Gabriella Lima
O Plano de Educação Permanente “Reflexões e Experiências da Gestão da Atenção Primária à Saúde no Distrito Federal” está na reta final. O penúltimo encontro foi realizado na tarde desta quinta-feira (5/11) com o webinário “A terceira onda: efeitos da pandemia em pacientes com condições crônicas e vulnerabilidade clínica-social”. O evento foi marcado pela troca de experiências com especialistas e o diálogo acerca do impacto da pandemia em pacientes com doenças crônicas.
Com a crise da Covid-19, as práticas profissionais tem mudado a todo instante. Fernando Souza, médico da Saúde da Família na região administrativa de Ceilândia, compartilhou alguns desafios nesse período, como: suspensão de agendas, visitas domiciliares e procedimentos cancelados – situação que ocasionou agravos à saúde da população. Pacientes crônicos descompensados, aumento na demanda de saúde mental e também gestações indesejadas na adolescência foram agravantes que surgiram em decorrência da barreira de acesso nesse momento de pandemia. “Antes da Covid-19, nossa UBS tinha 29 gestantes e agora temos 45. No início da pandemia não conseguimos trabalhar a questão do planejamento familiar. Diminuímos a inserção de DIU, reduzimos os atendimentos em geral e agora estamos vendo um reflexo disso”, destacou.
Para Carine Rodrigues, gestora da Atenção Primária à Saúde da DIRAPS Centro-Sul, não foi diferente. Em relação ao cuidado de 19 UBS que contemplam oito regiões administrativas, a especialista comentou os principais fatores de risco das doenças crônicas que mais matam no país e que são evitáveis. São eles: tabagismo, alimentação inadequada, alcoolismo e sedentarismo. “A partir do momento que a gente consegue trabalhar e fortalecer a atenção primária, a gente acaba promovendo saúde e não doença. A grande Estratégia Saúde da Família, que ainda é nova no Distrito Federal, tem o desafio da consolidação da própria saúde de família. Então, a nossa APS ainda está caminhando rumo ao seu papel, como promotora de saúde”, afirmou.
Leandro Araújo, médico da Estratégia Saúde da Família em Fortaleza, compartilhou sua experiência na capital cearense no que se refere às dificuldades do atendimento, principalmente às pessoas que apresentam doenças crônicas não transmissíveis. “Durante a pandemia, as pessoas tiveram dificuldade no acesso ao cuidado. Com os impactos socioeconômicos e na saúde dos indivíduos e da comunidade, houve uma descompensação dessas doenças em relação ao processo de adoecimento mental e outras doenças crônicas. Do ponto de vista epidemiológico, 70% das mortes por Covid-19 ocorreram em pacientes com essas enfermidades”, relatou.
Ainda nesse sentido, Bernadete Antunes, profissional da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), enfatizou sobre a pandemia ter se instaurada no país como uma crise de emergência sanitária decorrente de outras crises. “Nós estamos vivendo uma pandemia em um processo muito delicado. Apesar de várias iniciativas locais, houve uma centralidade em um modelo biomédico de enfrentamento à pandemia. Durante a pandemia, não houve um cuidado com a proteção do trabalhador, não houve treinamento, não houve apoio na utilização de equipamentos, e isso é necessário na Atenção Primária. É preciso tencionar dentro das unidades de Saúde da Família a mudança do modelo de gestão a partir do território”, reforçou.
O webinário contou com a mediação de Gislei Knierim, pesquisadora da Fiocruz Brasília. Assista à íntegra do evento no canal do YouTube – Qualifica APS. O próximo e último webinário do Plano de Educação Permanente será no dia 19 de novembro e abordará questões de saúde mental e socioeconômicas.