Nathállia Gameiro
Neste ano, no Distrito Federal, a cada 10 dias uma mulher é assassinada apenas por ser mulher. No Brasil, a cada uma hora, quatro meninas de até 13 anos são vítimas de violência sexual. Estes dados foram apresentados durante o 1º Ciclo de Debates das Residências em Saúde, evento promovido por estudantes e professores dos programas de Residências da Fiocruz Brasília na última segunda-feira, 7 de outubro.
O objetivo é chamar atenção para os temas relacionados às mulheres e trazer ao debate situações e problemas que elas enfrentam durante todo o ano e no mundo inteiro: a luta e a resistência pelos direitos sociais.
“É o momento de unirmos forças, refletir e nos organizarmos coletivamente para pensar o que vivemos e sofremos no dia a dia. Só temos dados de feminicídio, sem falar dos outros casos de agressão. Precisamos criar redes institucionais e comunitárias de apoio a essas mulheres”, destacou Gislei Siqueira, coordenadora pedagógica da Residência Multiprofissional em Saúde da Família com ênfase na Saúde da População do Campo da Fiocruz Brasília.
Para a vice-diretora da instituição, Denise Oliveira, o debate resgata a voz das mulheres. Ela destacou as conquistas dos últimos anos e lembrou que há um longo caminho pela frente, pois a agressividade, até a mais sutil, ainda está presente no dia a dia das mulheres.
A residente Tailine Araújo afirma que todo o processo de vida da mulher é marcado por violência. “As mulheres vêm ganhando espaço na nossa sociedade com muita luta, mas ainda sofremos muito. Temos medo de andar só na rua, de ser violentada ou de passar por outros tipos de violência que passamos diariamente”, completou.
O evento contou com a presença da artesã Olena Rodrigues, que falou sobre sua vida no campo e as dificuldades que enfrenta. Estudantes compartilharam problemas que enfrentam no dia a dia e no trabalho. Um deles é a quantidade de casos de meninas e mulheres vítimas de violência sexual enfrentada em uma escola localizada em uma região administrativa do Distrito Federal, onde ainda há subnotificações.
Para a deputada Federal Erika Kokay, as mulheres são discriminadas porque se construiu uma condição cultural e social de gênero que subalterniza e diz onde elas devem estar. “Para além de uma cadeia de subalternização e dominação, as mulheres ainda sofrem a culpabilização. São instrumentos invisíveis e internalizados, que ao não serem vistos, não podem ser combatidos”, explicou. De acordo com a deputada, há também o silenciamento de mulheres em espaços de poder, como na Câmara dos Deputados, por exemplo, em que apenas 30% são mulheres.
Ela destaca que é preciso pensar em que sociedade queremos e tirar a cultura do medo, já que que tem medo tem mais facilidade para aceitar o que é imposto. “Não se pode pensar nenhuma política pública sem recorte de gênero e sem a construção coletiva, sem ouvir as mulheres”, finalizou. O evento também contou com mesas redondas sobre mulheres do campo e a saúde e mulheres e Políticas de Saúde— da Reforma Sanitária aos dias atuais.