2300 participantes, 1415 apresentações de trabalhos e mais de 60 atividades, com formatos diversos ocorrendo em tendas, auditórios, salas de aulas e estandes. Esses números são um resumo do 9° Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas (CSHS) – conhecido também entre os congressistas como Abrasquinho. O evento promovido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), aconteceu entre 31 de outubro e 3 de novembro, em Recife, capital de Pernambuco. Com a proposta de debater a “Emancipação e Saúde: decolonialidade, reparação e reconstrução crítica”, o congresso foi realizado nas dependências da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz Pernambuco).
A Fiocruz Brasília marcou presença na edição do Abrasquinho 2023. Os nossos pesquisadores, docentes, bolsistas, estudantes, residentes e egressos estiveram presentes nas mesas redondas e de comunicação coordenadas. Ao todo, foram 25 trabalhos apresentados durante a semana de evento e abordaram diversas temáticas que são trabalhadas nas áreas de pesquisas e projetos, além da Escola de Governo da nossa unidade.
Os estudos trouxeram resultados de pesquisas sobre a vigilância popular em saúde; comunicação em saúde nas mídias sociais; educação popular e saúde; cuidado em saúde da população em situação de rua; promoção do cuidado na atenção primária à saúde; comunicação popular em saúde na pandemia; educomunicação; acesso de pessoas com deficiência em períodos de emergência sanitária; violência contra mulher; ambulatórios trans no SUS e prevenção do HIV; além de experiências em saúde durante a pandemia de Covid-19 e programas de promoção à saúde e prevenção de doenças em ambientes escolares.
Acesse aqui os trabalhos da Fiocruz Brasília que foram apresentados durante o Congresso.
Para a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, que esteve presente na conferência de abertura do evento e acompanhou também a apresentação de alguns trabalhos, o congresso foi um grande e importante espaço de produção científica, escuta ativa e troca de saberes entre gestores, pesquisadores, academia, trabalhadores do SUS e movimentos sociais. Ela afirmou a importância do debate que a Abrasco realiza em prol das ciências sociais e humanas em saúde. “Que esses dias de congresso possam fortalecer o nosso pacto pela diversidade, democracia, equidade e por um Sistema Único de Saúde (SUS) cada vez mais fortalecido para a construção de espaços que reforcem a necessidade de termos práticas de ciências sociais e humanas em saúde voltadas para a construção de uma vida digna para todos as pessoas nos territórios brasileiros”, ressaltou.
Conferência de abertura
Na manhã de 1º de novembro, uma plateia entusiasmada assistiu à palestra da ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, durante a conferência de abertura do 9º CSHS. Nísia é integrante da Abrasco – entidade que participa ativamente desde o início de sua trajetória como pesquisadora – e já participou e organizou muitos eventos da associação. Mas foi a primeira vez que esteve como conferencista, num espaço da Abrasco, desde que assumiu a pasta da saúde. Para ela, o momento despertou uma sensação de “pertencimento”.
O tema de sua conferência foi “A Relevância das ciências sociais e humanas na reconstrução crítica da saúde brasileira”, e ela fez uma fala baseada na experiência de quem é, ao mesmo tempo, parte da comunidade da saúde coletiva brasileira e gestora do SUS em toda sua complexidade. A ministra refletiu sobre o fato de ser reconhecida, nos espaços de saúde, como uma ministra da Saúde ‘não-médica’ – “Apesar de saber que são falas acolhedoras, prefiro não ser definida pelo negativo. Eu não sou uma ministra da Saúde não-médica, eu sou uma socióloga com atuação no campo da saúde”, pontuou no início da conferência.
Reforçou para o público que se sente “como parte de um coletivo” e como produtora de uma reconstrução que precisa desse coletivo – das Ciências Sociais e Humanas em Saúde – e de muitos outros: “Esse trabalho colaborativo ganha muito com a orientação da Abrasco, com o pensamento crítico que caracteriza a entidade, e com a liberdade de pensamento que precisa ter as representações da academia em diálogo com o governo, com os movimentos sociais, para, assim, avançar em agenda”.
