Durante a pandemia de Covid-19, os funcionários da Fiocruz Brasília – assim como tantos outros – precisaram trabalhar remotamente, em função da necessidade de distanciamento. Que fatores influenciaram suas escolhas alimentares nesse período? Para responder a essa pergunta, a nutricionista Mayla Angelini Vidigal Zago, no Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde da Escola de Governo Fiocruz – Brasília, conduziu uma pesquisa com coleta de dados por meio de questionário virtual. Participaram do estudo 235 pessoas, com idade média de 37 anos, a maioria mulheres (68,9%), brancas (49,8%), com renda acima de cinco salários-mínimos (65,9%) e nível superior completo (mais de 90%). Os trabalhadores da instituição responderam a questões sobre autorreflexão da imagem corporal; motivação das escolhas alimentares; e dados demográficos. Nesta entrevista da série de divulgação científica “Fala aê, mestre”, Mayla comenta os resultados da pesquisa e traz reflexões importantes para a educação nutricional, em especial nas organizações.
Os trabalhadores que participaram da pesquisa fizeram escolhas alimentares saudáveis durante a pandemia de Covid-19?
Mayla Angelini: O resultado da pesquisa trouxe que, diante do contexto pandêmico, os trabalhadores que participaram do estudo fizeram escolhas alimentares ligadas às questões de saúde como um todo, em sentido ampliado.
Quais os principais fatores que motivaram as escolhas alimentares desses trabalhadores durante a pandemia?
Mayla Angelini: De acordo com os resultados da pesquisa, os fatores sensoriais (do paladar), a saúde (sua manutenção) e o preço justo dos alimentos foram os principais fatores que motivaram os trabalhadores durante a pandemia. As dimensões sensoriais como um todo se destacam na motivação de escolha alimentar, indicando a valorização dos aspectos organolépticos (cor, textura, aroma, sabor etc.) nesse processo de decisão, assim como foi demonstrado em pesquisas em outros países.
Metade dos trabalhadores apresentava sobrepeso e, mesmo insatisfeitos, o fator ‘controle de peso’ não estava entre os mais importantes para suas escolhas alimentares. O que poderia explicar tal fato?
Mayla Angelini: As escolhas alimentares dependem de diversos fatores que envolvem o sistema alimentar pessoal (saúde, custo, sabor, relacionamentos, conveniência etc). Esse sistema sofre influências externas de acordo com eventos e experiências ao longo da vida. Portanto, diante de um cenário de estresse (pandemia e restrição de deslocamento), justifica-se a não prioridade do fator ‘controle de peso’ para as escolhas alimentares.
O acesso à informação – por trabalharem em uma instituição de saúde e pesquisa, e possuírem renda e escolaridade altas – não é suficiente para assegurar as escolhas alimentares mais adequadas? Que outros fatores influenciam essas escolhas?
Mayla Angelini: O ser humano vai além dos seus conhecimentos e controle das suas vontades. A escolha alimentar envolve a seleção de alimentos e bebidas considerando o que, como, quando, onde e com quem as pessoas comem. Essa escolha desempenha um papel importante nos aspectos simbólicos, econômicos e sociais da vida, expressando preferências, identidades e significados culturais. É importante considerar que a alimentação humana se baseia nas necessidades de ordem biológica e também nos desejos, definidos por questões de ordem social e cultural.
Com base nos resultados da sua pesquisa, quais estratégias poderiam ser adotadas para promover melhores escolhas alimentares entre os trabalhadores?
Mayla Angelini: Há uma necessidade de constante trabalho em educação nutricional nas organizações. Esse trabalho é necessário nos diversos ambientes de trabalho, não só na Fiocruz, mas em qualquer entidade com trabalhadores. Campanhas, palestras, rodas de conversa e ações de conscientização são importantes para promover melhores escolhas alimentares entre os trabalhadores.
Mayla Angelini Vidigal Zago é autora da dissertação intitulada “Implicações nas escolhas alimentares frente à pandemia por Covid-19 em trabalhadores de uma instituição pública de saúde”, defendida em 24 de fevereiro de 2023, no Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde da Escola de Governo Fiocruz – Brasília, sob orientação de Denise Oliveira e Silva e coorientação de Érica Ell.
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