Ele testemunhou 17 dos 45 anos da Fiocruz Brasília. Quando chegou à instituição, não havia ainda nenhuma instância de comunicação. Com criatividade, demonstrou como a área era estratégica para a promoção da saúde pública e seguiu encarando variados desafios, no campo da divulgação científica, da pesquisa e da educação, entre tantos outros. Defende a escuta e o diálogo com os diversos públicos da instituição como método para a construção de estratégias que respondam às demandas das pessoas e melhorem sua qualidade de vida. Nesta entrevista da série especial “Fala aê – 45 anos da Fiocruz Brasília”, o jornalista Wagner Vasconcelos conta um pouco da sua trajetória à frente da Assessoria de Comunicação (Ascom) da unidade.
Em que momento a sua trajetória se cruza com a da Fiocruz Brasília?
Eu cheguei à Fiocruz Brasília há 17 anos, em 2004, mais precisamente no dia 10 de agosto de 2004, vindo do Rio de Janeiro, onde eu já trabalhava na Fiocruz, na revista Radis. Eu vim para cá na incumbência de ser o primeiro correspondente da Radis em Brasília, mas também porque a Fiocruz Brasília precisava de alguém que fizesse as vezes de um assessor de comunicação. Na época, não existia nenhuma instância de comunicação aqui.
O que você conhecia da Fiocruz Brasília, naquela época?
A imagem que eu tinha, quando morava no Rio, era a de um escritório de representação da Fiocruz. Eu não sabia muito o que era feito aqui. Era, de fato, um grupo pequeno: eu fui o 21º integrante da equipe. Mas era um grupo bastante coeso e unido, com muita vontade de produzir e fazer com que a Fiocruz Brasília fosse a expressão de toda a Fiocruz aqui na região Centro-Oeste. Essa foi uma das características mais marcantes que percebi logo quando cheguei.
E quais foram os primeiros desafios no campo da comunicação?
A minha atuação, inicialmente, era muito no sentido de dar visibilidade às atividades da Fiocruz Brasília, muitas delas voltadas à educação, além de alguns nichos de pesquisa. Lembro que, assim que cheguei à Brasília, eu tinha uma ou duas semanas de casa, a então diretora Denise Oliveira e o pesquisador Antônio Cardoso me chamaram e me entregaram um volume enorme de papel: era o relatório de atividades da instituição. Eles queriam transformá-lo em algo prazeroso de ler. Levei aquele documento imenso para casa e, durante alguns dias, fiquei lendo até altas horas da noite, tentando ter alguma ideia de como transformar aquele conjunto de informações em algo que fosse realmente interessante para as pessoas. Tive, então, uma ideia que poderia ser encarada como maluquice: não fazer um relatório de atividades, mas uma revista jornalística, com reportagens sobre as ações realizadas e depoimentos dos envolvidos. Para a minha surpresa, a ideia foi muito bem aceita e isso foi marcante, porque colocou comunicação e gestão lado a lado.
O primeiro de muitos desafios…
Sim. A unidade começou a investir em comunicação. As várias gestões que tivemos aqui compreenderam que essa área era estratégica. A comunicação foi determinante, por exemplo, na primeira mostra científica da Fiocruz Brasília, tanto na mobilização das pessoas que iam expor, como na visibilidade das produções apresentadas. Deixei de ser ‘euquipe’: eu não estava mais sozinho na Assessoria de Comunicação (Ascom). Outro marco desse investimento foi nosso primeiro seminário “As relações da saúde pública com a imprensa”, em 2008, que discutiu – à luz dos olhares de pesquisadores e profissionais da saúde e da comunicação – se houve realmente aquela epidemia de febre amarela que se alastrou pela imprensa. Esse seminário passou a ser realizado com regularidade e a última edição, em 2019, foi internacional, com mostra científica, exposições, mini curso e diversas atividades em uma programação de quatro dias, com nomes de referência na área da comunicação e saúde entre os convidados.
É um trabalho que vai além da divulgação das ações institucionais?