Ela definiu oito desafios importantes para a saúde coletiva no Brasil: demográfico; enfrentamento às desigualdades (classe, gênero e étnico-racias); Ciência, Tecnologia e Inovação como matriz de desigualdades; ambiental; impacto das novas tecnologias de comunicação e informação; mudanças no mundo do trabalho; pesquisa em saúde e o desafio democrático.
A conferência está disponível na íntegra, na TV Abrasco. Para assisti, acesse o link da transmissão aqui.
Mesas redondas
Comunidades tradicionais e o campo da saúde do trabalhador e ambiente; emergência climática global e os impactos na saúde; e a inteligência artificial e equidade em saúde, foram os temas que a Fiocruz Brasília apresentou nas mesas redondas do 9º CSHS.
Jorge Machado, pesquisador e coordenador do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT) da Fiocruz Brasília, participou como expositor da mesa redonda “Saberes inscritos nos modos de vida de comunidades tradicionais e o campo da saúde do trabalhador e ambiente: desafios decolonial e contra colonial dos povos do Campo, Florestas e Águas”. Para o pesquisador, a Vigilância Popular em Saúde deve atender uma necessidade de conectar uma vigilância que se encontrava afastada das pessoas ao território, com participação, integrando seus campos em uma perspectiva interseccional. “A água é um objeto interseccional. É fundamental na convivência no semiárido. O acesso à água, o saneamento básico, por exemplo, dispensou as mulheres dessa função de carregar e buscar água em muitos territórios do semiárido”, frisou ao lembrar da importância de trazer essa temática para o centro do debate. Participaram também da mesa, a professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Liliane Bittencourt e a médica sanitarista, Mônica Angelim.
Já a mesa “Emergência Climática Global e os impactos na saúde das populações” contou com a mediação do pesquisador da Fiocruz Brasília, Eduardo Hage. Em sua exposição, ele apresentou dados de como os países se organizam para enfrentar as emergências de saúde públicas que estão relacionadas às questões climáticas, além das contribuições que o Brasil tem apresentado para as soluções dos impactos na saúde das populações causados por emergências climáticas. Participaram do debate o pesquisador da Fiocruz Guilherme Franco Netto e a cacique da etnia Akrãtikatêjê gavião da montanha do Pará, Kátia Silene.
O pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Bioética e Diplomacia em Saúde (Nethis) da Fiocruz Brasília Felix Rigoli foi um dos expositores da mesa que debateu a “Inteligência artificial e equidade em saúde: rumo a uma abordagem decolonial”. Ele abordou as ações sobre a temática coordenadas pelo Nethis através do Observatório de Desenvolvimento e Desigualdades em Saúde e Inteligência Artificial (Odisseia), projeto interinstitucional do Núcleo de Estudos com o Centro de Pesquisas de Direito Sanitário (Cepedisa) da Universidade de São Paulo (USP) e com o Departamento de Saúde Coletiva (DSC/FS) da Universidade de Brasília (UnB), que realiza atividades destinadas a subsidiar estratégias que ampliem o acesso e promovam a equidade no contexto da transformação digital do SUS, em interface com evolução da inteligência artificial em escala mundial. O pesquisador também apresentou os princípios do acompanhamento da transformação digital em saúde. A mesa contou ainda com a participação do pesquisador da ELA-IA (Estratégia Latino americana de Inteligência Artificial), Welligton Pinheiro e mediação do diretor de Tecnologia da Informação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), Giliate Cardoso Coelho Neto.
Lançamento de livros
Obras assinadas por pesquisadores e egressos da unidade também foram lançadas durante os dias do evento, no espaço Abrasco Livros. Na ocasião, a pesquisadora da Fiocruz Brasília Dulce Ferraz lançou o livro em quadrinhos “180º – Minhas Reviravoltas com o Câncer de Mama”, que conta as diferentes etapas da trajetória de uma mulher com o câncer de mama. Acesse aqui o e-book.
