Fala aê, especialista: Aspectos epidemiológicos da malária

Fernando Pinto 5 de novembro de 2021


A malária é uma doença infecciosa, febril, potencialmente grave, causada por parasita do gênero Plasmodium. Na maioria das vezes, ele é transmitido ao homem pela picada de mosquito infectado do gênero Anopheles (mais conhecidos como mosquito prego). No entanto, também pode ser transmitido pelo compartilhamento de seringas, transfusão de sangue ou mesmo da mãe para o feto, na gravidez. No Brasil, aproximadamente 99% dos casos de malária ocorrem na Região Amazônica, englobando os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.

 

Em alusão ao Dia da Luta contra a Malária nas Américas, celebrado em 6 de novembro, conversamos com o biólogo Gilberto Gilmar Moresco, que analisou os aspectos epidemiológicos da malária no Distrito Federal. Ele utilizou dados secundários disponíveis no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), de 2010 a 2019. Os resultados do estudo foram apresentados no seu trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Saúde Coletiva da Fiocruz Brasília. Saiba mais sobre essa pesquisa na entrevista da semana na nossa coluna “Fala aê, especialista”!

 

Quais os agentes causadores da malária?  E como ocorre a transmissão?

Gilberto Moresco: O agente causador da malária é um protozoário do gênero Plasmodium. No Brasil, a doença é causada por P. vivax, P. falciparum e, mais raramente, P. malariae. A espécie P. vivax é responsável pelo maior número de casos, enquanto os casos de malária grave e os óbitos são causados, em sua maioria, pelo P. falciparum. Toda pessoa pode contrair a malária. Indivíduos que tiveram vários episódios de malária podem atingir um estado de imunidade parcial, apresentando poucos ou mesmo nenhum sintoma. Porém, uma imunidade com total proteção clínica até hoje não foi observada. Caso não seja tratado adequadamente, o indivíduo pode ser fonte de infecção por meses ou anos, de acordo com a espécie parasitária.

 

Quais os principais sintomas? E como a malária é tratada?

Gilberto Moresco: Os principais sintomas da malária são: febre alta, calafrios, tremores, sudorese e dor de cabeça, que podem ocorrer com intervalos regulares. O tratamento da malária é gratuito e fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É feito com associação de diferentes medicamentos antimaláricos, de acordo com a espécie parasitária, a idade e o peso do paciente, conforme o Guia de Tratamento da Malária no Brasil, disponibilizado pelo Ministério da Saúde.

 

Que medidas devem ser consideradas na prevenção da malária?  

Gilberto Moresco: As principais estratégias no combate à malária são o diagnóstico precoce e o tratamento correto. Algumas medidas de prevenção individual e coletiva são também importantes, principalmente quando realizadas de forma complementar às ações de diagnóstico oportuno e tratamento imediato. Essas medidas incluem uso de mosquiteiros, roupas de manga longa, telas em portas e janelas, uso de repelentes, obras de saneamento para drenagem de criadouros de mosquito, e borrifação residual intradomiciliar.

 

No seu estudo, você analisou a epidemiologia da malária no Distrito Federal. Quais foram os dados mais relevantes levantados? 

Gilberto Moresco: O objetivo principal do estudo foi analisar os aspectos epidemiológicos da malária no Distrito Federal de 2010 a 2019 e, assim, contribuir para o aperfeiçoamento da vigilância e atenção da malária no território. Nesse período, foram realizados 1.431 exames de malária no Distrito Federal, sendo 316 casos confirmados da doença. A malária por P. vivax foi a mais frequente (65,82%) e o Laboratório Central do Estado (Lacen) foi a unidade de saúde que mais notificou casos (105). Em relação à oportunidade do diagnóstico, somente 12,34% foram realizados em até 24 horas após o início dos sintomas e a letalidade da doença no Distrito Federal ficou em 2,22%, superior à observada na região Amazônica. Os sintomas da fase inicial da malária são comuns à maioria das síndromes febris agudas, o que pode confundir profissionais de saúde e retardar o diagnóstico. A demora para o diagnóstico e o início do tratamento pode ter contribuído para a letalidade observada no período estudado.

 

Gilberto Gilmar Moresco é autor da pesquisa “Aspectos Epidemiológicos da Malária no Distrito Federal, Brasil, 2010 a 2019”, apresentada como trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Saúde Coletiva da Fiocruz Brasília, com orientação do professor Claudio Maierovitch.

 

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