“Cada discente aqui fez a escolha de promover o cuidado como prática emancipadora. Depois desse Curso, o Sistema Único de Saúde (SUS) cuida melhor”. A afirmação foi feita pelo professor Nelson Filice durante a cerimônia de encerramento da primeira turma do Curso de Especialização e Livre em Cultivo Biodinâmico de Plantas Medicinais em Agroflorestas na Promoção de Territórios Saudáveis e Sustentáveis no Distrito Federal, realizada na última sexta-feira (01/04). O Curso é fruto de uma articulação da Fiocruz Brasília, por meio do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT), com a Gerência de Práticas Integrativas em Saúde da Secretaria de Saúde do DF (GERPIS/SES-DF). Coordenador do Laboratório de Práticas Alternativas, Complementares e Integrativas em Saúde da Universidade Estadual de Campinas (LAPACIS/Unicamp), Filice foi um dos professores convidados para compor o corpo docente do Curso, ofertado pela Escola de Governo Fiocruz-Brasília (EGF-Brasília).
Participaram da mesa de encerramento Jorge Machado, coordenador do PSAT, e André Fenner, coordenador do Curso. “O Sistema Único de Saúde (SUS) é um espaço de acolhimento e humanização. O Curso mostra a força que o nosso SUS tem na promoção da saúde”, destacou Machado. “A formação possibilitou a criação e o acesso a espaços saudáveis e sustentáveis, que contribuem para minimizar as desigualdades sociais, a má distribuição de renda e a falta de acesso a políticas públicas”, completou Fenner.
Para a diretora da EGF-Brasília, Luciana Sepúlveda, a realização do Curso reforça a importância do trabalho da Escola e de seus parceiros na construção de caminhos de aprendizado. “Juntos realizamos ofertas educacionais que dialogam com as realidades e necessidades dos atores dos territórios. Que possamos continuar essa cooperação com foco em um futuro de menos desigualdades e mais acesso à saúde”, afirmou.
Segundo a deputada federal Erika Kokay, autora da emenda parlamentar que financiou o Curso, ele é uma conquista do SUS e da sociedade civil, com a criação de redes de saberes nos territórios. “Quando construímos uma rede de ensino e conhecimento saudável, construímos um processo de aprendizado coletivo do cuidar”, enfatizou.
O gerente de Práticas Integrativas em Saúde da SES/DF, Cristian da Cruz Silva, destacou a missão que os egressos do Curso levam consigo. “Escolhemos fazer saúde pública pela vocação do cuidado. Continuem cuidando de todos ao seu redor”, enfatizou. De acordo com a pesquisadora da Fiocruz Pernambuco e coordenadora executiva do Observatório Nacional de Saberes e Práticas Tradicionais, Integrativas e Complementares em Saúde (ObservaPICS), Islândia Carvalho, a importância da formação consiste em todo o seu legado de aprendizados e afetos. “Nossas pautas sociais são sempre desafiadoras e nos ensinam a ver a saúde além da doença”, ressaltou.
A formação iniciou no mês de fevereiro de 2021, com 45 estudantes, sendo 33 da Especialização e 12 do Curso Livre. Entre os discentes, estavam trabalhadores da saúde, agricultores familiares e representantes da sociedade civil. Ao longo da formação, houve encontros virtuais e atividades práticas e de campo, com base nos princípios e diretrizes do SUS, abrangendo temas como promoção da saúde, ambiente e trabalho, determinantes sociais da saúde, fundamentos da agricultura biodinâmica, antroposofia, saúde pública, território saudável e sustentável, e cultivo de plantas medicinais em sistemas agroflorestais.
A professora e integrante da Comissão Político-Pedagógica (CPP) do Curso, Ximena Moreno, destacou que essa Especialização é inédita no país e permitiu unir os conhecimentos científicos e tradicionais. “Ela é um sonho de muitos e nos possibilita seguir plantando”, disse. Já o também professor e integrante da GERPIS/SES-DF, Marcos Trajano, lembrou que um dos frutos do Curso foi a implantação de quatro hortos agroflorestais biodinâmicos de plantas medicinais dentro do SUS, a serviço de seus usuários. “Que possamos humanizar nossas instituições e ocupar esses espaços”, sinalizou.
Betúlia Souto, aluna do Curso e representante da turma no ato de encerramento, revelou que, apesar da diversidade dos discentes, cada um contribuiu com um olhar diferente e, juntos, puderam ocupar os territórios e auxiliar na transformação das comunidades. Para ela, o Curso, além de todo o seu legado de aprendizado, serviu para mostrar que as instituições governamentais e as comunidades podem trabalhar em cooperação em prol do fortalecimento do SUS. “Ocupar esse lugar no SUS é uma vitória da sociedade”, afirmou.
Participaram ainda do encerramento o representante da Coordenação de Práticas Integrativas e Complementares do Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde, Daniel Cesar Cardoso; a pró-reitora de Pesquisa e Inovação do Instituto Federal de Brasília (IFB), Giovanna Megumi; o diretor-geral do IFB-Planaltina, Nilton Nélio Cometti; a professora da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (UnB), Flaviane Canavesi; o coordenador do Programa de Agricultura Urbana da Emater/DF, Rogério Vianna; e o representante da Rede Irerê de Proteção a Ciência e diretor técnico da Cooper Carajás, Vicente Almeida.
Hortos agroflorestais biodinâmicos de plantas medicinais
Como resultado dos projetos de intervenção do Curso, foram implantados quatro hortos agroflorestais biodinâmicos de plantas medicinais em diferentes Unidades de Saúde do DF. São eles: Casa de Parto de São Sebastião; Centro de Referência em Práticas Integrativas de Planaltina (Cerpis); Unidade Básica de Saúde (UBS) do Lago Norte; e Farmácia Viva do Riacho Fundo I. Os hortos são entendidos como espaços comunitários de cuidado integral e promoção da saúde, sendo também um campo de ações educativas e trocas de saberes, com grande valor pedagógico, integrando os conhecimentos científicos e populares. Funcionam ainda como espaços de integração entre os profissionais da saúde e as comunidades locais, considerando os múltiplos benefícios das plantas medicinais, desde o cultivo até o uso.
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Fotos: Sergio Velho Junior / Fiocruz Brasília