Outra publicação lançada durante o congresso, foi o “Guia de comunicação com pessoas velhas do campo para iniciantes”, assinado por Rosely Arantes, egressa do mestrado em Políticas Públicas em Saúde da Fiocruz Brasília (Turma especial Ceará). A publicação é fruto dos resultados da dissertação do mestrado da autora, confira aqui a versão online do guia.
Encerramento e premiação dos melhores trabalhos
A cerimônia de encerramento aconteceu na noite de 3 de novembro, na Concha Acústica Paulo Freire na UFPE, após o grande debate “Desafios para a reconstrução crítica do Brasil: o lugar e as contribuições das Ciências Sociais e Humanas em Saúde”. A presidente da Abrasco, Rosana Onocko, saudou os presentes e enfatizou que o evento apresentou a força e a potência da Saúde Coletiva brasileira. “O quanto, especialmente as Ciências Sociais e Humanas em Saúde têm o poder de renovação, de trazer novas ideias, questões e problemas – e como isso se ancora nas melhores tradições da área. Não vamos perder nossas raízes, mas podemos criar, inventar”, afirmou.
Na ocasião também foram anunciados os trabalhos que tiveram destaques durante o Congresso, como incentivo e reconhecimento aos pesquisadores. Nesta edição do CSHS, três pesquisas foram condecoradas com o Prêmio Cecília Minayo, uma delas foi o estudo “Ambulatórios trans do SUS: a comunicação como chave do serviço”, que é fruto do trabalho de conclusão da Especialização em Comunicação em Saúde da Escola de Governo Fiocruz-Brasília, apresentado no congresso por Juliana Michelotti. O trabalho contou com a orientação da pesquisadora da Fiocruz Brasília, Aline Guio Cavaca. Os premiados recebem um vale para consumo na Abrasco Livros.
Confira a lista dos trabalhos que receberam menção honrosa
A cerimônia de encerramento foi transmitida ao vivo, e está disponível na TV Abrasco.
Atividade do pré-congresso
A Fiocruz Brasília também marcou presença nas atividades de pré-congresso do 9° Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas. No dia 31 de outubro, a analista de gestão em saúde da unidade e pesquisadora das intersecções entre psicologia social e saúde pública, Dulce Ferraz realizou oficina que abordou formação, educação em saúde e popularização da ciência por meio do uso de história em quadrinhos (HQ) na saúde coletiva.
A oficina apresentou a experiência da construção do livro em quadrinhos “180º – Minhas Reviravoltas com o Câncer de Mama”, assinado pela psicóloga Dulce Ferraz, com ilustrações de Camilla Siren e colaboração de Fabiene Gama e Soraya Fleischer. O livro apresenta a história de uma mulher de 36 anos, casada e com duas filhas, cheia de planos profissionais e transbordando vida. A obra conta as diferentes etapas da trajetória da protagonista com o câncer de mama.
A publicação é baseada na jornada da própria autora, que registrou o dia a dia em um caderno de memórias durante o tratamento, que foi usado como base na escrita do livro. Na oficina, a pesquisadora apresentou um histórico do câncer de mama no Brasil, abordando também sobre os protocolos de prevenção e tratamentos da doença, além de falar também de como as pessoas se relacionam no cuidado em saúde.
Dulce estava acompanhada na oficina das colaboradoras do livro, as professoras Fabiene Gama (UFES) e Soraya Fleischer (UnB), que apresentaram como foi a construção da publicação, e como seu deu cada etapa da construção do livro, além da abordagem de autoetnografia, técnica que foi utilizada na construção do livro. As escritoras também trouxeram a discussão do uso de história em quadrinhos (HQ) para abordar temas da saúde coletiva.
Confira as fotos do evento no Flickr da Fiocruz Brasília e da Abrasco
*Com informações da comunicação da Abrasco
Fotos: Fernando Pinto / Fiocruz Brasília | Roan Nascimento e Kio Lima / Abrasco