perpassasse pelos diversos desafios da APS, sendo que no último módulo, e não por acaso, as redes de atenção à saúde e comunicação foram os elementos centrais dessa discussão. Quero dizer, para que um gestor consiga dialogar com os diversos aparelhos que compõem a rede de atenção à saúde, em seus diferentes níveis de complexidade e atuação, é importante que ele compreenda o seu papel como gestor da APS em interlocução com a RAS. De certa forma, todos sabem que a APS é a principal porta de entrada do usuário no Sistema Único de Saúde, que sua relação precisa ser de atuação territorializada e com um olhar principalmente na prevenção e promoção da saúde. Além do mais, discute-se muito a capacidade resolutiva dentro da APS, e eu particularmente acredito que essa capacidade de resolutividade, dentre as diversas atuações da APS, também está relacionada ao acompanhamento do usuário na RAS em uma perspectiva de referência e contrarreferência. E nesse movimento, o gestor tem um papel fundamental ao estabelecer e conduzir o diálogo com os diversos aparelhos dessa RAS. Esse gestor precisa assumir também um lugar de protagonista no cuidado do usuário, dialogando sempre com sua equipe e estimulando-a a conduzir o processo terapêutico de modo a que esse usuário não se perca ao longo do seu percurso na RAS. Assim, acredito que o curso tem uma participação importante no processo de qualificação e preparação do gestor para promover uma atuação mais eficiente e articulada com a RAS, ao conduzi-lo para um deslocamento a favor de seu papel e compreensão de atuação na APS articulada com a RAS.

 

3) O curso trabalhou diversas temáticas. Entre elas, qual a norteadora para intensificar esse trabalho qualificado na gestão da APS e motivo?

Rafael Petersen: Todo o processo de construção do curso se baseou previamente em um diagnóstico cuidadoso das necessidades dos gestores da SES-DF conduzido por Ana Sílvia Pavani Lemos. Essa aproximação aconteceu em intercâmbio com a equipe da Coordenação de Atenção Primária à Saúde (COAPS), Departamento de Saúde da Família (DESF) e Gerência de Apoio à Saúde da Família (GESFAM), da observação das discussões do II e III Fórum dos Gestores dos Serviços de Atenção Primária (Fórum GSAP) e de uma revisão minuciosa da literatura científica sobre a gestão na perspectiva da Estratégia da Saúde da Família. Com essas aproximações e observações, a proposta do itinerário formativo do estudante foi construída conduzida por um eixo estruturante de temas essenciais ao gestor da APS e um eixo optativo, com temas que permeiam a gestão e que refletem diversas situações-problemas que o gestor poderá selecionar para estudar, articulada às necessidades encontradas em seu território de atuação. Pensando nisso, não diria que há uma temática norteadora para intensificar o trabalho de qualificação da gestão, mas sim o próprio método, que tem sua base referencial a educação permanente. Quero dizer que o movimento formativo, a estruturação do curso e sua discussão não é algo que se possa pensar como fixa, mas sim como movimento. E a educação permanente possibilita esse movimento, na medida em que o gestor deverá refletir diariamente sobre os desafios encontrados em sua rotina de trabalho e como ele deve buscar soluções para qualificar sua gestão na APS. Importante destacar que o território é vivo e, por ser vivo, seus desafios se modificam ao longo do tempo e nesse sentido, o movimento do território deve ser sempre levado em consideração para nortear as ações formativas na perspectiva da Educação Permanente.

 

4) A partir de agora como esses gestores podem qualificar ainda mais a gestão, a educação e a comunicação em saúde nas UBSs?

Rafael Petersen: Acho que a partir da experiência do curso, os gestores saem mais conscientes da necessidade do aprimoramento constante e da necessidade de sempre trabalhar integrado e articulado com os demais atores envolvidos no cuidado. Durante a metodologia do curso, a conformação desses gestores em grupos de discussão teve como intuito facilitar o intercâmbio de experiências entre os gestores. Isso, na minha opinião, fortalece a APS na medida em que é possível visualizar o funcionamento de toda a Rede de Atenção, identificar problemas que muitas vezes podem ser transversais a outros territórios e com isso propor mudanças, melhorias ainda mais estruturas e conscientes de suas necessidades.

5) O que o trabalho em rede favorece para uma boa gestão e quais os principais ganhos e desafios?

Rafael Petersen: Uma das preocupações ao estruturar o curso foi estimular o fortalecimento da rede de gestores da APS situada nos diversos territórios da SES-DF e nas suas diversas abrangências de atuação. Os grupos de discussão foram construídos articulando gestores dos níveis locais, regionais e central. Esta modelagem teve como desejo o estímulo para o desenvolvimento de um trabalho em rede entre os gestores de seus diversos locais de fala e atuação na APS. Penso que essa rede estabelece uma relação de proximidade dos gestores para troca de experiências, busca de soluções de problemas e articulação de um trabalho que possibilite a integração de toda uma área de abrangência ou de intercâmbio entre outras áreas. A troca de informação e aproximação entre os gestores locais, regionais e central é fundamental para o fortalecimento da APS no Distrito Federal, mas sempre respeitando o lugar de fala e de atuação de cada um. Desta forma, os desafios dessa articulação perpassam a capacidade de mobilização do gestor, a organização de seu tempo para dedicar a essa aproximação e o respeito à individualidade e necessidade de cada nível de abrangência, conduzindo uma relação de parceria, aprendizagem e troca de experiências.

6) Por que fortalecer a Educação Permanente entre os gestores é importante para as estratégias em saúde?

Rafael Petersen: Quando pensamos em um profissional que atua na área da saúde, quer seja na assistência ou na gestão, e quando seu recorte de atuação está pautado na Atenção Primária à Saúde que se articula com um território vivo, em constante movimento, é possível reconhecer que os desafios e as situações-problemas se modificam ao longo do tempo. Além do mais, o trabalho no campo da saúde remete à necessidade de constante atualização, na medida em que todo momento novas evidências, técnicas, formas de atuação e de organização se estabelecem. Nessa perspectiva, alinhada a uma realidade atual na qual somos bombardeados por informação, que às vezes nem sempre são confiáveis ou adequadas, a necessidade de o gestor de se atualizar e de fazê-lo constantemente em fonte confiável é fundamental. Assim, a educação permanente vem como um método que auxilia o gestor a encontrar soluções de maneira crítica e reflexiva. Ela permite que esses gestores possam acessar com segurança esse mar de informações no qual estamos mergulhados para julgar aquilo que lhe faz sentido e que tem fundamento em uma perspectiva de uma base teórica conceitual verdadeira. Portanto, esse método de formação, alinhado a uma busca estruturada de conteúdo, com fundamento crítico reflexivo, articulado ao dia-a-dia dos desafios de gerir uma unidade de saúde, que se fundamenta no paradigma da Estratégia da Saúde da Família, na perspectiva do contexto de um Sistema Único de Saúde, permite a esse gestor traçar estratégias com segurança e adequadas à realidade, ao território e à equipe do qual é responsável. Uma ação fundamental para o subsídio de uma APS qualificada, resolutiva e alinhada aos desejos da população, da SES-DF e de seu Programa Qualis-APS.