Dia da Consciência Negra: Fiocruz projeta frases antirracistas

Fiocruz Brasília 20 de novembro de 2023


Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)

 

Com o objetivo de chamar a atenção para a importância do enfrentamento permanente ao racismo, a Fiocruz vai projetar, na noite desta segunda-feira (20/11), Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, frases antirracistas no Castelo de Manguinhos, sede e símbolo da Fundação no Rio de Janeiro. Embora a Fiocruz, há alguns anos, venha iluminando o Castelo com cores diversas, de acordo com datas temáticas ─ laranja no Dia Mundial da Segurança do Paciente, amarelo em alusão ao Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio etc. ─, esta será a primeira vez que frases serão projetadas no prédio histórico. A iniciativa foi realizada pela Coordenação de Comunicação Social (CCS/Fiocruz), em parceria com a Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa/Fiocruz) e o Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). 

 

Responsável pelo eixo Relações Étnico-Raciais da Cedipa/Fiocruz e integrante da coordenação colegiada do Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fundação, a assistente social Roseli Rocha afirma que as projeções são um marco. “Uma oportunidade importante para dar visibilidade às pautas do movimento negro e mostrar o compromisso da Fiocruz com as práticas antirracistas. Vidas negras importam!”, diz Roseli. “A Fiocruz acaba de aprovar a sua Política de Equidade Étnico-Racial e de Gênero e essa iniciativa se insere em uma proposta político-pedagógica que busca mobilizar a comunidade para a relevância da data e ampliar esforços no enfrentamento ao racismo”.

 

Segundo Roseli, a Fiocruz elaborou frases e palavras de ordem que aludem ao racismo no Brasil, sobretudo o racismo institucional no âmbito da Saúde. “A projeção é uma grande inovação e as frases foram pensadas a partir de dois eixos: um que transmita a noção de celebração da data e a outras lutas históricas do movimento negro, e outro que expresse o protesto e a reivindicação do enfrentamento do racismo. As frases e palavras, para além da celebração, mostram que estamos vivos, apensar de muitos não desejarem isso, e resistimos ao processo de embranquecimento e às múltiplas expressões do racismo que permanecem em curso”. 

 

 

Roseli lembra que os negros representam mais de 75% das vítimas de homicídios do país e, deste universo, a maioria é constituída por jovens negros entre 15 e 29 anos. Formam a maioria da população encarcerada, em situação de rua e em condições precárias de trabalho e moradia. “Há uma quantidade imensa de mulheres negras que sofrem violência obstétrica e elas também têm altos índices de mortalidade materna, entre tantos dados que revelam o racismo estrutural. E este se manifesta de diferentes formas, tais como o racismo religioso contra as religiões de matrizes africanas, em que crianças negras adeptas dessas religiões são apedrejadas e hostilizadas nas ruas, e até em ambiente escolar. E como o ‘racismo recreativo’, que expõe pessoas negras a situações vexatórias, por meio de apelidos e ações que ridicularizam e desumanizam”.

 

As palavras e frases selecionadas, que serão projetadas na fachada do Castelo da Fiocruz, reforçam o compromisso da Fundação com a luta antirracista e, entre outros temas, abordam a cultura negra, a importância das vidas negras, as ações afirmativas, a ancestralidade, a resistência e a Política Nacional da Saúde Integral da População Negra. “Essa Política, que foi instituída em 2009, infelizmente ainda continua pouco conhecida, mesmo nas graduações e pós-graduações de formação para profissionais de saúde. Embora a equidade seja um dos princípios do [Sistema Único de Saúde] SUS, muitos profissionais de saúde não sabem de sua existência. Também lembram que o racismo é crime e que as ações afirmativas, que muitos, infelizmente, ainda veem como benesse, são, na verdade, uma importante política de reparação histórica”, destaca Roseli.

 

A assistente social lamenta que o Dia da Consciência Negra seja feriado apenas em cinco estados (Rio de Janeiro, São Paulo, Alagoas, Amapá e Mato Grosso) e em alguns municípios. Para ela o feriado deveria ser nacional. Formada em Serviço Social, com mestrado em Política Social e doutorado em Serviço Social, Roseli dá aula na pós-graduação do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). Ela recorda a célebre frase da escritora americana Angela Davis: “Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”. Roseli diz que esta é uma luta diária e de todas as pessoas e por isso a Cedipa/Fiocruz quer investir no processo de formação permanente dos trabalhadores e trabalhadoras da Fiocruz.

 

A partir de uma articulação da Cedipa e do Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz, durante todo este mês a Fundação vai promover a Agenda Novembro Negro. O objetivo é reunir as atividades desenvolvidas pelas unidades da Fundação e representa o compromisso da Fiocruz com a promoção da igualdade racial, a valorização da diversidade e o enfrentamento ao racismo.

 

Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça

O Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz foi criado em 2009, para consolidar uma agenda institucional pelo fortalecimento dos temas étnico-raciais e de gênero na Fundação, colaborando para uma constante atualização e reorientação de suas políticas, bem como de suas ações, seja nas relações de trabalho, seja no atendimento ao público e na produção e popularização do conhecimento.

 

Cedipa

A Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas da Fiocruz foi criada em março de 2023, com o objetivo de implementar ações que assegurem a efetivação das políticas institucionais da Fiocruz para equidade, diversidade, inclusão e políticas afirmativas, reconhecendo a pluralidade da instituição como um valor.

 

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Fotos: Peter Ilicciev – CCS/Fiocruz