A parada cardiorrespiratória ocorre quando o coração para de bater e o indivíduo para de respirar. Nessa situação, a ajuda médica precisa ser acionada imediatamente e, enquanto se aguarda o atendimento, a massagem cardíaca deve ser iniciada para que o coração volte a pulsar.
Sobre o assunto, Larissa Moura, egressa do Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde da Fiocruz Brasília, realizou uma pesquisa sobre o conhecimento de profissionais de enfermagem acerca da parada cardiorrespiratória. Ela fez o estudo em unidades de uma região administrativa de Atenção Básica do Distrito Federal e analisou a qualificação daqueles profissionais que atuam no primeiro atendimento nos casos de urgência e emergência no Sistema Único de Saúde (SUS). Larissa contou um pouco do resultado da pesquisa em nossa coluna de divulgação científica “Fala aê, mestre”.
Quais são as causas da parada cardiorrespiratória?
Larissa Moura: A parada cardiorrespiratória pode ser gerada por diversas causas, desde problemas cardíacos crônicos que evoluem para falência cardíaca até causas externas, como uso de algumas drogas (lícitas e ilícitas). Existe uma técnica para auxiliar no diagnóstico precoce, conhecida como os “5H e 5T”. Ela resume as principais causas de parada cardiorrespiratória: hipóxia (falta de oxigênio nos tecidos); hipovolemia (diminuição do volume sanguíneo por hemorragia ou outras condições); hipo/hipercalemia (alterações nos níveis de potássio); hipotermia (temperatura corporal abaixo de 35ºC); hidrogênio (presente em disfunção metabólica); tamponamento cardíaco (distúrbio que interfere na capacidade do coração de bombear sangue); trombose coronariana; trombose pulmonar; toxinas e tensão no tórax (geralmente ocasionada por traumas).
Qual o procedimento em casos de parada cardiorrespiratória?
Larissa Moura: O protocolo se divide em Suporte Básico de Vida (SBV) e Suporte Avançado de Vida (SAV). O primeiro consiste em medidas básicas de compressões torácicas manuais e ventilações de suporte que são realizadas com dispositivos específicos (bolsa-válvula-máscara ou máscara pocket); a respiração boca a boca foi inserida no protocolo como facultativa – e desaconselhada para profissionais de saúde e no contexto da pandemia, esses procedimentos podem ser realizados, inclusive, por pessoas leigas ou minimamente treinadas. Estudos comprovam que a compressão torácica é uma das medidas mais efetivas para reversão da parada cardíaca. O segundo inclui outras medidas, como suporte de oxigênio, medicamentos e desfibrilação (choque). Quanto mais precoce o tratamento é iniciado, bem como quanto mais rápido é o acesso aos recursos avançados, maior é a chance de sobrevida do paciente. O tempo é, então, um fator crucial para o bom prognóstico. O tratamento específico vai depender da causa da parada cardiorrespiratória, do ambiente em que ocorre (intra ou extra-hospitalar), do tipo de parada/ritmo cardíaco e dos recursos disponíveis. O protocolo, de modo geral, sempre vai passar por esses passos: reconhecimento precoce da parada cardiorrespiratória, compressões torácicas eficazes e imediatas, rápida desfibrilação (choque), acesso a serviços médicos avançados e cuidados após a parada cardiorrespiratória.
Quais os dados apurados na sua pesquisa com os profissionais de enfermagem?
Larissa Moura: Com a pesquisa, foi possível identificar que os profissionais de enfermagem da Atenção Básica, na localidade avaliada, apresentaram desempenho satisfatório na maioria dos itens que englobam o suporte básico, porém foram constatadas algumas lacunas no conhecimento acerca do SAV e do atendimento à população pediátrica. Esses dados refletem a necessidade de adoção de estratégias educativas e treinamentos constantes com os profissionais da Atenção Básica, que podem se deparar com esse tipo de atendimento – uma vez que as situações de emergência devem ser atendidas em qualquer ponto de atenção da rede de saúde. Ao todo, foram entrevistados 68 profissionais que atuam na Atenção Primária à Saúde de unidades básicas de saúde de uma região administrativa do DF.
Quais medidas de educação permanente você sugere a partir do estudo?
Larissa Moura: Acredito que o primeiro ponto é conscientizar os profissionais da Atenção Básica sobre o papel da Atenção Primária dentro da rede de atenção às urgências. Também devem ser realizados treinamentos e oficinas, com métodos eficazes, como simulação realística e aprendizagem baseada em problemas, voltados às principais fragilidades identificadas no estudo. Essas medidas devem ser realizadas regularmente, pois há evidências de que, após seis meses sem treinamento, o conhecimento adquirido retorna ao conhecimento pré-treinamento. Para que essas ações ocorram, é necessário maior investimento de recursos na área, melhorando, assim, a qualidade do atendimento prestado à população – afinal, “a vida é o porquê”.
Larissa Felix de Moura Marques é autora da dissertação “Conhecimento dos profissionais de enfermagem da Atenção Básica de uma Região Administrativa do Distrito Federal acerca da parada cardiorrespiratória”, defendida em 18 de dezembro de 2020, com orientação da professora Ieda Maria Ávila Vargas Dias.
Leia mais
“Fala aê, mestre”: confira todas as entrevistas da nossa série de divulgação científica