A influenza (gripe) é uma infecção respiratória aguda causada por vírus que se espalham facilmente. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferta gratuitamente a vacina contra a influenza, que é a medida mais importante para evitar casos graves e mortes em decorrência da doença.
No momento acontece em todo o país a 23ª Campanha Nacional de Vacinação Contra a Influenza, em que já foram vacinados, até agora, cerca de 37 milhões de brasileiros. A campanha foi ampliada para toda a população na última segunda-feira (5/7). Se você foi vacinado contra a Covid-19, é necessário aguardar 14 dias para tomar a dose do imunizante contra a gripe. Igualmente, se você recebeu a vacina contra a influenza ou qualquer outro imunizante, é necessário aguardar, pelo menos, 14 dias para se vacinar contra a Covid-19.
Sobre o tema da influenza conversamos com o biólogo e epidemiologista Francisco José de Paula Júnior, que realizou um estudo das estimativas de incidência de hospitalizações e óbitos por influenza no Brasil. Os resultados estão na dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde da Fiocruz Brasília. Conheça um pouco do trabalho do pesquisador na entrevista da semana em nossa coluna “Fala aê, mestre”!
Como ocorre a transmissão do vírus da influenza?
Francisco José de Paula: A transmissão ocorre por meio de gotículas de pessoa a pessoa, por meio de tosse ou espirro, ou por meio do contato com objetos contaminados, quando, em seguida, se toca a boca ou o nariz. A transmissão pode ocorrer até 14 dias após o início dos sintomas, e o período de incubação é de 3 a 5 dias, tempo em que o vírus fica no organismo antes do aparecimento de sintomas. A influenza, também conhecida como gripe, normalmente acomete as pessoas e estas evoluem bem. Contudo, principalmente em pessoas com outras doenças, ela pode evoluir para o óbito. Os principais sintomas da influenza são febre, dor muscular e tosse seca, podendo se manifestar de uma forma grave.
Que medidas devem ser consideradas na prevenção e tratamento?
Francisco José de Paula: Dentre as principais medidas de prevenção estão: evitar o contato próximo com pessoas infectadas; lavar bem as mãos logo após tossir e espirrar; fazer ingestão de comidas saudáveis e bastante água; evitar frequentar locais fechados ou com muitas pessoas; não compartilhar objetos de uso pessoal; e tomar a vacina sempre que disponível. O tratamento é feito para reduzir os sintomas e ajudar o corpo na recuperação. Diante da presença de sintomas, é recomendado procurar ajuda de um profissional de saúde para que ele possa prescrever o melhor tratamento.
Quais os grupos e regiões mais afetados por hospitalizações e óbitos causados pela influenza?
Francisco José de Paula: Os grupos prioritários, ou seja, que requerem mais atenção, são os portadores de doenças crônicas (diabetes, cardiopatias, hepatopatias e imunossuprimidos), as gestantes, os idosos, as crianças e os indígenas. Normalmente, as regiões Sul e Sudeste são as mais acometidas em nosso país. Contudo, a doença é encontrada em todas as regiões, e apresenta comportamento sazonal, com aumento no número de casos durante as estações climáticas mais frias.
Quais foram os dados mais relevantes levantados sobre as hospitalizações e óbitos por influenza no Brasil no período analisado em sua pesquisa (2010-2016)?
Francisco José de Paula: No período analisado, houve no país 92.237 hospitalizações e 22.870 óbitos em média, que ocorreram, principalmente, na faixa etária acima de 65 anos e na região Sudeste.
Quais fatores poderiam explicar esses números?
Francisco José de Paula: Os números são uma estimativa e podem estar subestimados. Acreditamos que vários fatores, como a falta de tratamento precoce, a não vacinação, a não lavagem frequente das mãos e a não adoção de outras medidas de higiene pessoal, podem contribuir e muito para a elevação dos casos e, por consequência, dos óbitos.
Como a vigilância epidemiológica no Brasil responde à influenza? Quais os tratamentos disponíveis no SUS?
Francisco José de Paula: A vigilância epidemiológica atua na notificação e monitoramento de casos e óbitos, além da coleta de amostras para identificação do vírus em laboratório. Atualmente no SUS encontra-se disponível o oseltamivir, medicamento antiviral usado em casos de influenza A e B. Esse medicamento é um dos poucos prescritos por profissionais da saúde para o tratamento da influenza.
Existem dados atualizados de hospitalizações e óbitos por influenza no último ano?
Francisco José de Paula: Em 2020, foram notificados 2.567 casos e 330 óbitos por influenza, segundo informações do boletim epidemiológico especial do Ministério da Saúde. Provavelmente, devido à pandemia de Covid-19, foi mais difícil a identificação dos casos de influenza, pois todos os esforços estariam voltados à identificação do vírus SARS-CoV-2.
Francisco José de Paula Júnior é autor da dissertação “Hospitalizações e óbitos por influenza no Brasil: uma estimativa da incidência no período de 2010 a 2016”, defendida em 30 de abril de 2019, com orientação da professora Erica Tatiane da Silva.
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Fotos: Geovana Albuquerque/Agência Saúde-DF