Sim, um trabalho que extrapola os limites tradicionais de uma assessoria de comunicação e a enxerga como um campo de muita potência para mobilizar as pessoas e transformar os cenários da saúde. Foi com esse olhar que se construiu uma equipe com diferentes estratégias de atuação, pautadas pela criatividade e pelo compromisso com o diálogo.
Quais diferenciais você destacaria?
Temos investido muito na popularização do conhecimento. A Fiocruz Brasília participa, desde o início, da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), e, a partir de 2010, a Ascom assumiu a condução das atividades. Durante a SNCT, são realizadas ações de divulgação científica em espaços bastante centrais aqui em Brasília, como a Esplanada dos Ministérios e o Parque da Cidade. O estande da Fiocruz costuma ser um dos mais populares, o que pode ser confirmado pelos números de visitação e pela cobertura midiática das nossas atividades. Criada há alguns anos, a Comissão de Divulgação Científica (CDC) da Fiocruz Brasília é formada por diferentes áreas e capitaneada pela Ascom. A partir de variados produtos e ações em formatos e linguagens atraentes para diversos segmentos de público, a CDC busca garantir que a sociedade tenha acesso e participe da ciência que é desenvolvida na instituição a partir de recursos públicos. Outro grande destaque é nosso investimento em pesquisa e educação em comunicação em saúde.
Como tem sido a experiência da Ascom em pesquisa e educação?
É um dos nossos maiores diferenciais. Temos já um conjunto de pesquisas em comunicação em saúde realizadas aqui em Brasília, e também um conjunto de atividades no campo da educação. Já fizemos quatro cursos de atualização e, neste momento, estamos com uma Especialização em Comunicação em Saúde, a primeira genuinamente nossa, em parceria com a UnB e a Opas. Antes, houve outra Especialização, desenvolvida pelos colegas do Icict e aplicada aqui em Brasília.
O sentido de parceria é sempre muito presente?
Sim, seja no âmbito interno ou externo. Internamente, procuramos manter um diálogo intenso com as diferentes áreas da Fiocruz Brasília, não só para divulgar o que elas fazem, mas para construir pontes e promover a dimensão da comunicação naquilo que elas fazem, contribuindo para o andamento dessas atividades. As parcerias externas também são muito presentes: Ministério da Saúde, UnB, Opas, Anvisa, GDF e suas instâncias, além de grupos e coletivos conectados diretamente aos territórios.
Como tem sido a atuação junto à comunicação comunitária?
Temos buscado nos aproximar dos grupos do DF e entorno no sentido de construir estratégias de comunicação não para eles, mas com eles. Uma comunicação que faça a diferença no cotidiano e que ajude a promover a qualidade de vida das pessoas nos territórios.
Quais os desafios para a comunicação no contexto da Covid-19?
Ao longo do tempo, a comunicação teve um papel preponderante na construção de um dos maiores ativos da Fiocruz e da Fiocruz Brasília: a credibilidade. A sociedade reconhece na Fiocruz uma instituição capaz de responder às demandas em saúde, que têm a ver com o dia a dia das pessoas. A Covid-19 tem mostrado a importância desse papel da comunicação de dialogar com a sociedade, ouvi-la e ajudar a construir respostas. Basta ver que a Fiocruz é uma das instituições mais demandadas pela imprensa nacional e internacional neste momento de pandemia. Aqui em Brasília, inclusive, nosso corpo técnico também tem sido muito acionado para dar respostas à sociedade.
Como resumiria a comunicação da Fiocruz Brasília nesses 45 anos?
A diversidade é uma característica muito marcante da Fiocruz Brasília. Seja pelos temas com que trabalha, seja pelos públicos com os quais dialoga, a comunicação está o tempo todo antenada com essa diversidade, promovendo, cada vez mais, o diálogo entre todos. Não se trata só de levar informações às pessoas, mas de construir uma comunicação pautada pelos princípios do SUS, pois, ao fim e ao cabo, esse é nosso grande objetivo: promover a consolidação do SUS.