EpiSUS forma epidemiologistas de campo na região norte

Nathállia Gameiro 18 de julho de 2024


A região norte do Brasil conta agora com 50 epidemiologistas de campo, capacitados para responder aos eventos e emergências em saúde pública nas esferas federal, estadual e municipal. Eles fizeram parte da quarta turma da Especialização em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do SUS (EpiSUS-Intermediário), que encerrou as atividades na última sexta-feira (12). Ofertado pela Escola de Governo Fiocruz – Brasília (EGF-Brasília), o curso é fruto de parceria da Fiocruz Brasília, por meio do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (Nevs), com a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS). 


“A especialização é uma das estratégias de fortalecimento do SUS na região norte. Desenvolvemos lideranças e estamos agora entregando para os estados e municípios profissionais capacitados na metodologia de investigação e controle de surto e aptos também para avaliar um sistema de vigilância”, afirmou Deise dos Santos, coordenadora do EpiSUS-Intermediário, ao citar os temas trabalhados pelos alunos nos projetos de conclusão do curso. Entre eles: leptospirose, tuberculose, sífilis, dengue, hepatites, malária, leishmaniose, sarampo, mortalidade materna, violência e saúde indígena.


A capacitação teve início em outubro de 2023, com encontros presenciais e online nesses nove meses. O foco principal é a identificação e levantamento de um problema de saúde local, por isso, a carga horária prática supera a teórica. Durante o trabalho de campo, os alunos, acompanhados por profissionais egressos do EpiSUS avançado, avaliaram a cobertura vacinal em crianças menores de cinco anos de idade em dois municípios de Belém e um de Manaus. Cerca de 260 entrevistas com os moradores dos bairros Jorge Teixeira, em Manaus, e Terra Firme e Guamá, em Belém. Confira as fotos do trabalho de campo realizado no bairro Jorge Teixeira, em Manaus


Ao todo, o processo seletivo teve 171 inscritos. Integraram a turma profissionais com perfis diversos que atuam na vigilância em saúde do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Entre eles, Andressa Gabrielly, de Tabatinga, município do Amazonas, a primeira aluna trans a formar no EpiSUS-Intermediário. Ela comemorou a finalização do curso agradecendo à Fiocruz e ao Ministério da Saúde e lembrando que a jornada não se encerra com a formatura, já que terá muitas conquistas ainda pela frente.


A egressa Débora dos Santos Gonçalves, mais conhecida como Débora do Acre, contou que se apaixonou pelo EpiSUS desde a primeira vez que ouviu falar e sonhava em passar no processo seletivo. “Hoje realizo meu sonho de ser epidemiologista de campo com habilidades para identificar, investigar, responder e comunicar eventos prioritários na saúde. Foram 9 meses aprendendo e mais do que aprender, a gente aplicava no dia a dia as nossas competências relacionadas à vigilância em saúde pública, que é o nosso trabalho, e para cuidar da saúde da nossa população”, ressaltou. Já Carlos Cley Alves, de Boa Vista (Roraima) afirmou que a especialização surgiu em sua vida de forma inesperada, mas o preparou para a epidemiologia na prática, enfrentando os problemas reais dos territórios, aplicando o conhecimento teórico. “Nos permitiu desenvolver práticas e uma compreensão aprofundada diante desse desafio que a saúde pública no Brasil hoje enfrenta. O EpiSUS prepara os profissionais para a saúde pública, para contribuir de forma efetiva para o SUS, com qualidade”, explicou.


Para o ex-ministro da Saúde e também coordenador do curso, Agenor Álvares, a região norte do país é um local em que a responsabilidade social dos gestores de saúde pública é ainda maior. Com a formação, ele acredita que os egressos poderão cobrar essa responsabilidade e indicar políticas que sejam importantes para minorar os problemas enfrentados e atuar na proteção da saúde das pessoas. “Vamos sempre lutar para fortalecer e aperfeiçoar o nosso sistema de saúde”, destacou, ao celebrar que todos os estudantes que iniciaram, concluíram o curso. Ele reforçou ainda a importância da certificação pela Fiocruz, instituição respeitada e importante na área de pesquisa, formulação de políticas públicas e formação de profissionais de todo o Brasil.

 

EpiSUS

O EpiSUS é um Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) da Secretaria de Vigilância em Saúde. Atualmente existem três níveis do programa: Fundamental, Intermediário e Avançado. As estratégias diferem quanto à duração, público-alvo, produtos e o tipo de dedicação dos profissionais em treinamento. Desde 2009, o curso é totalmente conduzido por seus egressos. 

Mais de 680 egressos de todos os estados brasileiros e o DF já participaram da capacitação. A primeira turma foi formada por profissionais de saúde do Distrito Federal, Ceará, Amazonas, Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul. A segunda foi uma oferta nacional. Já a terceira foi voltada para Santa Catarina. 

Durante o encerramento da quarta turma, a vice-diretora da Fiocruz Brasília, Denise Oliveira, resgatou o histórico do EpiSUS- Intermediário desde a primeira turma, sendo impactada pela pandemia de Covid-19, mas também trazendo contribuições durante e pós-pandemia para a sociedade, ganhando assim mais força e escala para expandir. “É um curso que não tem efeito só na perspectiva dos egressos, mas também coloca essa prioridade na agenda institucional”, finalizou.

 

O representante do Departamento de Emergências da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (SVSA/MS), Daniel Coradi, destacou que, com a formação, o número de epidemiologistas de campo na região aumentou 37%, o que vai permitir a identificação rápida de surtos epidemiológicos e investigações com maior velocidade para, consequentemente, salvar pessoas. Para ele, é necessário que a oferta seja cada vez mais ampliada, em especial em áreas de difícil acesso, em que o epidemiologista de campo é muito importante.

Daniel anunciou que o próximo edital do EpiSUS-Intermediário vai ser voltado para a região sul. “Entendendo que a região, nesse momento, precisa muito ter alunos preparados para enfrentamento, em especial, de desastres naturais. O que a gente viu no sul é muito provável que se repita em breve. A nossa estratégia de ir do Oiapoque ao Chuí está sendo desenhada e conduzido pelas equipes”, afirmou.