De cada 100 pessoas vacinadas contra a Covid-19, 68 são dos Estados Unidos ou da Europa. Apenas duas são da África e quatro da América Latina. Essa enorme desigualdade foi destacada pelo coordenador de Integração Estratégica da Fiocruz Brasília, Wagner Martins, no início da live “Vacina como direito humano”, realizada nesta quarta-feira (15/9). O pesquisador ressaltou também como as desigualdades de acesso a recursos têm afetado negativamente a saúde de populações indígenas, quilombolas, ciganos, pessoas em situação de rua e com comorbidades nas periferias.
De acordo com o coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (NEVS) da Fiocruz Brasília, Claudio Maierovitch, a Covid-19, rapidamente, passou de doença que atingia pessoas que viajavam ao exterior para doença que se dissemina entre as populações mais vulnerabilizadas. “Infelizmente, essa situação não surpreende, porque já estamos acostumados com a nossa iniquidade”, lamentou o epidemiologista, lembrando que os mecanismos de doação de vacinas para os países mais pobres seguem a passos lentos. Se nem todos estão protegidos, ninguém está protegido. “Discutimos doses de reforço enquanto muitos ainda não receberam nenhuma dose. É uma tarefa urgente completar a vacinação dos grupos mais vulnerabilizados. Vacina é um bem público mundial, não um produto sujeito a leis de mercado”, afirmou Claudio.
As vacinas são recursos centrais no enfrentamento da pandemia, mas os outros cuidados – como a higiene das mãos, o uso da máscara e o distanciamento – ainda são necessários. A permanência de uma situação de incerteza foi ressaltada pela deputada distrital Arlete Sampaio, que demonstrou preocupação também com o aumento do desemprego e da extrema pobreza, e com o retorno do país ao mapa da fome. “Houve dificuldade em se definir o papel de cada ente federado no enfrentamento da pandemia, improvisação e falta de coordenação técnica”, avaliou.
Já Edit Matielo, integrante do projeto Tempo de Plantar, compartilhou sua vivência nesses tempos difíceis. “Eu não percebi a dimensão do problema quando a pandemia foi declarada”, contou, enfatizando, em seguida, como passou a adotar todas as medidas preventivas, além da vacinação. “Todos precisamos aprender com essa situação”, completou.
A presidente do Conselho de Saúde do DF, Jeovânia Rodrigues, fez um chamamento para que todos participem dos espaços de controle social. “A equidade é um princípio do SUS. É direito de todos que a vacina chegue. Mas não adianta só um direito positivado, escrito num papel. Os direitos têm que ser reconquistados e efetivados todos os dias, e isso requer a união dos conselhos, da academia e de outros atores para estarmos mais perto das pessoas, nos territórios, acompanhando e ampliando a vacinação, e fazendo frente ao negacionismo”, convocou.
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