Fonte: Agência Fiocruz de Notícias
Desde maio o mundo está diante de uma nova emergência em saúde pública. Em menos de dois meses, a doença infecciosa causada pelo vírus monkeypox (MPXV) se espalhou por mais de 50 países, provocando cerca de 7 mil infecções, de acordo com dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC/EUA). No Brasil, em quase um mês após a identificação do primeiro caso, em 8 de junho, o total de pessoas infectadas chegou a 106, de acordo com levantamento do Ministério da Saúde, de 6 de junho. Entre os laboratórios que integram o esforço nacional para diagnóstico laboratorial de monkeypox, está o Laboratório de Enterovírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) – responsável por analisar amostras oriundas do Nordeste.
Da mesma família dos vírus responsáveis pelas varíolas humana e bovina, o MPXV foi descoberto em 1958, quando pesquisadores investigavam um surto infeccioso em primatas oriundos da África que estavam sendo estudados na Dinamarca. No entanto, pouco tempo depois, os cientistas verificaram que os macacos não participavam da dinâmica da infecção como animais reservatórios do vírus e que também eram afetados pelo patógeno, assim como outros mamíferos. Ainda hoje não se sabe com exatidão as espécies reservatórias do MPXV, nem como sua circulação é mantida na natureza.
Dessa forma, para evitar que haja estigma e preconceito contra os indivíduos infectados e maus tratos contra os animais, cientistas da área orientam por denominar a doença no Brasil exclusivamente como “monkeypox” (mesmo nome do vírus), uma vez que o surto atual não tem relação com primatas. Por aqui, o Ministério da Saúde, em consonância com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), tem adotado somente o termo em questão.
“O nome monkeypox também é utilizado na Classificação Internacional de Doenças (CID-10). Todo esse movimento tem o intuito de se evitar desvio dos focos de vigilância e má ações contra os animais”, explica a vice-diretora de Serviços de Referência, Coleções Biológicas e Ambulatórios do IOC, Maria de Lourdes Oliveira.
Ao redor do mundo, dezenas de cientistas já manifestaram a necessidade de um nome para a doença e para o vírus que não seja discriminatório nem estigmatizante. Atentos ao apelo, há a expectativa de que o comitê consultivo da OMS para o enfrentamento do agravo realize a mudança na nomenclatura.
Com a Covid-19 e a influenza A H1N1 não foi diferente. Para evitar preconceitos e estigmas, a entidade internacional reclassificou os nomes das doenças. No primeiro e mais recente caso buscou-se não atrelar à doença ao país de origem dos casos. No segundo exemplo, o consenso foi para dissociar o nome da gripe ao do animal, que não estava diretamente relacionado com contágio naquele momento.